De Chico Alves a Cristiano Araújo, as tragédias da música brasileira
O acidente que vitimou o cantor sertanejo Cristiano Araújo (no alto, em foto com sua namorada) comoveu os seus fãs. O capotamento com o Range Rover matou ele e sua namorada, provavelmente por não estarem usando os contos de segurança. Isso trouxe de volta a lembrança de momentos tristes de nossa música, onde vários artistas de muito prestígio perderam a vida em acidentes de trânsito.
Confira algumas dessas tragédias.
Evaldo Braga (Campos, RJ, 26/05/1945 – Três Rios, RJ, 31/01/1973).
Evaldo Braga era conhecido como o “Ídolo Negro”. Seu maior sucesso foi a música “Sorria, Sorria”, que pôde ser ouvida há alguns anos, no anúncio de lançamento do Renault Duster.
Trabalhou por muito tempo como engraxate e lavador de carros de artistas de rádios e gravadoras. Com esta ocupação, conheceu diversos cantores, entre os quais Nilton César, que lhe ofereceu a primeira chance de emprego no meio artístico, atuando como seu divulgador. Com isso, conheceu Edson Wander e apareceu pela primeira vez no ramo musical, compondo “Areia no meu caminho”. A música foi gravada pelo cantor Edson Wander em seu primeiro disco, “Canto ao Canto de Edson Wander”, em 1968, e estourou nas paradas brasileiras, chegando a superar artistas já famosos, como Roberto Carlos e Ronnie Von.
Em seguida, conheceu o produtor e compositor Osmar Navarro, que o convidou para gravar um disco na gravadora Polydor. Posteriormente teve músicas gravadas por Paulo Sérgio, um dos artistas que o ajudaram na carreira musical.
Seus maiores sucessos foram “Eu não sou lixo”, “Nunca mais”, “A cruz que carrego”, “Mentira”, “Sorria, Sorria”, “Meu Deus”, “Eu desta vez vou te esquecer” e “Tudo fizeram pra me derrotar”, entre outros.
Evaldo Braga morreu em um acidente automobilístico na BR-3 (Rio – Juiz de Fora), atual BR-040, com apenas 27 anos de idade. A tragédia aconteceu quando o seu motorista tentou fazer uma ultrapassagem perigosa, e o Volkswagen TL do cantor foi atingido em cheio por um caminhão que vinha no sentido contrário.
Gonzaguinha, ou Luiz Gonzaga do Nascimento Junior (Rio de Janeiro, RJ, 22/09/1945 – Renascença, PR, 29/04/1991).
Gonzaguinha era filho do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga e de Odaleia Guedes dos Santos, cantora do “Dancing Brasil”. Compôs a primeira canção “Lembranças da primavera” aos 14 anos, e em 1961, com 16 anos foi morar em Cocotá com o pai para estudar. Voltou para o Rio de Janeiro para cursar Economia, pela Universidade Cândido Mendes. Na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carrero, conheceu e se tornou amigo de Ivan Lins. Conheceu também a primeira mulher, Ângela, com quem teve dois filhos: Daniel e Fernanda. Teve depois uma filha com a atriz Sandra Pêra, a atriz e cantora Amora Pêra.
Foi nessa convivência que fundou o Movimento Artístico Universitário (MAU), com Aldir Blanc, Ivan Lins, Márcio Proença, Paulo Emílio e César Costa Filho. Tal movimento teve importante papel na música popular do Brasil nos anos 1970, e em 1971 resultou no programa na TV Globo “Som Livre Exportação”.
Pela postura de crítica à ditadura, submeteu ao DOPS 72 canções, das quais 54 foram censuradas, entre as quais o primeiro sucesso, “Comportamento geral”. Suas composições foram gravadas por muitos dos grandes intérpretes da MPB, como Maria Bethânia, Simone, Elis Regina, Fagner, e Joanna. Dentre estas, destaca-se Simone com os grandes sucessos de “Sangrando”, “Mulher, e daí” e “Começaria tudo outra vez”, “Da maior liberdade”, “É” e “Petúnia Resedá”.
