De bobo o criador da Ferrari não tinha nada. Ela ajudou a tornar os carros da Ferrari mais atraentes, foi uma espécie de espiã de Enzo Ferrari na Fórmula 1 e foi amante do Comendador durante décadas. Fiamma Breschi, que faleceu esta semana, em Firenze, aos 80 anos, foi por isso uma das mulheres mais importantes do automobilismo italiano.

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Tudo começou na década de 1950, quando a então adolescente tornou-se namorada do piloto da Ferrari, Luigi Musso. O piloto romano chegou a deixar esposa e filhos para ficar com a jovem, antes de perder a vida, no GP da França de 1958.

Ao saber da notícia do falecimento de Musso, Fiamma chegou a tentar o suicídio atirando-se da janela de um hotel, mas foi impedida pela namorada de Fangio, Lulu, e pela esposa de Maurice Trintignant. Meses depois, começou a receber cartas de Enzo, que a convidou a visitar Maranello, “onde seria sempre bem-vinda”, como revelou em entrevista ao documentário “A Vida Secreta de Enzo Ferrari”.

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Na sede da Ferrari, Fiamma descobriu as verdadeiras intenções do Comendador. Primeiro, queria uma opinião feminina a respeito dos seus carros de rua, pois percebia que “as mulheres tinham inveja dos carros dos maridos”, e ela passou então a dar dicas para tornar os modelos mais atraentes para possíveis compradores e compradoras. Tanto que em 1966 ela ganhou a primeira Ferrari amarela, até então jamais produzida, uma 275 GTB 4.

Com o passar do tempo, Fiamma passou também a ser figura importante nas corridas, onde era uma espécie de espiã de Enzo Ferrari dentro da equipe de Fórmula 1. “Tinha de saber o que estava acontecendo. Depois regressava a Maranello, para transmitir as minhas opiniões pessoalmente”.

Não demorou muito para Enzo passar a cortejá-la. O italiano, que já tinha a esposa Laura, e a amante Lina, com quem tinha um filho –Piero, que até a morte de Laura não podia utilizar o sobrenome Ferrari, mas que atualmente é o herdeiro da empresa– dizia a Fiamma que ela era “a mulher mais importante da sua vida”.

Foram anos de muitas cartas e juras de amor até a morte de Enzo, em 1988. Até morrer, Fiamma guardava, junto do capacete amarelo de Musso, todas as lembranças do Comendador.

“Ele era presença constante na fábrica”, lembrava a agora senhora italiana. “Estava presente aos sábados e domingos e até em datas festivas, como na Páscoa ou no Natal. Ele nunca traía o seus carros. Outras coisas, talvez sim”.