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Chevrolet: a história dos Corvette dos astronautas

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Os Chevrolet Corvette sempre foram carros para serem admirados, em geral frequentando a garagem e sendo dirigidos por pessoas que estão em uma determinada boa posição na vida. Normalmente, o exigente proprietário de um Corvette é alguém que aprecia desempenho, visual e esportividade, com uma boa dose de sex appeal, quase sempre em uma posição social que deixa claro que tem o dinheiro necessário para ter um Corvette. Isso significa que a maioria dos Corvette não é dirigida por crianças na adolescência, ou mesmo por muitas pessoas ainda na faixa dos 20 anos. Os Corvette estão na vida de pessoas de sucesso. Gente que assumiram riscos e venceu. Gente que fez acontecer.

                  Shepard, primeiro americano no espaço, recebe o seu Corvette, presenteado pela General Motors.

Com tudo isso explicado, não deveria ser surpresa para ninguém que o carro escolhido pelos astronautas na década de 1960 fosse, é claro, o Corvette. Os primeiros astronautas norte-americanos eram homens que estavam à frente em tudo, e aos do público eram símbolos de bravura, jovens e verdadeiros heróis. Sim os astronautas -em geral recrutados na Força Aérea- eram vistos como heróis. E o eram, se observarmos hoke a precariedade das naves e foguetes que pilotaram.

Os astronautas eram vencedores. Eles eram mais venerados do que estrelas do rock nos Estados Unidos (com exceção, claro, de Elvis Presley) pelo menos por um tempo, e a General Motors com toda esperteza e cuidou de garantir que o mundo os visse dirigindo o carro mais rápido, mais legal e mais desejado do mundo, o Corvette. A história dos astronautas e do Corvette é de importância histórica, mas para realmente entendermos isso, é preciso “começar do começo”, primeiro com uma pequena aulinha de história.

Buzz Aldrin, da Apollo 11, chegando para mais um dia de “trabalho”.

Os primórdios do programa espacial dos Estados Unidos surgiu a partir do final da Segunda Guerra Mundial, e o enorme salto à frente na tecnologia que ocorreu ao longo de apenas alguns poucos anos. Os foguetes/mísseis deixaram de ser novidade e se tornaram armas sérias e, pela primeira vez na história, a ideia de enviar uma pessoa para além dos limites deste mundo tornou-se não apenas possível, mas inevitável. 

A Guerra Fria estava começando a esquentar com a União Soviética, e tanto o Oriente como o Ocidente estavam indo muito longe para provar que poderiam chegar primeiro ao espaço. Foi mais do que uma mera competição do tipo “minha capacidade é maior que a sua”, já que era provável que quem conseguisse chegar primeiro ao espaço teria o controle dos mísseis que poderiam ser lançados do espaço. Em outras palavras, chegar ao espaço, e obter o domínio era algo urgente e de interesse nacional para os americanos. E assim a figura do astronauta deixou os contos de ficção científica e se tornou realidade!

O “Mercury Seven” (ou “Original Seven”): os primeiros sete astronautas americanos.

Durante a década de 1950, a NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço) estava sendo formada a partir de sua encarnação anterior, o NACA (Comitê Consultivo Nacional para Aeronáutica). Sua missão era levar homens ao espaço. O programa que levaria um cidadão americano para o espaço pela primeira vez seria chamado de Mercury.

A missão Mercury consistia em um foguete tripulado, e sete homens foram escolhidos para serem os primeiros astronautas. Esses homens foram chamados de “Mercury 7”, e seus nomes se tornaram familiares quase que da noite para o dia. Os homens que foram escolhidos para a missão Mercury deveriam ser experientes pilotos de teste de aviões! Quase todos eles eram ex-pilotos de caça, também.

Devido ao pequeno espaço dentro da nave espacial Mercury, os candidatos não poderiam ter mais do que 1, 80 m de altura ou pesar mais de 82 kg. Outros requisitos incluíam idade inferior a 40 anos, um diploma universitário ou equivalente, 1.500 horas de vôo, e qualificação para voar em jatos.

Após divulgar isso entre os pilotos de testes militares, foram atraídos mais de 500 candidatos. A Nasa procurou registros militares em janeiro de 1959 e identificou 110 pilotos e cinco fuzileiros navais, 47 da Marinha e 58 da Força Aérea, e 69 se classificaram. para a seleção final. Definitivamente, não eram omens comuns.

Assim, a primeira geração de astronautas teve muitas coisas em comum, já que todos eram corajosos, habilidosos, assumiam riscos absurdos e eram pilotos de testes da força Aérea. Eles ganharam espaço (sem trocadilho) no imaginário norte-americano e nos corações de uma nação. Foi quando os nomes de Alan Shepard, Gus Grissom e John Glenn ficaram gravados na história da humanidade. Depois destes sete primeiros heróis, outros quatro grupos de astronautas foram formados, para as demais missões Mercury, Gemini e Apollo. E agora, depois de toda essa informação, é hora de o Corvette entrar em cena.