Após uma apresentação em Pato Branco, no Paraná, Gonzaguinha morreu aos 45 anos vítima de um acidente automobilístico na manhã do dia 29 de abril de 1991, entre as cidades de Renascença e Marmeleiro, enquanto dirigia o seu Monza rumo a Francisco Beltrão.
Claudinho, ou Claudio Rodrigues de Mattos (São Gonçalo, RJ, 14/11/ 1975 – Seropédica, RJ, 13/07/2002).
Fazia parte da dupla carioca de funk Claudinho & Buchecha. De origem humilde, eram amigos de infância e se consideravam irmãos. Participavam de bailes funk e venceram um concurso de rap no bairro em que moravam. Tinham o hábito de rezar antes de entrar no palco e após os shows atendiam carinhosamente o público, dando autógrafos e tirando fotos.
Com o sucesso, saíram de São Gonçalo e foram morar na Ilha do Governador, de onde não mudaram mais. No ritmo de um disco por ano, a dupla Claudinho & Buchecha, ganhou fama nacional em 1996 com a música “Conquista”, e em 1997 com “Quero te encontrar”. Eles driblaram as armadilhas do sucesso rápido e se firmaram como cantores pop, acumulando sucessos como “Nosso Sonho”, “Xereta” e “Só Love”.
No CD “Acústico”, de 2002, o grupo Kid Abelha regravou a música “Quero te encontrar”. Em 2004, no CD dedicado ao público infantil, Adriana Calcanhoto regravou a música “Fico assim sem você”. Já em 2007, Ivete Sangalo regravou “Nosso sonho” e “Conquista”, com a participação de Buchecha, no seu CD “Ao Vivo No Maracanã”.
O sucesso da dupla era grande, mas durante a turnê de lançamento do sexto disco, “Vamos dançar”, no dia 12 de julho de 2002, eles partiram para Lorena, no interior de São Paulo. Horas antes de viajar, Claudinho ligou para Buchecha e avisou que iria em seu novo carro (um VW Golf usado) e não com a van da banda, como de costume.
Claudinho foi vítima de um acidente de carro quando voltavam para o Rio, na Via Dutra, no dia 13 de julho de 2002, e acabou falecendo.
Chico Alves, ou Francisco de Morais Alves (Rio de Janeiro, RJ, 19/08/1898 – Pindamonhangaba, SP, 27/09/1952).
Chico Alves, o Chico Viola, antes de Roberto Carlos era considerado o maior ídolo da música brasileira. Filho de portugueses, nasceu no Rio de Janeiro. Começou sua carreira em 1918, nas companhias de teatro de João de Deus e Martins Chaves, e depois, na companhia de Teatro São José, pertencente a José Segreto.
Seu primeiro sucesso foi a marcha carnavalesca “O pé de anjo”, do compositor Sinhô. Devido a sua voz firme e potente, era conhecido como o “Rei da Voz”. Compôs com Orestes Barbosa algumas obras-primas da música brasileira: “Meu companheiro”, “A mulher que ficou na taça”, “Dona da minha vontade” e “Por teu amor”, entre outras.
No auge de seu sucesso, morreu carbonizado quando ocorreu uma colisão entre seu automóvel e um caminhão, que imprudentemente entrou na contramão, na Via Dutra, em Pindamonhangaba, na divisa com Taubaté, São Paulo, quando o cantor voltava para o Rio de Janeiro. Foi enterrado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. Seu epitáfio foi escrito pelo jornalista David Nasser: “Tu, só tu, madeira fria, sentirás toda agonia do silêncio do cantor”.
Jessé, ou Jessé Florentino Santos (Niterói, RJ, 25/04/1952 – Ourinhos, SP, 29/03/1993).
