François Cevert: quando a Fórmula 1 teve seu galã
Talentoso, boa aparência, culto, educado, carismático… Estamos falando de um ator de cinema? Um príncipe encantado, com o qual muitas mulheres sonham até hoje? Não, trata-se apenas um piloto de Fórmula 1. O homem que concentrava todas estas características era Albert François Cevert Goldenberg, ou apenas François Cevert, que estaria fazendo 77 anos.
por Ricardo Caruso
O piloto nasceu em Paris, no dia 25 de fevereiro de 1944, numa família abastada, mas num contexto particularmente complicado por conta da ocupação nazista. O pequeno François usava só o sobrenome da mãe (Cevert), e não o do pai (Goldenberg), o que denunciava as suas origens judaicas.
Terminado o conflito mundial, o garoto François recebeu uma educação exigente, típica das boas famílias” parisienses. Mas o menino bem comportado que tocava piano, tinha também uma certa paixão pelos esportes motorizados, e manifestava vontade de ser piloto de Fórmula 1.
O patriarca, que já imaginava o filho continuando com a empresa familiar ligada à joalheria, não viu com bons olhos esta vocação e, por isso, recusou dar o seu apoio ao jovem François, considerando ainda que a Fórmula 1 não passa de “um esporte para milionários e gigolôs”.
Sendo assim, o jovem François foi trabalhar, para juntar dinheiro e tentar carreira no automobilismo. Faltava o apoio familiar, mas podia contar com o apoio do seu futuro cunhado, Jean-Pierre Beltoise, igualmente piloto e namorado de sua irmã Jacqueline.
Conseguiu juntar a quantia necessária para se inscrever no “Volant Shell” de 1966, no circuito de Magny-Cours. Venceu a prova, o que lhe permitiu ter acesso ao campeonato francês de Fórmula 3 no ano seguinte, com a equipe Tecno.
Se a temporada de 1967 foi particularmente decepcionante, com 16 abandonos em 22 corridas, Cevert conquistou o título na temporada seguinte.
Com este triunfo, subiu para a categoria seguinte, a Fórmula 2, conquistando o 3º lugar do campeonato europeu. Mas mais do que a classificação final no campeonato, foi uma temporada em particular que chamou atenção das equipes de Fórmula 1 e acelerou a carreira do já promissor piloto francês.
O GP de Reims de Fórmula 2, disputado no dia 29 de junho de 1969, conta com a participação de um piloto especial: Jackie Stewart, prestes a conquistar o título mundial de Fórmula 1 naquele mesmo ano. E foi nessa prova que François Cevert se destacou, ao ultrapassar o convidado na última curva e vencer a prova.
O escocês, impressionado com o talento de Cevert, o recomendou a Ken Tyrrell, que o contratou na temporada seguinte, para substituir Johnny Servoz-Gavin, que decidiu encerrar a sua carreira, repentinamente, no meio do campeonato.
Assim, Cevert conseguiu chegar ao palco principal do automobilismo, tendo como tutor Jackie Stewart. Se tornaram amigos inseparáveis.
Cevert comportava-se como um aluno exemplar, obedecendo às ordens de Tyrrell e seguindo os conselhos de Stewart. Em 1971, na sua primeira temporada completa, Cevert mostrou ser um companheiro de equipa bastante eficiente e participativo, terminando o campeonato em terceiro lugar.
Mas foi em especial a sua vitória em Watkins Glenn, em outubro, que fez de François Cevert uma verdadeira estrela. O piloto, com carisma “hollywoodiano”, torna-se uma estrela na categoria. Se os seus olhos azuis já seduziam inúmeras mulheres, a sua vitória ajuda-o a conquistar o respeito do meio.
A temporada de 1972 não foi tão entusiasmante como a anterior, e o francês terminou em sexto lugar. Como prêmio de consolação, conquistou o segundo lugar na “24 horas de Le Mans”, ao volante de um Matra-Simca MS670.
E foi finalmente na temporada de 1973 que Cevert começou a se mostrar no mesmo nível de Stewart; o aluno chegou ao nível do mestre. Depois dos GPs da Holanda e da Alemanha, Jackie Stewart confessou a Ken Tyrell que Cevert podia tê-lo ultrapassado várias vezes se quisesse, o que ilustra bem a integridade do piloto francês em relação àquele que lhe transmitiu tudo o que sabia.
São famosas as histórias de rivalidade entre colegas de equipe, mas com Stewart e Cevert foi o oposto: respeitavam-se, eram solidários, amigos e até viajavam de férias juntos, como naquela semana que antecedeu mais uma corrida, a última do ano, em Watkins Glenn.
No sábado, 6 de outubro de 1973, ninguém imaginava que o palco da primeira e única vitória de Cevert dois anos antes seria o cenário de uma grande tragédia na Fórmula 1. Dia 6, carro numero 6, Tyrrell 006, chassi número 6, motor DFV Cosworth número 6…
Pouco antes do meio dia, já no final das qualificações, o alto-falante anuncia um acidente grave envolvendo um carro da Tyrrell. Espontaneamente, Stewart pensa no terceiro piloto, Chris Amon. Mas quando este chega às boxes, fazendo sinal de que não foi ele a vítima do acidente, Stewart percebe que acabara de perder o seu amigo. François Cevert morreu, tragicamente, aos 29 anos.
E assim terminou uma das mais belas amizades entre dois pilotos de Fórmula 1. Terminou também a carreira de Jackie Stewart, que não chegou sequer a disputar o seu 100o. e último GP, o que não impediu a conquista do seu terceiro título.
Haviam combinado que, na temporada de 1974, Stewart trabalharia para Cevert ser campeão. Mas o destino pensou de outra forma.
Os franceses e o universo da Fórmula 1, viam em Cévert um futuro campeão do mundo. Recordam, ainda hoje, o seu talento aliado à nobreza do seu caráter, velocidade, estilo. Talvez por isso lhe tenham atribuído o título de “príncipe da Fórmula 1”. A verdade é que nunca mais existiu um piloto como François Cevert. Suas fãs que o digam…
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