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HÁ 40 ANOS, A FÓRMULA 1 PERDEU FRANÇOIS CEVERT

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Existiu uma época em que a Fórmula 1 era realmente espetacular, mais pelo talento de seus pilotos do que pela tecnologia aplicada nos carros. Era um período repleto de romantismo e amadorismo, que criou ídolos reverenciados até hoje.

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François Cévert é um deles, e teria sido o mais romântico dos campeões da categoria, se não tivesse morrido num acidente em Watkins Glen, há 40 anos. Francês, moreno de olhos azuis, bon vivant, sempre cercado de belas mulheres e rápido nas pistas, muito rápido.

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Cévert viveu a curta existência de apenas 29 anos dividido entre duas paixões: velocidade e mulheres. Era querido não só pelos fãs, mas por todos que estavam envolvidos com a categoria, por causa de seu bom humor e pelo glamour que trazia para a Fórmula 1.

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Albert François Cévert Goldenberg nasceu rico, em Paris, em 25 de fevereiro de 1944. Era filho de Charles Goldenberg, joalheiro judeu de origem russa. Por muito tempo seu pai fugiu de perseguições. Na verdade, seu nome era Albert François Goldenberg, mas durante a II Grande Guerra, sua família escondeu dos nazistas as origens judaicas, usando o sobrenome Cévert. Com o fim da guerra, seu pai pensou em retornar ao original sobrenome Goldenberg, mas o resto da família, incluindo sua mãe Huguette, não aceitou e o “Cévert” foi incorporado ao seu nome.

REFINADO

Por conta de sua origem abastada, desde pequeno Cévert era assíduo frequentador da alta sociedade francesa, participando de bailes e festas, além de ser exímio pianista e apreciador de música clássica. Conquistava corações com seus olhos azuis, considerados por muito tempo os mais bonitos da França.

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Colecionou namoradas, e até a atriz Brigitte Bardot não resistiu ao piloto. Anos mais tarde, no ambiente da Fórmula 1, era visto frequentemente cercado de estonteantes mulheres, exibindo seu contagiante sorriso. Era o exemplo perfeito de alguém bem sucedido, que nada poderia deter seu sucesso. Foi logo considerado o homem mais bonito do mundo.

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Os irmãos François e Jacqueline Cevert.

Rico e com o futuro garantido pela fortuna de seu pai, François Cévert pode escolher o caminho mais emocionante e cheio de adrenalina, o das corridas. Sua irmã Jacqueline casou com o piloto Jean-Pierre Beltoise, e assim foi definido seu destino, em busca de emoções e muita adrenalina. Apaixonado pela velocidade, tudo começou por brincadeira, com a Vespa da mãe, e depois participando de algumas corridas de motos. Contudo, logo enjoou das motos e focalizou os carros.

O COMEÇO

Antes de estrear nas pistas, teve que servir o exército, e depois do serviço militar, aos 22 anos, decidiu inscrever-se na escola de pilotagem de Le Mans, e depois passou para a de Magny-Cours, mais estruturada. Logo surgiu a oportunidade de participar do “Volante Shell”, cujo prêmio era uma temporada paga no campeonato francês de Fórmula 3. Ele chegou à final e ganhou a última corrida.

No ano seguinte foi usar seu prêmio na F-3, com um Alpine, mas apesar de todo seu esforço e dedicação, o ano não foi bom. O carro não era competitivo e, apesar de rico, não tinha apoio financeiro da família, que era contra sua paixão, muito arriscada naquela época.

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Não desistiu, e depois de conseguir alguns pequenos patrocínios, trocou o fraco Alpine por um Tecno. O carro era mais competitivo e ele se sagrou campeão francês de Fórmula 3. Com este título no currículo, conseguiu um lugar na equipe oficial da Tecno, para o campeonato europeu de Fórmula 2.

SORTE

Foi onde sua estrela brilho ainda mais forte. Numa corrida em Crystal Palace, o jovem piloto francês impressionou Jackie Stewart, pelo seu arrojo e técnica. E, claro, também pelo seu estilo limpo de pilotagem, onde abusava das derrapagens controladas. Stewart comentou sobre a jovem promessa com seu chefe de equipe, Ken Tyrrell, elogiando o talento do francês. Logo Tyrrell o convidou para alguns testes e, por fim, para fazer parte de sua equipe de F-1.

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 François Cévert estreou-se na categoria em 1970, na Tyrrell, depois que Johnny Servoz-Gavin decidiu abandonar as pistas. Naquele ano, Cévert fez apenas três provas, mas nas três temporadas seguintes, foi um fiel e brilhante aluno de Jackie Stewart, de quem se tornou amigo inseparável, quase um membro da família.

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Interlagos, 1973.

