Classic Cars

Há 60 anos, a maior tragédia do automobilismo

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De repente, na entrada da reta dos boxes, o Jaguar de Mike Hawthorn travou os freios inesperadamente. O carro tinha freios a disco e a sua capacidade de frenagem era bem mais eficiente que do Austin de Lance Macklin. Os segundos que seguiram em Le Mans tornaram aquele momento num dos mais negros da história do automobilismo. Foi a pior tragédia da história das corridas de automóveis.

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Há 60 anos, no sábado, 11 de junho de 1955, tudo parecia glorioso. Mais de 250 mil pessoas aplaudiam os pilotos que partiam para mais uma edição da “24 Horas de Le Mans”. Os nomes que se alinhavam na pista deixavam prever muita emoção para aqueles que se deslocaram para assistir a prova: Juan Manuel Fangio e o colega de equipe Stirling Moss estavam ao comando de um Mercedes 300 SLR, Mike Hawthorn seguia a bordo de um Jaguar D-Type. A Ferrari, Aston Martin, Maserati, Jaguar e Mercedes lutavam pelo pódio, e seguiam todas muito próximas umas das outras, Um duelo memorável.

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Na abertura da 35ª volta, Hawthorn (Jaguar) e Fangio (Mercedes) assumiam o controle da corrida, posicionados no primeiro e segundo lugar, respectivamente. De vez em quando encontravam retardatários, com os carros mais lentos, que iam deixando para trás a velocidades acima dos 240 km/h e, nas partes mais rápidas do traçado, chegavam a atingir 280 km/h.

Na saída da última curva antes da reta das boxes, Hawthorn encontra o mais lento Austin-Healey 100 de Lance Macklin e o ultrapassou facilmente com o seu Jaguar D-Type. Quando estava à frente de Macklin, freou para entrar nos boxes, quase esquecendo do aviso para reabastecer.

Atrás de Hawthorn, o Austin-Healey 100 de Macklin freou diante da desaceleração inesperada do carro da frente. Numa tentativa de evitar o choque, Macklin desviou pela esquerda do Jaguar D-Type sem perceber que era seguido por outros dois carros. Atrás estava Pierre Levegh, ao volante do carro número 20, outro Mercedes 300 SLR da equipe Daimler-Benz, e que seguia à frente de Fangio na pista; naquele momento. Fangio, que tinha o 2º lugar, preparava-se para ultrapassar Levegh.

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Levegh não conseguiu evitar o choque com o Austin-Healey 100 e acabou por bater contra o lado esquerdo da traseira do carro de Macklin a mais de 240 km/h. O carro de Macklin transformou-se numa rampa e o Mercedes 300 SLR levanta voo em direção à multidão. Ao bater na traseira do Austin-Healey, várias partes do Mercedes voaram em direção ao público. O capô atingiu vários espectadores como uma guilhotina, partes da suspensão dianteira e o bloco do motor também foram projetados contra o público que assistia a corrida. Neste momento Pierre Levegh também foi projetado para fora do carro, tendo tido morte imediata. O Mercedes 300 SLR caiu no meio do público e, com o tanque de gasolina rompido, em instantes começou um grande incêndio.

As equipes de resgate desconheciam que o chassis que estava queimando era de magnésio. Ao tentar apagar o fogo com água foi como jogar gasolina numa fogueira, e por isso o incêndio só estaria extinto depois de mais de oito horas.

Na pista a corrida continuou e após a passagem dos carros mais rápidos, a organização removeu o Austin-Healey de Macklin do meio da pista. Os números que chegavam aos diretores da prova eram assustadores: 84 mortos (incluindo Levegh) e 120 feridos.

Para não perturbar o acesso das ambulâncias ao circuito com a saída de uma multidão de espectadores, a organização decidiu continuar a corrida. Naquela noite, à meia noite, após uma reunião entre os diretores da Daimler-Benz, a Mercedes abandonou a corrida. Eles estavam liderando a prova. Já a Jaguar recusou-se a abandonar e venceu a infeliz “24 Horas de Le Mans” em 1955. No dia seguinte os jornais mostravam as imagens da tragédia e ao lado delas fotos de Hawthorn bebendo champanhe no pódio. Insensibilidade do tamanho da desgraça acontecida.

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Hawthorn celebra sua vitória em Le Mans; faleceu quatro anos depois.

Este acidente trágico levou algumas marcas a tomarem decisões drásticas: a Suíça, por exemplo, baniu o automobilismo de seu território. A Mercedes abandonou as corridas de automóvel e só voltou a envolver-se diretamente numa prova em 1987. Já a Jaguar, provavelmente arrependida pela sua decisão de continuar em prova, esteve 30 anos fora de Le Mans. Alemanha, Espanha e França também impediram a realização de provas nos seus territórios, uma decisão que revogaram anos mais tarde.

Para manter a memória futura, ficam as imagens e os relados da tragédia, registos de um tempo em que a velocidade e a segurança não estavam obrigadas a andar de mãos dadas. A paixão do homem pela velocidade e adrenalina se mantem. Cabe a todos recordar que nem sempre segurança foi uma prioridade.


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