E a Austrália não produz mais automóveis…
Por essa nem Mad Max esperava. Lembra daqueles V8 maravilhosos australianos? Esquece. Não existem mais. Com o fechamento das unidades de produção da Holden (marca da General Motors) -depois de Toyota e Ford terem feito o mesmo- a Austrália deixa de fazer parte do grupo de países produtores de veículos automotivos. Um negócio que foi muito rentável, mas hoje é um problema por lá. Saiba porque isso aconteceu.
Em outubro do ano passado, a Ford encerrou em definitivo sua linha de montagem na Austrália e em breve, um ano depois, será a vez da Toyota e da Holden (que desaparecerá no dia 20 de outubro, duas semanas depois da marca japonesa) apagar a luz e passar o cadeado no portão das suas fábricas. Ou seja, a Toyota e a Holden ainda conseguiram manter-se ativas por mais um ano, mas agora chegou o ponto final. Afinal, o que ocorreu de tão ruim num negócio sempre tão rentável?
A Austrália nunca teve uma marca local de automóveis, mas a Holden e a Ford, mais tarde a Toyota, multinacionais, ajudaram a moldar a cultura e o crescimento daquele país durante décadas. Recuemos um pouco no tempo em que a Ford, a primeira a chegar por lá, começou a fabricar localmente os seus produtos. Estávamos em 1925 e a Ford enviava os seus veículos por mar para a Austrália desde 1904.
No caso da Holden –originalmente uma empesa dedicada à fabricação de selas para cavalos– a sua passagem para a construção de carrocerias na virada do século passado (1900) culminou num acordo com a General Motors para montar os modelos da marca norte-americana a partir de 1936. O sucesso do negócio levou a GM a comprar a Holden e a instalar-se na Austrália em 1948.
Já a Toyota está na Austrália desde 1963 e nos últimos 10 anos tem sido o maior produtor de automóveis daquele país, ao mesmo tempo que tem o status de ser o maior exportador de automóveis local nos últimos 16 anos, tendo exportado mais veículos neste período de liderança que a Holden em 63 anos e a Ford em 91 anos de vida na Austrália! Contas feitas, a Toyota exporta da Austrália mais de um milhão de unidades/ano.
Com o fechamento das unidades de produção, primeiro da Toyota e duas semanas depois, no dia 20 de outubro, da Holden, desaparecerá uma das industrias que contribuiu de forma clara para o nível de emprego na Austrália. Embora essa contribuição tivesse sido, generosamente, paga pelos impostos, pois mais de US$ 4 bilhões foram entregues às marcas como auxílio à produção na última década.
O destino da produção de automóveis na Austrália estava condenado há muito tempo, primeiro porque as marcas argumentavam que, por cada dólar australiano recebido de incentivo, tinham de investir três dólares. Depois, porque a política de taxas baixas ou zero para a importação, inundou o mercado australiano de modelos vindos de todos os lados e com preços mais baixos que os veículos feitos localmente.
Hoje, há mais marcas à venda na Austrália do que na Europa, Estados Unidos ou Japão, situação que foi corroendo a necessidade de manter grandes volumes de produção local. O melhor ano da Holden foi em 2004, com 165 mil carros produzidos; a Ford teve como pico de produção de 155 mil unidades em 1984, e a Toyota chegou ao máximo de 148 mil veículos em 2007.
Porém, em 2016, os três fabricantes, juntos, não produziram mais do que 87 mil unidades. Em 2002, a Holden vendia 90 mil carros por ano, hoje não passa das 40 mil unidades. Diante destes números, fica evidente a razão para o fechamento das operações da GM na Austrália. Nenhuma marca sobrevive com volumes tão baixos num parque industrial pensado para números bem maiores.
Para piorar a situação, em redor da Austrália há uma série de países com mão de obra mais barata: na Tailandia um trabalhador de linha de montagem recebe cerca de US$ 8 mil por ano, e na Austrália recebe quase US$ 50 mil/ano. O acordo de comércio livre entre a Tailândia e a Austrália acabou por ser decisivo. A decisão de acabar com o imposto de importação levou a uma enxurrada de veículos vindos daquele país.
A pá de cal na industria automotiva australiana foi a decisão tomada pelo governo de cortar o auxílio estatal e assumir o impacto social que o fechamento destas fábricas vai originar. Depois do fim da Mitsubishi na Austrália em 2008, relatórios diziam que o desemprego de longa duração atingiria um terço dos trabalhadores. Com o desaparecimento de mais duas grandes unidades de produção, o impacto será ainda mais severo.