O escocês assumiu a responsabilidade sobre o piloto, e ensinou-lhe tudo o que sabia. Cévert sempre foi um aluno atento e um segundo piloto dos mais eficientes. O caminho estava certo, e ele provou ser realmente um bom aluno ao vencer a sua primeira –e única– prova, o GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen, em 1971. Foi um feito histórico, pois Cévert foi o segundo piloto francês a vencer uma prova da categoria, depois de Maurice Trintignant, que triunfou duas vezes em Mônaco, em 1955 e 1958.

AS DOBRADINHAS

Nas temporadas de 1972 e 1973, Cévert continuou a sua tarefa principal: a de escoltar Stewart, ajudando-o a lutar pelo título, tal como tinha feito em 1971. O resultado disso foram 10 dobradinhas dos dois. O escocês foi derrotado em 1972 por Emerson Fittipaldi e sua Lotus 72D, mas em 1973, com o melhor carro da categoria e sempre acompanhado por Cévert, Stewart garantiu o terceiro título antes do final da temporada.

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Stewart e Cevert, Interlagos, 1973.

Naquele ano, Cévert foi segundo colocado tantas vezes, que ficou também conhecido como “O Poulidor da Fórmula 1”, referência ao ciclista Raymond Poulidor, seu compatriota, que colecionou vários segundo lugares no Tour de France.

A única vitória: Estados Unidos, 1971. Dois anos depois, na mesma pista, a tragédia.
A única vitória: Estados Unidos, 1971. Dois anos depois, na mesma pista, a tragédia.

Talvez por isso mesmo, a estima de Stewart pelo seu pupilo e amigo chegou ao extremo de decidir abandonar a categoria no final de 1974 -nem sua mulher Helen sabia disso- invertendo os papéis na equipe Tyrrell. Stewart seria o segundo piloto de Cévert, que estava bem preparado e pronto para ser o campeão de 1974. Além da Fórmula 1, Cévert corria regularmente em Le Mans (segundo lugar em 1972) e na Can Am (vitória em Donnybook, 1972) .

A TRAGÉDIA

Mas o destino não pensava assim. Tudo estranho naquele dia 6 de outubro de 1973, com o Tyrrell 006, carro número 6, chassi número 6 e motor Cosworth número 66. Durante os treinos de classificação para o GP dos Estados Unidos (última prova da temporada, que não valia mais nada), na mesma Watkins Glen onde vencera dois anos antes, veio a tragédia. François Cévert perdeu o controle do Tyrrell, no “S”, local onde a maioria dos pilotos fazia em quinta velocidade, sem pisar fundo;  ele preferia fazer em quarta marcha, acelerando ao máximo.

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O acidente foi provocado por uma das muitas emendas que o asfalto tinha naquele local; ao tocar na zebra, já descontrolado, o Tyrrell saiu de pista e bateu forte no guard rail, que arremessou o carro para o outro lado da pista, onde capotou e correu por cima da lâmina, o que foi fatal para Cévert. Ele morreu com o corpo cortado ao meio.

6 de outubro de 1973: momentos antes do acidente.
6 de outubro de 1973: momentos antes do acidente.

José Carlos Pace, um de seus grandes amigos, vinha logo atrás e foi o primeiro a chegar ao local, desabando num choro incontrolável. Era o dia de seu aniversário… Logo em seguida, parou Jackie Stewart, que entrou em estado de choque.

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Isso determinou o fim da carreira do escocês, que sequer participou da 100ª corrida da sua carreira; seu amigo tinha desaparecido, aos 29 anos, da pior forma possível. Stewart nunca mais correu, e passou a se dedicar mais ainda à questão da segurança nas pistas.

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A última imagem de François Cevert.

 Em Watkins Glen, quando foi anunciada a morte do piloto de olhos azuis, o público levantou-se e ficou vários minutos em silêncio, numa homenagem àquele que seria o primeiro francês campeão de Fórmula 1, o verdadeiro príncipe das pistas.

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A última curva, segundos antes do acidente.

François Cévert foi enterrado dias depois no cemitério de Vaudelnay, em Maine-et-Loire, na França. Em 2014, sua irmã lançou um livro contando mais detalhes da vida de Cévert, repleto de fotos inéditas.

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Com sua morte, a Fórmula 1 perdeu boa parte de seu charme. Ficou a lembrança de um de seus maiores pilotos em todos os tempos, o campeão de uma única vitória.

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Na Fórmula 1
Temporadas 1970 – 1973
Equipe Tyrrell
Corridas 47 (46 largadas)
Vitória 1
Pódios 13
Pontos 89
Pole positions 0
Voltas   rápidas 2
Primeira   prova GP da Holanda 1970
Primeira   vitória GP dos Estados Unidos
Última   prova GP dos Estados Unidos 1973

 

Na “24 Horas de Le Mans”

Anos 1970, 1972 e 1973
Equipe Matra-Simca
Melhor   resultado 2º. lugar (1972)

 


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