Sem dúvida nenhuma, o maior cantor que o Brasil já teve, dono de uma das vozes mais bonitas de toda a história da música. Jessé foi criado em Brasília. Mudou-se para São Paulo já adulto, e atuou como crooner em boates. Depois, integrou os grupos “Corrente de Força” e “Placa Luminosa”, animando bailes por todo o Brasil.
Ainda nos anos 1970, também chegou a gravar em inglês com o pseudônimo de Tony Stevens. Foi revelado ao grande público em 1980, no Festival MPB Shell, da Rede Globo, com a música “Porto Solidão”, seu maior sucesso, ganhando prêmio de melhor intérprete.
Em 1983, ganhou o XII Festival da Canção realizado em Washington, EUA, com os prêmios de melhor intérprete, melhor canção e melhor arranjo para “Estrelas de Papel”. De voz muito potente, no decorrer de sua carreira Jessé gravou 12 discos (como os álbuns duplos “O Sorriso ao Pé da Escada” e “Sobre Todas as Coisas”) mas nunca conseguiu conquistar a crítica especializada.
Morreu aos 40 anos, em 29 de março de 1993, de traumatismo craniano sofrido num acidente com seu Escort XR3 Conversível, quando se dirigia para a cidade de Terra Rica, no Paraná, para fazer um espetáculo
Maysa Matarazzo, ou Maysa Figueira Monjardim (São Paulo, SP, 06/06/1936 – Niterói, RJ, 22/01/1977).
Maysa foi cantora, compositora e atriz. Ao longo da sua carreira imortalizou uma discografia com mais de 25 títulos. Segundo consta, Maysa teria nascido na capital paulista, numa tradicional família do Espírito Santo que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Outras fontes, porém, afirmam que seu nascimento foi mesmo no Rio. Da capital paulista ou do Rio, em 1947 a família transferiu-se para Bauru, no interior paulista. Logo depois, mudaram-se novamente para a capital.
Maysa era neta do barão de Monjardim, que foi governador do Espírito Santo por cinco vezes. De beleza impressionante, casou-se aos 17 anos com o empresário André Matarazzo, 17 anos mais velho, amigo de seus pais. Desquitou-se do marido em 1957, pois ele se opôs à carreira musical. Maysa teve vários relacionamentos amorosos, entre eles, com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário espanhol Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto e o maestro Julio Medaglia, entre vários outros.
Ao assumir o relacionamento com Miguel Azanza, em 1963, Maysa mudou para a Espanha, onde morou durante anos com o marido e o filho. Só retornou definitivamente ao Brasil em 1969. Na década de 1970, Maysa se aventuraria pelo mundo das telenovelas e do teatro participando de produções como “O Cafona”, “Bel-Ami” e o espetáculo “Woyzeck”, de George Büchner. A cantora bebia muito e abusava de medicamentos.
Em 1977, um trágico acidente automobilístico com sua VW Brasilia na Ponte Rio-Niterói encerrou a carreira da estrela, que foi um dos maiores nomes da Bossa Nova e da música popular brasileira.
João Paulo, ou José Henrique dos Reis (Brotas, SP, 28/07/1960 – Franco da Rocha, SP, 12/09/1997).
João Paulo & Daniel formaram nos anos 1990 uma das duplas sertanejas de maior sucesso no Brasil. O curioso da história é que os dois eram rivais nas apresentações que faziam em circos, praças e festivais pelas cidades do interior de Sào Paulo.
João Paulo cuidava do gado nas fazendas do pai de Daniel, enquanto cantava em dupla com o irmão. Mas essa dupla não foi muito longe. Logo João Paulo e Daniel estavam cantando juntos e viajando fazendo shows em um ônibus comprado pelo pai de Daniel. O caminho até gravar o primeiro disco, o que aconteceu com ajuda de amigos, pela gravadora Continental Chanceler. Estava pronto “Amor Sempre Amor”, lançado em 1985. O sucesso daí em diante foi imenso.
