BX 4TC: o carro que a Citroën precisou comprar de volta…
O Citroën BX 4TC divide opiniões: é considerado ao mesmo tempo um dos piores e dos mais espetaculares carros de rali de todos os tempos. Conhece a sua história, veja as suas imagens e descubra o porquê.
Tudo começa com o Citroën World Rally Team. Fundada em 1998, a equipe francesa da Citroën é ainda hoje uma das mais respeitadas do Mundial de Ralis. O seu currículo explica: até 2012, foram nove títulos mundiais de pilotos, oito títulos mundiais de marcas e 98 vitórias. Isto apenas no World Rally Championship.
Mas antes da criação do Citroën World Rally Team, a marca francesa já tinha tentado a sorte no Mundial de Ralis, sem qualquer sucesso ou glória. Esta matéria é sobre essa luta, que teve no Citroën BX 4TC a sua principal dificuldade.
Ainda que apenas dois anos depois, os Grupo A (onde corriam Lancia Delta HF Integral 16V, Celica GT-Four, Ford Sierra RS Cosworth e outros) fossem incomparavelmente mais rápidos que os Grupo B, a verdade é que, quando se pensa em passado, são os carros Grupo B que continuam a preencher imaginário dos fãs da categoria, infelizmente pouco divulgada no Brasil.
Quando o assunto é carros de rali realmente viscerais, potentes, temíveis, indomáveis, radicais —e outros adjetivos— os nomes que de imediato surgem são: Audi Quattro, Lancia Delta S4, Peugeot 205 T16 e Ford RS200.
É no meio deste grupo de “monstros” que surge o Citroën BX 4TC Evolution. Corria o fatídico ano de 1986, um dos mais negros da história do Mundial de Ralis, com muitos acidentes e mortes.
Foi no auge de desenvolvimento dos carros do Grupo B que a Citroën se juntou ao Mundial de Rali. À semelhança da Audi, também a Citroën decidiu optar por um modelo com motor dianteiro, numa altura em que os carros de Grupo B de motor central começavam a dar sinais de domínio. O próximo passo seria fazer carros para o Grupo S, mas as mortes de Henri Toivonen e do seu co-piloto Sergio Cresto, da Lancia, colocaram um ponto final nesta categoria.
Como se pode imaginar, na época esta configuração obrigava à colocação do motor numa posição muito avançada em relação ao eixo dianteiro, para que fosse possível acomodar o sistema de tração integral. Esta distribuição de pesos se revelou fatal para o Citroën BX 4TC Evolution…
Como se não bastasse, o Citroën BX 4TC Evolution também era pesado e pouco potente. O modelo francês usava motor Simca-Chrysler 2.4 de 8 válvulas, capaz de produzir pouco mais de 380 cv de potência. Números que ficavam muito aquém da concorrência. O peso também era elevado, e estava muito acima do limite mínimo imposto pelos regulamentos do Grupo B.
Resumindo, o Citroën BX 4TC Evolution tinha um chassi e suspensões desequilibrados e pesados, e um motor pouco potente e antiquado. Talvez por isso o Citroën BX 4TC Evolution apenas tenha alinhado nos ralis de Monte Carlo, Suécia e Acrópole.
Destes, o melhor resultado foi o sexto lugar no Rali da Suécia, com Jean-Claude Andruet ao volante.
Humilhada nas pistas, a marca francesa pouco ou nada podia fazer diante de um projeto tão mal nascido. Felizmente para a Citroën, o Grupo B foi extinto para a temporada de 1987 e o BX 4TC Evolution foi rapidamente esquecido. Ou quase.
Na época, as marcas eram obrigadas a produzir um mínimo de 200 carros para que pudessem homologar os seus modelos para o Mundial de Rali. O Citroën BX 4TC não foi excepção.
Em termos estéticos, o seu aspecto exuberante sugeria desempenho avassalador. Não era o caso, apesar do visual agressivo; debaixo do capô estava o mesmo motor Simca-Chrysler 2.4 litros de 8 válvulas, mas agora com apenas 200 cv de potência e 29 mkgf de torque máximos.
Ainda assim, os números não envergonhavam ninguém naqueles tempos: 7,1 segundos de zero a 100 km/h e 220 km/h de velocidade máxima.
Das 200 unidades que viram a luz do dia em 1988, menos de 100 foram vendidas. Agora vem a parte mais interessante: a Citroën decidiu cancelar o projeto e tentar readquirir as unidades vendidas, pagando por elas o dobro do preço.
A maioria dos Citroën BX 4TC foram destruídos, mas acredita-se que ainda existam cerca de 40 unidades nas mãos de particulares. Ou seja, hoje valem uma pequena fortuna.
No que diz respeito a AUTO&TÉCNICA, achamos o Citroën BX 4TC um modelo apaixonante. O tempo fez bem a ele. É a testemunha de um tempo em que ainda havia romantismo e inocência no automobilismo, e foi dessa inocência nasceu o BX 4TC.
Pode não ser (e certamente não é certamente) o carro mais memorável da sua época, mas é sem dúvida memorável à sua maneira, mesmo esquecido e desprezado pela marca francesa.