Embora muitos dos veículos pessoais dos astronautas tenham desaparecido há muito tempo, a maioria deles usou Corvette, próprios ou “emprestados”. Shepard, que morreu de leucemia em 1998, teve pelo menos 10 Corvette durante a sua vida, e trouxe o seu 1957 com ele para a Florida quando ele entrou para o programa de formação de astronautas da NASA. O seu entusiasmo pelo carro cresceu entre o grupo muito unido de astronautas.

“Todos os astronautas eram pilotos de testes naquela época”, explicou John TR Dillon III, engenheiro de segurança do Kennedy Space Center e membro do “Cape Kennedy Corvette Club. “Eles voavam em aeronaves de alto desempenho e se voltaram para carros também de desempenho, que exigiam cuidados com a dirigibilidade, aceleração, frenagem e assim por diante”.
 

A GM viu uma oportunidade de marketing com a fama dos astronautas. O presidente da GM na época, Ed Cole, deu de presente a Alan Shepard, o primeiro americano no espaço, um Corvette 1962 por seu serviço ao país, embora fosse prática da GM doar carros, mas esse caso merecia. Segundo Dollie Cole, a viúva de Ed Cole, o presente fazia todo o sentido, apesar da tendência normal da GM evitar coisas desse tipo. “Os astronautas tinham incrível visibilidade”, lembrou em uma entrevista há anos. “E boa publicidade é boa publicidade”.

Além de Shepard, nenhum astronauta ganhou um Corvette da GM, e por um motivo simples que não teve nada a ver com um possível “pão-durismo” da GM. A razão é que, simplesmente, os astronautas não podiam receber presentes ou fazer publicidade. Para contornar isso, eles podiam “alugar” seus Corvette por preços simbólicos, e assim o programa de US$1 de aluguel por ano para os astronautas nasceu. 

Segundo consta, isso foi feito inicialmente via concessionária Rathmann Chevrolet – Cadillac, em Melbourne, na Florida. Pelo custo de US$ 1/ano, os astronautas podiam alugar qualquer carro de sua escolha, e a maioria -óbvio- escolheu o Corvette. Na verdade, eles foram autorizados a alugar dois veículos, por isso geralmente escolhiam um carro familiar e um Corvette. Não se sabe exatamente quando o programa começou para valer, mas foi em algum lugar no início dos anos 1960. O programa terminou em 1971, quando o desembarque de astronautas na Lua chegou ao fim.

Embora devamos dar crédito a Shepard por ser o primeiro astronauta que se sabe a ser dono de um Corvette, Jim Rathmann, ex-piloto da Indy 500 e revendedor da GM, merece crédito por ter viabilizado aos astronautas usarem os Corvette.

Corvette 1967 de Gus Grissom: originalmente ele era azul, mas foi pintado de vermelho pelo atual proprietário.

 

Descobriu-se assim que o Corvette era o carro perfeito para os heróis espaciais, associando a eles velocidade, perigo e competição. Gus Grissom, o segundo americano no espaço, era apaixonado pelo seu Corvette, e na proporção contrária odiava perder corridas de resistência física (ou rachas) para seus colegas astronautas. Em 1966, ele Alan Shepard, o primeiro americano no espaço, receberam o novo Corvette Roadster 1967, com motor 427 e 435 cv de potência, idênticos.

Grissom, para não perder nenhuma corrida para Shepard, pediu a Jim Rathmann, proprietário da concessionária que fazia a transação dos carros para os astronautas, para ajudá-lo com seu novo Corvette. Rathmann atendeu e, rapidamente, modificou os para-lamas traseiros para acomodar pneus maiores e mais largos, e trocou o diferencial original por um de relação 4:56, mais curto. Grissom venceu quase todas as corridas contra o Shepard, e provavelmente o derrotado Shepard nunca soube das modificações!

Apenas alguns meses depois de adquirir seu Corvette de 1967, Grissom, junto com seus colegas astronautas Roger Chaffee e Edward White, morreu no incêndio da Apollo 1, durante um teste na plataforma de lançamento em Cabo Kennedy, no dia 27 de janeiro de 1967. Cerca de um ano após sua morte, a esposa devolveu o Corvette à concessionária de Rathmann, e toda a história ficou conhecida  em 2007 , quando o carro foi a leilão, comprado por US$ 275 mil após intensa disputa. Hoje faz parte de uma coleção de carros do Arizona.

 

Um pequeno passo para o homem… e um Corvette branco para Neil Armstrong.

