Conheça a única mulher que venceu com um carro de Fórmula 1
Desiré Wilson fez história, em 1980, com vitória em Brands Hatch, pelo campeonato britânico de Fórmula 1; a sul-africana também se destacou em provas de Endurance. Foi a única mulher até hoje a vencer uma corrida ao volante de um carro de Fórmula 1.
por Homero Gottardello, especial para AUTO&TÉCNICA .

Se o automobilismo já é um esporte machista, imagine a Fórmula 1! Desde 1950, ano de estreia da categoria máxima, até hoje, apenas cinco mulheres participaram efetivamente do circo, mas o que quase ninguém sabe é que uma sul-africana, Desiré Wilson, chegou a vencer uma etapa da versão britânica da F-1, a British Aurora.
Na sua primeira temporada na F-1 Britânica, em 1978, Desiré conquistou um pódio, cruzando a linha de chega na terceira posição, em Thruxton. Apesar de ter participado de apenas cinco das 12 etapas daquele ano, ela fez bonito diante de nomes como Elio De Angelis, que teve uma carreira reconhecidíssima na Fórmula 1 mundial, entre 1979 e 1986, ganhando duas corridas na categoria máxima.
Endurance e Indy
“Meu pai corria de motocicleta e chegou a ser campeão sul-africano. Quando eu tinha apenas cinco anos, ele me deu meu primeiro carro de corrida”, relembra Desiré em seu livro de memórias, “Driven By Desire” (sem tradução, no Brasil), lançado em 2011. “Eu era uma mulher no meio de homens e, apesar de receber uma atenção especial dos outros competidores, ninguém queria perder para mim. Também tive muita dificuldade para convencer os patrocinadores”, pontua a ex-piloto. “Meus carros favoritos são aqueles com que venci. O Wolf WR4, com que ganhei o Grande Prêmio de Brands Hatch, é, sem dúvida, o modelo que mais me marcou. Era um carro muito rápido, com que Jody Scheckter tinha vencido três provas da temporada de 1977 da F-1, terminando aquele ano como vice-campeão”.

A vitória em Brands Hatch, em 7 de abril de 1980, pela Fórmula 1 britânica, credenciou Desiré Wilson para disputar o GP da Inglaterra da categoria máxima, em julho daquele mesmo ano. Infelizmente, ela não conseguiu repetir o bom desempenho de quatro meses antes, com um Williams FW07, correndo por uma equipe satélite. A prova foi vencida pelo australiano Alan Jones com o FW07B da equipe oficial, uma evolução do carro usado por Desiré; o brasileiro Nelson Piquet chegou em segundo, com seu Brabham BT49.
Mas aquele foi o ano da sul-africana e, se a passagem pela F-1 foi frustrante, o mesmo não se pode dizer de seu desempenho no Mundial de Endurance (Esporte-Protótipo), antecessor do WEC atual. Ao lado do francês Alain de Cadenet, um dos mais renomados pilotos de provas de longa duração das décadas de 1970 e 1980, Desiré venceu a “1.000 Km de Monza” e a “6 Horas de Silverstone” a bordo de um Lola LM especialmente preparado pelo próprio Cadenet, batendo nomes como Henri Pescarolo, Riccardo Patrese, Eddie Cheever, Vittorio Brambilla e Michelle Alboreto, todos com passagens expressivas pela Fórmula 1.
Em 1983 e 1986, a sul-africana disputou 11 etapas da IndyCar (Fórmula Indy), sem obter resultados relevantes. O grande sonho de correr a “500 Milhas de Indianapolis” não foi realizado, já que Desiré não conseguiu passar da pré-qualificação na edição de 1983; naquele ano, outros 19 pilotos não conseguiram uma vaga no grid da maior prova do automobilismo mundial. Na mesma temporada, ela chegou a liderar a “500 Milhas de Pocono”, mas rodou sozinha quando estava na ponta e abandonou a corrida. Seu melhor resultado, nos Estados Unidos, foi um décimo lugar em Cleveland.
A ex-piloto completa 64 anos, no final deste mês de novembro, e segue acelerando. “Hoje, participo de muitos eventos de antigomobilismo, principalmente nos Estados Unidos e em Goodwood – onde acontece o ‘Festival of Speed’ anual. Tive muitas alegrias e até mesmo um grave acidente, em Mônaco, que poderia ter me custado a vida. Acho que fui uma corredora bastante rápida e, além de qualquer coisa, sou, sim, a única mulher a vencer a bordo de um Fórmula 1. E acho que este é um título que devo manter ainda por muito tempo”, sustenta Desiré.
Seu estilo arrojado, com derrapagens controladas, e sua técnica refinada fazem desta pouco conhecida sul-africana uma das esportistas mais destacadas de nosso tempo.