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COLIN CHAPMAN: GÊNIO!

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A história do automóvel tem alguns nomes que, por suas idéias brilhantes, provocaram verdadeiras revoluções. Em geral estão no passado, quando o mundo dos automóveis era dominado por homens que realmente gostavam de carros; hoje, administradores de empresa estão dominando o cenário, dando preferência mais a números do que à criatividade. Por isso os carros estão ficando todos parecidos e sem graça.

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A Lotus Seven.

Mas nem sempre foi assim. Um exemplo dessa época em que os cérebros –e não calculadoras- eram postos para trabalhar foi o genial Anthony Colin Bruce Chapman, ou apenas Colin Chapman, que nasceu em 19 de maio de 1928, em Londres. Quem gosta de carros esportivos ou da época áurea da Fórmula 1 sabe muito bem de quem se trata.

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Chapman e Jim Clark.

Chapman desde pequeno era muito agitado. Com apenas 17 anos, entrou na University College London para estudar Engenharia Estrutural. A II Guerra havia acabado, e um de seus primeiros estágios foi na Força Aérea inglesa, onde aprendeu muito sobre aerodinâmica e materiais leves, conhecimento que levou pela vida toda. Ele não era rico, e para se manter consertava carros e vendia automóveis usados.

PRIMEIROS CARROS

Logo modificou um Austin Seven quase imprestável, deixando-o mais leve, apto a disputar provas de trial; eram corridas feitas em trechos de terreno acidentado, especiais para carros bem baratos e de dois lugares. Ao Austin modificado deu o nome de Lotus Mark I.

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Com Rindt e a Lotus 72.

 No ano de 1950, já formado, criou seu segundo carro, a Lotus Mark  II, que também era derivado do Seven. O engenheiro fazia isso nas horas vagas, para tornar realidade seus sonhos, pois trabalhava na British Aluminium, empresa que extraía alumínio. Aos poucos seus carrinhos foram ganhando fama, e na sequência fez as Lotus Mark III e Mark IV, esta última encomendada por Mike Lawson, tio de Stirling Moss. Depois veio a Mark V e, enfim o sucesso, com a Lotus Mark VI. Era vendido quase em forma de kit, para montar em casa, com chassi tubular, carroceria simples e mecânica sem maiores mistérios. Por causa do baixo peso, era um carro bem rápido.

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Emerson, campeão em 1972 e vice em 1973.

Já aproveitando da fama, em 1952 ele decidiu sair da British Aluminium para se dedicar à própria empresa. E junto com sua mulher Hazel Williams fundou a Lotus Engineering. Ela cuidava da organização e parte administrativa, enquanto ele e o engenheiro aeronáutico Mike Costin fabricariam os carros da marca. Costin depois se juntou a Keith Duckworth, dando origem a até hoje famosa Cosworth.

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Lotus Turbina, maravilhosa, em 1971.

Até 1955 a Lotus fabricou 110 unidades. A carroceria era de alumínio e o motor era Ford de 1.200 cm3, que depois foi trocado pelos 1.500. Em 1957 colocou no mercado a Lotus Seven S1, carro que fez a fama de sua marca. Ainda hoje o modelo é produzido, com poucas mudanças, pela Caterham.

PEGANDO LEVE

Chapman não abria mão da fórmula “To add speed, add lightness” (“Para ganhar velocidade, coloque leveza”). Ele investia nessa teoria, pois o peso sempre foi empecilho para quem trabalha com carros esportivos ou de pista.

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Ainda em 1955 seus carros andaram bem na “24 Horas de Le Mans”, apesar de equipado com motor 1.1. O bom resultado ajudou nas vendas, e foram comercializados 270 modelos de rua e de competição. A Lotus, ainda uma pequena empresa de Norfolk, começava a chamar atenção no cenário do automobilismo.

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O carro-asa.

Em 1956 Chapman tentou ser piloto, mas sofreu um acidente grave pilotando um carro de Fórmula 1 da Vanwall, que havia sido desenhado por  ele e por Costin e Duckworth. Mas já estava contaminado pelo vírus das pistas, e em 1958 lançou a Lotus Type 12, o primeiro carro monoposto de sua marca. Equipado com motor Coventry Climax na dianteira, correu na Fórmula 2. Na suspensão traseira, Chapman criou uma variação do sistema McPherson. Sua briga era sempre contra a balança: “Adding power makes you faster on the straights; subtracting weight makes you faster everywhere”, algo como “adicionar potência faz você mais rápido nas retas; tirar peso faz você mais rápido em todo lugar.”

Formula One Motor Racing - Team Lotus Photocall - Brands Hatch

Seu segundo carro esporte de grande sucesso foi a Type 14, ou Lotus Elite. Leve e aerodinâmico, brilhou nas pistas e vendeu quase 800 unidades até 1962. Já no automobilismo de competição, conseguiu sua primeira vitória na Fórmula 1, com o Lotus 18 pilotado por Stirling Moss. Aconteceu em Mônaco. Aquele era o primeiro Lotus monoposto com motor traseiro.

FÓRMULA 1

Na fábrica, a Elite foi substituído pela Elan. Em 1963 Chapman mostrou uma de suas primeiras criações geniais para a Fórmula 1: a Lotus 25, com chassi monocoque, que depois foi adotado por quase todas as categorias.

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Senna, primeira vitória, no GP de Portugal.

