Ford -ou Colani- GT80 1980, o ilustre desconhecido
O Ford GT40 foi lançado na década de 1960 com enorme impacto na história do automóvel. Um superesportivo cuja missão era competir -e vencer- as Ferrari na “24 Horas de Le Mans”, acabou se tornando uma verdadeira lenda automotiva americana e inspirou muitos outros modelos nas décadas seguintes. Quem ainda não suspira diante de um GT40? A segunda geração chegou em 2004, a terceira em 2016 mas, e enquanto isso? Dois protótipos no mínimo extravagantes foram criados, os GT80 e o GT90. A história do GT90 já contamos antes, e você pode conferir aqui, agora é a vez de conhecermos o esquecido GT80. O carro é uma releitura do GT40, para uso nas ruas e usando o máximo de conceitos aerodinâmicos possíveis.
por Ricardo Caruso

O “40” do nome GT40 refere-se à altura do carro, de 40 polegadas; o “80” do GT80 é alusão ao ano em que foi oficialmente apresentado, 1980. O GT80 foi um dos modelos mais insanos relacionados com a Ford até então. O conceito que você vê nas fotos é obra de Luigi Colani, espécie de bad boy da indústria, engenheiro aerodinâmico, artista e escultor. Para o desenhista (que também é conhecido por seu trabalho na BMW e na Volkswagen nos anos 1980, entre outros), que criou um protótipo que foi claramente fora da curva, foi uma combinação sui generis de função em detrimento da forma. A impressionante história e obra de Colani tratamos recentemente aqui.

Ao longo de sua carreira, Colani sempre priorizou carros com formas extremamente aerodinâmicas, frequentemente se inspirando nos mundos das corridas e da aviação. Isso é especialmente evidente no modelo GT80, cuja impressionante traseira lembra a do Lotus 80 na Fórmula 1 e a do Chaparral 2K na Indy. O formato da traseira do modelo GT80 foi patenteado, já que Colani registrou o conceito como “Form-C” (“C” de Colani…); foi patenteado em Munique pelo Deutsches Patentamt em 25 de novembro de 1967. A revista alemã “Stern” publicou uma ,longa matéria sobre o princípio awerodinãmico da Form-C no ano seguinte.
Em 1973, o primeiro modelo desse carro em escala 1:1 e com carroceria de plástico deste projeto avançado estava pronto no estúdio de Colani, em seu castelo de Harkotten, perto de Munster, Alemanha. Dois anos depois, o layout final do projeto foi concluído e um modelo final com chassi operacional foi construído. Em 1978, um chassi de alumínio de dois lugares foi construído (segundo os padrões da Fórmula 1) para a Colani pela Tiga Racing Cars, na Inglaterra. Em 1979, o carro de exibição já estava pronto, mas o Colani GT80 foi preparado para apresentação oficial no ano seguinte.
O GT80 era mais caro que um Rolls-Royce, disse Colani, porque, em todos os aspectos, eram utilizados os melhores materiais disponíveis. Assim como o famoso Ford GT40, o Colani GT80 era um carro do tipo “Le Mans” para as ruas. Uma versão de corrida já havia sido construída em Harkotten. O protótipo Colani GT80 mostrado em Frankfurt foi construído com um motor cedido pela Ford, um Cosworth V6, que fez muito sucesso nos Capri de pista da marca. Ele também havia sido usado na Fórmula 5000, na Inglaterra. Era um motor de 24 válvulas, 3.400 cm³ e 405 cv a 10.500 rpm.
O nível de ruído do veículo de produção teria sido muito baixo graças a uma parede de material isolante de 20 centímetros de espessura entre o motor e os bancos. O GT80, que foi apresentado em 1980 no Salão de Frankfurt, foi o resultado de anos de estudo e desenvolvimento aerodinâmico que começaram em 1973 e só foram concluídos em 1978.



Colani nunca projetou um carro com linhas retas, tudo era arredondado, e o GT80 não é exceção à essa regra. O GT80 é aerodinâmico em todos os sentidos, inclusive na sua baixa altura.

O material de imprensa para a apresentação do GT80 em Frankfurt foi preparado pela Ford Europa, mas Colani custeou todo o projeto sozinho. O carro de exibição tinha rodas e pneus de Fórmula 1 e a caixa de câmbio era manual de cinco marchas da ZF. Os freios e as suspensões também estavam de acordo com os padrões da Fórmula 1 da época e foram projetados pelo piloto Howden Ganley. As peças da suspensão foram originalmente desenvolvidas para o projeto privado de um carro de Fórmula 1 de Ganley. Braços duplos triangulares estavam na dianteira, braços inferiores triangulares e braço de suspensão superior na traseira.
O visual é estranho, mas Colani afirmou que o GT80 tinha um Cx (coeficiente de penetração aerodinâmica) inferior a 0,20, o que o tornava notavelmente eficiente e “escorregadio”. O carro tinha a carroceria completa em forma de asa, com uma borda de fuga acentuada, como a de uma asa de avião. A ausência de um vidro traseiro foi superada pela instalação de uma câmera de vídeo com grande angular no teto. Um monitor embutido no volante sem raios exibia toda a visão traseira por meio do acionamento de um interruptor.





A ZF também participou do desenvolvimento de alguns componentes eletrônicos para o GT80, como o sistema de detecção automática de pressão para ajuste da imensa asa dianteira. Assim, era possível reduzir o arrasto em altas velocidades e criar maior pressão (down force) nas curvas.

Ele também recebeu um airbag incorporado ao volante, algo espantoso em 1980. O nível de ruído do veículo de produção seria muito baixo, graças a uma parede de material isolante de 20 centímetros de espessura entre o motor e os bancos. Tudo espetacular naqueles tempos, mas no entanto, o GT80 nunca foi produzido em massa por conta do custo e se transformou puramente em um exercício de engenharia e desenho.

Apenas três carros foram construídos, o primeiro com carroceria de plástico em 1978 e os dois últimos com carroceria de alumínio. O número 001, com carroceria de plástico, recebeu decoração nas cores da patrocinadora Castrol e foi batizado de Formula RS ou New RS. O 002 era a versão de alumínio que foi exibida em Frankfurt, e o 003 foi usado de base para outras criações de Colani e desapareceu.