Coronavírus: indústria automotiva pode ser a principal vítima
O futuro a curto prazo das fabricantes de automóveis pode ser negro. Quem afirma isso é Bernat Figueras, consultor da Strategy&, numa matéria publicada na imprensa espanhola. O especialista detalha a forma como a próxima recessão deverá afetar diferentes setores e empresas.
Segundo Figueras, o mais semelhante que os mercados já enfrentaram foi a epidemia de SARS, em 2003. No entanto, como a propagação foi relativamente limitada, não se poderá comparar ao que acontece neste momento.
No caso da SARS, registraram-se 8.000 casos em nível mundial. O Covid-19, por sua vez, soma já mais de 400.000 casos de pessoas infectadas em mais de 100 países.
No entanto, embora de dimensão mais reduzida, o surto de SARS roubou 1% do PIB da China e 2,5% do PIB de Hong Kong, entre outros. Olhando para o futuro, as consequências da pandemia de Covid-19 deverão ser ainda mais severas. Só no último mês, já se verificaram quedas acumuladas entre 30 e 40% nas principais bolsas do mundo.
A maioria dos especialistas, explica Figueras, aponta para uma crise transitória, de apenas algumas semanas ou meses. Mas a recuperação econômica das empresas poderá ser mais longa, uma vez que sentirão dificuldades em regressar ao ritmo em que estavam antes da pandemia. Tudo dependerá da eficácia das medidas de prevenção e da resposta econômica que os vários países já estão estudando.
Na Espanha, por exemplo, onde o número de infectados ronda os 40 mil, os setores mais afetados deverão ser aqueles que estão ligados direta ou indiretamente ao Turismo e Consumo. O mesmo é esperado que aconteça nos demais mercados, especialmente os ocidentais.
“A intensidade da queda do PIB dependerá, em boa parte, da duração da fase aguda da pandemia: se a campanha turística de verão se desenvolver com relativa normalidade, e o consumo e o investimento se sustentarem firmes, as perspectivas melhoram significativamente”, destaca Figueras.
Já em nível mundial, o setor automotivo deverá ser o mais afetado. De acordo com uma análise da Strategy& com base em dados da Bloomberg, esta indústria apresenta os dois principais riscos: por um lado, verifica-se uma previsão de forte queda na procura por parte dos consumidores; por outro, deverá haver interrupção da disponibilidade de matérias-primas.
Ao mesmo tempo, surge o setor da distribuição e vendas (não alimentar), que deverá enfrentar situação semelhante (queda na demanda e limitações por parte dos fornecedores). O turismo e transportes também deverão sofrer com a pandemia, embora neste caso o problema do lado da procura. As restrições atuais (proibição de festas e viagens, por exemplo) deverão continuar por algum tempo. E isso é necessário.
Por outro lado, os setores empresariais que deverão ser menos expostos serão o imobiliário e o das telecomunicações, especialmente porque se mostram mais protegidos do que os restantes em relação a uma possível limitação de matérias-primas. Também a procura não deverá descer tanto.
(texto originalmente publicado na Executive Digest)