Em 1964, estava nas pistas a Lotus 33 com motor Coventry Climax, carro que deu ao escocês Jim Clark 19 vitórias na Fórmula 1 e os títulos de 1963 e 1965. Para isso, derrotou marcas poderosas, como Porsche, Ferrari, BRM, Cooper e Brabham, estas duas últimas também com motor Coventry Climax. Não satisfeito, levou o carro para Indianapolis, onde correu com um motor Ford 289V8 de 350 cv, tirado de um Fairlane. Também andou por lá com a Lotus Turbina, de tração integral, carro que era rápido mas pouco resistente.

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Nelson Piquet.

Em 1967 a Lotus era de novo favorita na Fórmula 1, com o modelo 49 e Graham Hill fazendo dupla com Jim Clark. Era o primeiro carro da categoria a usar apêndices aerodinâmicos, um gigantesco aerofólio traseiro, que se desprendeu em algumas provas. O melhor era o motor, o então novo Ford Cosworth DFV 3.0V8.  Na estréia, no GP da África do Sul, na pista de Kyalami, Clark venceu e Hill ficou em segundo. Mas uma tragédia acabou abalando Chapman: no ano seguinte Jim Clark morreu num acidente em Hockenhein, numa pouco importante prova de Fórmula 2, guiando uma Lotus. Foi substituído por Jo Siffert na Fórmula 1, mas Hill ganhou o campeonato. Na época, outra inovação de Chapman: seus carros passaram a exibir a pintura de uma marca de cigarros, a Gold Leaf, trazendo o patrocínio para a Fórmula 1.

FITTIPALDI, SENNA, PIQUET

 Nos anos 1970 os carros de Fórmula 1 estavam deixando de ser os “charutinhos” e mostravam mais cuidados com a aerodinâmica. Os projetistas buscavam soluções próprias e ninguém copiava ninguém. Mais uma tragédia na categoria envolveu a Lotus. Émerson Fittipaldi havia acabado de ser contratado, em 1970, e o austríaco Jochen Rindt, que havia deixado a Brabham-Repco e ingressado na Lotus em 1969, sofreu acidente fatal em Monza.

Com Jim Clark, na Fórmula Indy.
Com Jim Clark, na Fórmula Indy.

Émerson venceu o seu primeiro GP, nos Estados Unidos, naquele ano, e garantiu o título póstumo de 1970 para Rindt. Em 1971, todos na Fórmula 1 usavam motores Cosworth, menos a Ferrari, Matra e BRM; Chapman fez algumas experiências com a Lotus Turbina na categoria, mas desistiu. No ano seguinte, em 1972, a equipe de Chapman contava com Émerson Fittipaldi e Dave Walker. O carro era o Lotus 72D, evolução do 72 de 1970. Tinha desenho em forma de cunha, pintura preta e dourada da marca de cigarros John Player Special e não só foi o carro mais bonito da história da categoria, como se tornou um dos melhores carros da década e da própria história da Fórmula 1. Emerson ganhou cinco das 12 provas do ano e levou o campeonato, e a cada prova vencida, Chapman jogava seu boné para o alto, o que se tornou uma espécie de marca registrada.

Interlagos, 1972: boné no alto para Emerson Fittipaldi.
Interlagos, 1972: boné no alto para   Émerson Fittipaldi.

No ano seguinte ganhou Jackie Stewart, da Tyrrell, enquanto o segundo lugar ficou com Émerson e terceiro com o sueco Ronnie Peterson, seu amigo e companheiro de equipe. Isso valeu ao menos o Mundial de Construtores. Em 1974 a Lotus não se saiu bem, pois as 72 já eram veteranas, com cinco temporadas de bons serviços. Entre os carros de rua, a Lotus apresentou a nova Elite e, em 1975, um dos seus esportivos que marcaram época: a Esprit, que até contracenou com James Bond no cinema.

CARRO-ASA

A Lotus ficou com um papel secundário na Fórmula 1 até 1978, quando revolucionou de novo a categoria. Era a Lotus 79, com desenho baseado numa asa de avião invertida e que aproveitava o chamado efeito-solo (o ar que passava sob o carro) para ter maior apoio aerodinâmico negativo. A Lotus ganhou os campeonatos de equipes e de pilotos, com Mario Andretti. Mas veio outra tragédia, e levou Ronnie Peterson na largada do GP da Itália. Em 1981 inovou com o “chassi duplo” da Lotus 88, que foi banido pela Federação Internacional do Automóvel (FIA).

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Seus carros esportivos não estavam vendendo mais bem, e ele ainda fez um trabalho de refinamento mecânico para a De Lorean. Chegou a ser investigado e acusado de ser pago com dinheiro ilícito, mas foi inocentado.

Com Clark em Monza, 1963.
Com Clark em Monza, 1963.

Tudo estava relativamente tranquilo, e Colin Chapman viu pela última vez um carro seu vencer na Fórmula 1, pilotado pelo italiano Elio de Angelis, no GP da Áustria de 1982. Chapman morreu vitimado por um ataque cardíaco no dia 16 de dezembro de 1982, no Castelo de Ketteringham Hall, sede da equipe. Anos depois, poderia ter se deliciado com a chegada de Ayrton Senna, que guiou para a equipe de 1985 a 1987, conseguindo sua primeira vitória em 1985. Também Nelson Piquet passou por lá, de 1988 a 1989.

Criador e criaturas.
Criador e criaturas.

A equipe Lotus nunca mais foi a mesma, o nome passou de mão em mão (no Brasil alguém mostrou no final dos anos 1990 um carro chamado Emme Lotus, copiado do conceito Volvo EEC de 1992) e recentemente voltou a ser usado, sob licença, na Fórmula 1. A Lotus Cars faliu em 1994, tendo tido vários proprietários desde então.

 

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