Há 48 anos, Fiat “roubou” a Ferrari da Ford
As dificuldades do homem que já perdera Dino, o seu filho predileto, pareciam tê-lo derrubado. Por isso, ninguém estranhou a aproximação da Ford, que em 1963 ensaiou a compra da Ferrari, apesar de Enzo ser um nacionalista fundamentalista, para quem qualquer solução com vista ao futuro teria de ser encontrada na Itália.
Mas diante das dificuldades, os contatos com a gigante norte-americana avançaram. Foram muitas idas e vindas e recuos por parte do comendador, que parecia “enrolando” os americanos com os mais variados problemas, tanto que ele admitia a venda mas queria permanecer à frente da Scuderia e continuar a gerir a área de competição, o que a Ford não aceitou.
A ruptura entre Ferrari e Ford acabou acontecendo, e seria esta decisão que levou Henry Ford a apostar na humilhação de Enzo Ferrari onde lhe seria mais doído: na pista. Por isso, a Ford lançou o projecto GT40 para o Mundial de Endurance, onde colecionou vitórias contra os Ferrari, além de ter lançado o motor V8 Ford Cosworth que marcou época no mundo da Fórmula 1.
Mas, se perdeu nas pistas, Enzo Ferrari ganhou um parceiro realmente de peso: a Fiat. O primeiro sinal do entendimento com Giovanni Agnelli surgiu em 1965, quando a Fiat aceitou ajudar a Ferrari na homologação do motor que a Scuderia queria utilizar na Fórmula 2. Para essa homologação era necessário produzir 500 unidades do motor V6 e a Ferrari não tinha dinheiro. Por isso, a Fiat comprou esse motor para equipar um modelo muito especial, o Fiat Dino (abaixo).
É certo que nem o supercupé da Fiat foi um sucesso comercial nem a Ferrari se firmou como vencedora na Fórmula 2, mas a mensagem tinha passado, e na Itália todos compreenderam que era necessário evitar que a marca de Modena caísse em mãos estrangeiras. Por isso, em 1969, a Fiat e a Ferrari anunciaram a participação paritária na marca de Modena, operação que o jornal “il Giorno” destacou: “Ferrari realizou finalmente a obra-prima da sua vida”. O namoro com a Ford servira para garantir o casamento com a Fiat, situação que durou até 2015.
A fusão da Fiat com o Grupo Chrysler deu origem ao Grupo Fiat Chysler Automobiles (FCA) em 2014 e nessa altura foi decidido dar autonomia à Ferrari, operando fora do conglomerado que passou a integrar a Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati e Ram. Em outubro de 2015 a Ferrari passou a ter ações na Bolsa de Nova Iorque e, em janeiro de 2016, na Bolsa de Milão. Mas a maioria do capital pertence ao Grupo Exor, da família Agnelli, e 10% pertence a Piero Lardi Ferrari, o filho de Enzo Ferrari.