A história da Alfa Romeo P33/2 que foi enterrada para fugir da guerra
A Alfa Romeo P33/2, chassi nº 750330015, mais conhecida como a “33 do Peixinho” (o piloto português Antonio Peixinho), nasceu com um motor de 2 litros na “24 horas de Daytona” em 1968. A partir do Targa Florio, recebeu um 2.5V8. Disputou o campeonato mundial da categoria com as cores da Autodelta. Posteriormente foi vendida à equipe belga VDS, em 1969, ano em que foi pilotado por Teddy Pillete. No final daquela temporada, começou a trilhar o caminho que a levou a ser uma verdadeira sobrevivente de guerra…
Naquele mesmo ano de 1969, José Carlos Pace pilotou uma 33/2 no Brasil, algumas vezes em dupla com Marivaldo Fernandes, pela equipe FNM Jolly Gancia, vencendo o campeonato brasileiro de velocidade.
Para 1970, Antonio Peixinho e a Socoina, importador da Alfa Romeo para Angola, compraram o carro, e com ela o piloto portuguêscorreu em diferentes provas durante o início dos anos 1970. Depois, ela foi adquirida pelo piloto angolano Santos Pêras.
Após a independência de Angola, num conflito que eclodiu em 1975, a “33” ficou naquele país. Com os problemas inerentes à guerra instalada, era preciso salvar a Alfa Romeo, e para isso foi colocada numa caixa de madeira e enterrada no quintal de um sítio, onde permaneceu escondida por cerca de 20 anos. Esta “camuflagem” permitiu que a 33/2 sobrevivesse à violenta guerra de Angola e que pudesse ser posteriormente recuperada.
Quando alguém comentou com o investidor francês Jean-François Chambault sobre a existência da Alfa em Angola, este iniciou uma busca pela mesma que durou alguns meses. Até que um dia a Alfa Romeo 33/2 foi finalmente encontrada, no final de 1983, ainda guardada dentro da caixa de madeira, já no interior de um galpão.
O carro regressou à Europa em 1986, mantendo-se guardada no estado em que foi encontrada até 1994, ano em que começou a ser restaurada por Giordano e Massimo Gambi, velhos conhecidos da Autodelta, concretizando assim uma “volta para casa” depois da atribulada aventura africana.
A partir de 2000 passou a ser propriedade de Franco Meiners, tendo sido preparada na França por Francis Trichet. É vista hoje, em perfeito estado (foto acima), em eventos e provas para carros clássicos. Sem dúvida, uma sobrevivente da guerra…
A Alfa Romeo T33 e Antonio Peixinho
Em 2012, o português Antonio Peixinho escreveu sobre o carro: “No que diz respeito ao Alfa 33, também existe uma outra história para contar.
Fui a Milão, na Itália, experimentar um dos carros que a Autodelta tinha para venda. Estava impecável, funcionava perfeitamente, e logo formalizei a compra, pagando a totalidade do preço pedido.
Quando o carro chegou a Angola, verificamos que não se tratava do mesmo Alfa 33 que eu tinha testado em Milão, uma vez que o habitáculo era bem menor (tinha sido feito para Nino Vacarella, que tinha baixa estatura) do que aquele que eu tinha pilotado no teste. A minha posição de pilotagem ficou extremamente desconfortável, com as pernas dobradas e o corpo torcido, e isso se refletia nos tempos por volta. Quanto ao motor -e apesar de termos ao nosso serviço um mecânico da Autodelta- o mesmo só trabalhou razoavelmente na ‘6 Horas de Nova Lisboa’ de 1970, que venci, e numa outra corrida no Lobito. O motor teve problemas em todas as outras corridas, pois falhava às 7 mil rpm, quando era programado para atingir as 9 mil rpm sem qualquer dificuldade. Quando falhava, a única forma de recuperar o seu funcionamento era desligar e voltar a ligar a ignição. Uma trabalheira e um desconforto. Além disso, o carro era pesado e difícil de conduzir. E caro. Lembro-me que uma vez tivemos que substituir as 16 velas Bosch ( 2 velas por cilindro, dupla ignição) e que a “brincadeira” nos custou o equivalente ao preço de uma Alfa Romeo de série naquela época.
Esta é a verdadeira (enfim, mais ou menos…) história da aventura da Alfa Romeo em Angola, por meio da Socoína, durante a década de 1960 e princípios de 1970″.
Antonio Peixinho
Peixinho em Novo Redondo (1971) no Alfa Romeo T33 2.5L. Atrás, Mario Araújo Cabral, com BMW 2800 CS Schnitzer.
Em primeiro plano, o pai de Antonio Peixinho. Santos Peras está atrás da Alfa 33.
Na “6 Horas de Nova Lisboa”, em 1970.
A caminho da vitória, em Nova Lisboa, 1970.
“3 Horas da Huíla” 1971. Vitória de “Nicha” Cabral em BMW Schnitzer 2800CS, com Peixinho em segundo. Os pilotos teriam combinado andar devagar durante uma hora e meia, para poupar os carros.
1972 – Testes de pista no Autódromo de Luanda com a Alfa 33.
Um lugar muito especial. A loja da Alfa Romeo, em Luanda.
“VIII Circuito da Restinga do Lobito”, 1970.
Fernando Coelho na “3 Horas Internacionais de 1973”, -Autódromo de Luanda.
CURRÍCULO DA ALFA ROMEO P33/2 CHASSI 75033015
1968
-24 Horas de Daytona(Andretti/ Bianchi), 6o. lugar
-Targa Florio (Vaccarella/ Schutz), abandonou
-1000 km de Nurburgring (Schutz/ Bianchi), 7o.
-GP de Mugello (Bianchi/ Vaccarella/ Galli), 1o.
-500 km da Austrian (Pilette), 4o.
1969
Vendida para o belga Count Rudi van der Straten’s Racing Team VDS para a temporada de 1969
-1000 km de Monza (Pilette/ Slotemaker), 8o.
-Targa Florio (Vaccarella/De Adamich), 39o
-1000 km de Nurburgring (Pilette/ Slotemaker), abandonou
-1000 km de Spa (Pilette/ Slotemaker), 6o
-24 Horas de Le Mans (Pilette/ Slotemaker), abandonou
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“VIII Circuito da Restinga do Lobito”, 1970.