A dupla acabou em 12 de setembro de 1997, após o lançamento dos álbuns “Ao Vivo” e “Volume 8”, quando João Paulo morreu vítima de acidente automobilístico. Sua BMW capotou na rodovia dos Bandeirantes, próximo a São paulo, e o cantor morreu carbonizado; o carro era blindado e ele nao conseguiu sair das ferragens.
Chico Science, ou Francisco de Assis França (Olinda, PE, 13/03/1966 — Recife, PE, 02/02/1997).
Chico Science foi cantor e compositor, um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990. Líder da banda Chico Science & Nação Zumbi, deixou dois discos gravados: “Da Lama ao Caos” e “Afrociberdelia”, tendo sua carreira precocemente encerrada por um acidente de carro numa das vias que ligam Olinda e Recife. Seus dois álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira.
A família de Chico Science recebeu indenização de cerca de R$ 10 milhões da Fiat, responsabilizada pela morte do cantor e compositor no acidente que lhe tirou a vida, devido a falhas no cinto de segurança do Fiat Uno Mille que dirigia.
Sylvia Telles, (Rio de Janeiro, RJ, 27/08/1934 – Maricá, RJ, 17/12/ 1966).
Sylvinha Telles, foi cantora brasileira e uma das principais intérpretes dos primórdios da Bossa Nova. A maioria de seus discos está fora de catálogo, o que dificulta o seu conhecimento pelas gerações recentes. Porém, ocasionalmente é lançada uma compilação com algumas de suas inúmeras gravações. Segundo matéria assinada por João Máximo: “Sylvinha foi uma das melhores intérpretes da moderna música brasileira, entendendo-se como tal a que vai de “Ponto final” – com Dick Farney e “Amargura”, com Lúcio Alves- até as canções que Tom e Vinicius fizeram depois de “Orfeu da Conceição’”.
Sylvia era filha da francesa Maria Amélia D’Atri e do carioca Paulo Telles, amante da música clássica. Seu irmão mais velho, Mário Telles, também foi músico. Em 1954, Billy Blanco, amigo da família, notou o dom de Sylvinha e apresentou-a a amigos músicos. Nessa época, conheceu seu primeiro namorado, João Gilberto, mas o relacionamento acabou porque a família Telles não gostava do jovem, que vivia de favor na casa dos outros.
No ano seguinte, o compositor Garoto escreveu-lhe um musical, chamado “Gente de bem e champanhota”, executado no Teatro Follies, de Copacabana. Na ocasião, o músico e advogado José Cândido de Mello Mattos, o Candinho, acompanhou Sylvinha na canção “Amendoim torradinho”. Eles se apaixonaram, e pouco tempo depois morreu Garoto, sem poder ver o lançamento do primeiro disco de Telles.
Sylvinha e Candinho casaram-se e tiveram uma filha, Cláudia Telles, que iniciou carreira musical em 1977. Em 1956, Sylvinha e seu marido apresentaram pela TV Rio o programa “Música e Romance”, recebendo como convidados Tom Jobim, Dolores Duran, Johnny Alf e Billy Blanco. Contudo, o casal logo se separou. Sylvinha Telles chegou a fazer turnês em outros países, como Estados Unidos, Suíça, França e Alemanha. Em 1963, já divorciada de Candinho, Sylvia casou-se com o produtor musical Aloysio de Oliveira.
Aos 32 anos de idade, Sylvia Telles morreu em um acidente de automóvel na rodovia Amaral Peixoto, no município de Maricá, em companhia do namorado Horacinho de Carvalho, filho da socialite Lily de Carvalho Marinho. Eles se dirigiam à fazenda de Horacinho no município, mas Horacinho dormiu ao volante, algo que já acontecera à própria Sylvia dois anos antes, enquanto voltava de um show.