Como uma das Mercedes 770K de Hitler foi parar em Nova Iorque
O cais do porto número 97, do lado oeste de Manhattan, ficou lotado de jornalistas e curiosos, naquela segunda-feira, dia 28 de junho de 1948, para ver chegar o M.S.Stockholm. Com capacidade de 385 passageiros e 160 metros de comprimento, este não era o maior navio da época, pois era ultrapassado pelos Nieuw Amsterdam e Queen Mary. Mas o que aquela gente toda estava esperando não era o barco em si, mas sim de uma carga específica que ele transportava.
Essa carga era um Mercedes-Benz 770K Model W150 Offener Tourenwagen 1941, com seis metros de comprimento e quatro toneladas e meia de peso, com vários cromados e pintado numa cor azul tão escura que parecia preto. O motor que equipava este “monstro” era o M150, oito cilindros em linha de 7655 cm3. Aquele era um dos carros de Adolf Hitler, uma limusine aberta blindada, capaz de resistir a explosões de minas e com 13 compartimentos secretos para alojar armas.
Este foi o exemplar que Hitler ofereceu de presente a Carl Gustaf Mannerheim, da Finlândia, por ser seu aliado, passando a maior parte do tempo guardado numa garagem.
Foi a primeira vez que o cidadão Christopher Janus viu o exuberante carro ao vivo. Ele e toda a multidão presente. Não seria de estranhar esse fato se não fosse Janus o dono do Mercedes-Benz. Este automóvel chegou às suas mãos por acaso, pois umas semanas antes vendeu uma carga de rolamentos para a Suécia, no entanto, o comprador não teve possibilidades de pagar e, assim, foi feita a troca com o Mercedes-Benz.
Este 770K estava cheio de segredos. Um mecânico demorou quatro horas para o conseguir fazer o motor funcionar. Mas apesar de Janus dizer que este era o automóvel de Hitler, o fato é que poucas vezes o Fuhrer o utilizou.
A ideia de Janus seria utilizar o Mercedes-Benz para ações de caridade e assim reaver o dinheiro que perdeu na venda dos rolamentos, no valor de US$ 27 mil, cerca de US$ 280 mil hoje em dia. Christopher Janus era filho de imigrantes gregos, começando a trabalhar como repórter e publicitário. Foi rejeitado da marinha devido aos seus problemas de visão. Começou a trabalhar para o governo americano e, com as suas ideias visionárias, foi subindo na carreira.
Utilizando as suas ideias, começou a traçar o destino do Mercedes-Benz, para conseguir angariar dinheiro e assim abater à divida do comprador sueco e canalizar parte desse fundo para causas sociais.
No dia seguinte, Janus convidou três jornalistas do jornal “The New Yorker” para o acompanharem num passeio com o carro em torno do Central Park. Logo nesse dia recebeu várias propostas para a venda do automóvel, até de um circo, tendo rejeitado todas elas. O Rockefeller Center então convidou Janus a deixar o Mercedes-Benz em exposição no Museu da Ciência e da Indústria, algo que ele prontamente aceitou.
Foi utilizada uma grua para levar o 770K para o segundo piso do RCA Building, através de uma janela. Foram muitos os nova-iorquinos que foram ver de perto o automóvel, pagando 30 centavos para entrar. Mesmo Spyros Skouras, presidente da 20th Century Fox na época, estava incrédulo com a adesão do público, pois nunca imaginaria que as pessoas quisessem ver um automóvel que pertenceu a Hitler.
Nos 30 dias que o 770K esteve em exposição, cerca de 100 mil pessoas entraram no edifício para o ver. O objetivo de Janus foi alcançado, arrecadando cerca de US$ 1 milhão, US$ 10 milhões de dólares atualmente.
O carro mudou de mãos várias vezes (pelo menos nove proprietários) e, em 2018 foi levado a leilão, não atingindo o preço reserva de US$ 10 milhões (o melhor lance foi de US$ 7 milhões). Não se sabe onde está guardado hoje.