Parecia que todos os astronautas tinham um Corvette em algum momento da sua história. Neil Armstrong, o primeiro homem na Lua, tinha um Corvette. Jim Lovell, o comandante da missão Apollo 13, tinha um Corvette. Mas talvez o maior interesse da relação Astronauta/Corvette seja o da tripulação da Apollo 12, porque eles adquiriram Corvette exaamente iguais! A Apollo 12, segunda missão à Lua, foi lançada em 14 de novembro de 1969 e seus membros eram o Pete Conrad (comandante da missão), A Bean (piloto do Módulo Lunar) e Dick Gordon (piloto do Módulo de Comando). Os três eram muito unidos e continuaram amigos mesmo depois de seus dias na NASA.

 

A ideia de receber os carros exatamente iguais foi da própria tripulação da Apollo 12, e não se repetiu com nenhuma outra equipe do Projeto Apollo, apesar do fato de que era comum astronautas dirigindo um Corvette. Al Bean lembrou dessa história. “Nós gostamos da ideia. Era uma maneira de ser uma equipe e construir o espírito de equipe. Nós todos conversamos sobre isso, e as primeiras idéias não funcionaram. Depois chegamos a um consenso”. Os Corvettes que os astronautas da Apollo 12 escolheram eram um trio de cupês idênticos, 1969, pintados de Riverside Gold. Cada um deles foi equipado com o motor 427 de 390 cv, apoios de cabeça (opcional RPO A82), ar condicionado de quatro estações (RPO C60), calotas especiais (RPO PO2) e rádio AM/FM (RPO U69).

 

Os astronautas da Apollo 12 e seus Corvette. Da esquerda para a direita, Pete Conrad, Dick Gordon e Al Bean. 

Embora a tripulação da Apollo 12 tenha tido grande ligação com seus Corvette, eles eram apenas carros alugados e, ao final de seu contrato, todos os três foram devolvidos. Os colecionadores começaram a ver ali uma oportunidade, e foi assim que Danny Reed, de Austin, Texas, se deu bem. Ele sabia da existência dos Corvette da tripulação da Apollo 12 por causa da foto da revista Life, e sabia ainda do programa especial de aluguel. 

Ele encontrou um dos Corvette no pátio de uma concessionária Chevrolet em Austin, onde ele havia sido entregue, e ele sabia bem o que era aquele carro. Danny lembra que: “tinha interesse no programa espacial. É uma grande parte da história, assim como Corvette. Eu queria preservá-lo”. O Corvette estava em boas condições, mas infelizmente não estava à venda. A concessionária demorou algum tempo para decidir o que fazer com ele, tempo suficiente para que os pneus ficassem vazios. A concessionária finalmente decidiu vender o carro sob um sistema de licitação fechado. Reed recebeu a chamada vencedora quando o dono do lance vencedor não conseguiu o dinheiro para ficar com o carro!

O Corvette originalmente dirigido pelo astronauta Al Bean, agora propriedade de Danny Reed.

Reed inicialmente usou o carro com moderação, com planos para as ruas durante o 50º aniversário das missões Apollo, mas os planos mudaram nos anos 1990, e ele restaurou o Covette, deixando-o impecável, como no dia em que saiu da fábrica. Ganhou vários e merecidos prêmios. Quando Al Bean reencontrou o Corvette novamente na exposição “Need for Speed”, no Johnson Space Center, ficou muito impressionado com sua condição: “é realmente muito bom. Parece melhor do que quando era meu. É um carro lindo”.

As iniciais LMP indicam “Lunar Module Pilot”, posição de Al Bean durante a missão Apollo 12.

Hoje, o programa de voos espaciais tripulados dos Estados Unidos está passando por grandes mudanças, e muita incerteza está no ar com o fim do programa dos ônibus espaciais, voltar à Lua está bem mais fácio, por conta das novas tecnologias, mas Marte parece ser o próximo alvo. Os astronautas de hoje têm tanta coragem quanto os heróis dos anos 1960, e embora não tenhamos a menor ideia do tipo de carro que a maioria dos astronautas dirige hoje, esperamos que seja um rápido esportivo de dois lugares da Chevrolet. 

Para encerrar, vale a pena lembrar que só um dos sete astronautas originais não dirigia um Corvette. John Glenn decidiu comprar uma wagon porque tinha família numerosa. Acreditamos que, por isso, Glenn também era sempre o “motorista designado” quando os astronautas conseguiam uma folguinha e saiam para tomar uma cerveja… .

O esquema da pintura preta representa um par de asas.

 

 

A edição de 1962 da revista “Corvette News” mostrava Alan Shepard com um Corvette cupê branco 1962 com interior personalizado. Esta foto foi feita no Centro de Design da GM em Warren, Michigan.

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 

 

 

 

 


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