Classic Cars

Lumina, Silhouette e Trans Sport: quando a GM estava no futuro

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Hoje, os carros da moda são os SUVs, mas até recentemente, outro tipo de carroceria chamava atenção dos motoristas. Os anos 1980 foram responsáveis, entre outros, pelo surgimento em grande escala das minivans. O conceito era antigo, e foi aplicado, por exemplo, no streamline Mustang 1948, o original (não o Ford), produzido pela Mustang Motor Car, de Washington. Nos anos 1960 já existiam modelos como a VW Kombi, a mais notória das minivans, e o Fiat 600 Multipla, por exemplo.

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O conceito. Mais futurista, impossível.

Foi nos anos 1980 que chegaram ao mercado as primeiras minivans da era moderna: Nissan Prairie (Japão), a Dodge Caravan (Estados Unidos) e Renault Espace (França) fizeram muito sucesso em seus mercados. Era a busca pelo espaço, acima dos sedãs e wagons, sempre prontas para conquistar consumidores dispostos a migrar para a versatilidade do formato monovolume.

Há 25 anos, a General Motors tinha o Chevrolet Astro, voltado mais para o trabalho, e decidiu radicalizar com um veículo revolucionário, que impressiona até hoje. Em 1986 mostrou um concept chamado Pontiac Trans Sport, com linhas futuristas, portas traseiras que abriam para cima, teto envidraçado e bancos individuais que podiam ser configurados conforme a necessidade.

GM-200

Nas pesquisas do chamado “Projeto GM-200”, a aceitação da novidade foi boa, o que permitiu que o projeto fosse aprovado rapidamente pela direção da GM. As mudanças necessárias para entrar em produção foram feitas, como a troca das portas com abertura para o alto, que podiam causar problemas em garagens mais baixas. Tudo correu bem até o lançamento da novidade.

A estratégia da GM foi lançar a minivan em 1989 e vender pelo menos três versões distintas, com marcas diferentes: a mais simples seria a Chevrolet Lumina APV (All Purpose Vehicle, veículo para toda aplicação), seguida da mais luxuosa Oldsmobile Silhouette e da mais esportiva Pontiac Trans Sport. Essa minivan era montada numa estrutura de aço, que recebia teto também de aço e painéis de carroceria em plástico de engenharia resistente a riscos, tecnologia sofisticada já aplicada antes no pequeno esportivo Pontiac Fiero e que estava sendo usada nos Saturn, a arma da GM para enfrentar os japoneses.

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As minivans tinham sete lugares, mas os bancos permitiam configurações diferentes, indo até cinco, seis ou sete lugares, com bom espaço para bagagem. A Chevrolet oferecia também uma versão van, com dois lugares, vidros fechados e acabamento bem simples, voltada para o trabalho.

INOVANDO

Quando surgiu, há 25 anos, alguns detalhes de estilo lembravam muito a Trans Sport conceito, incluindo grande área envidraçada, com os vidros rentes à carroceria; faróis bem estreitos; frisos nas laterais e coluna central larga, entre outros. Com coeficiente de penetração aerodinâmica (Cx) de 0,30 e montada na plataforma U da GM, tinha porta lateral traseira, corrediça, apenas do lado direito. Outra das atrações do carro eram as lanternas traseiras altas, posicionadas nas colunas.

No interior, espaço de sobra. A GM equipou sua minivan com os práticos comandos tipo “satélite”, fáceis de acessar sem tirar as mãos do volante. Impressionava a largura do painel, muito profundo, por causa do enorme pára-brisa inclinado. A ausência de console, por causa da alavanca de câmbio (ficava junto à coluna de direção), permitia mais espaço e mobilidade; o freio de estacionamento era acionado por pedal, como em muitos carros norte-americanos.

Lumina/Silhouette/Trans Sport não eram muito grandes para o padrão norte-americano. Tinham 4,94 metros de comprimento, 1,89 m de largura, 1,65 m de altura e 2,79 m de dist6ancia entre-eixos. O peso oscilava entre 1.625 e 1.775 kg  de acordo coma  marca e versão.

MOTOR

O motor era dianteiro transversal, com tração dianteira, e as suspensões eram McPherson na dianteira e com eixo de torção na traseira, ambas trabalhando com amortecedores e molas helicoidais. Atrás, um sistema sob pressão mantinha sempre a altura correta de rodagem, mesmo com carga total. Os freios dianteiros era a discos ventilados, e os traseiros com tambores, inicialmente sem ABS.

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Ao ser lançada, o único motor disponível para a linha era a 3.1V6, com comando de válvulas no bloco, injeção eletrônica monoponto, 120 cv de potência e 24 mkgf de torque máximos. A caixa de câmbio era automática de três velocidades, mas logo a de quatro marchas passou a equipar as minivans.

A Chevrolet Lumina APV chegou a ser apresentada no Salão do Automóvel de São Paulo de 1990 e depois foi importada por empresas independentes. A GM trabalhou com a possibilidade de trazer a minivan, quando foram reabertas as importações no início dos anos 1990; até o manual do proprietário em português chegou a ser impresso. Na mesma época a GM trouxe vários Saab e Cadillac para testar o mercado, mas abortou o projeto.

REESTILIZADA

Em 1993 as Pontiac e Oldsmobile ganharam teto solar de acionamento manual, e em 1992, vieram algumas mudanças, como a opção do motor 3.8V6 de 170 cv e 31 mkgf, acoplado ao desejado câmbio automático de quatro marchas com controle eletrônico. A Trans Sport passava a disponibilizar bancos de couro -que antes equipavam apenas a Silhouette- e comandos do som no volante; freios ABS eram de série.

Para 1994 a GM preparou uma ampla reestilização: a frente foi encurtada em oito centímetros e os frisos laterais ficaram mais discretos. Uma inovação aplaudida foi a porta lateral direita, que continuava corrediça, mas agora com acionamento elétrico e controle remoto. A segunda fila de bancos passou a incorporar assentos infantis, enquanto o airbag do motorista virou item de série e foi disponibilizado o controle eletrônico de tração para as versões com motor 3.8V6. Dois anos depois, em 1996, os motores 3.1 e 3.8 deram lugar ao 3.4V6 de 180 cv e 28 mkgf.

A Pontiac Trans Sport chegou a ser vendida também na Europa, onde foi bem recebida. Curiosamente era a luxuosa Silhouette com os emblemas Pontiac. Em 1997 essa minivan para o Velho Continente passou a contar também com motor 1.9 turbodiesel da PSA Peugeot Citroën, de 90 cv, econômico e fraquinho, mas exigência do mercado europeu.

O FIM

Tudo certo e ousado, mas as avançadas minivans venderam menos do que a GM planejou; a Caravan e similares, da Chrysler, vendiam quase 10 vezes mais. Assim, para 1997 foi feito um projeto novo para substituir essa geração de minivans. O “nameplate” Silhouette continuou, enquanto a Trans Sport ganhou o sobrenome Montana e a Lumina deu lugar ao Venture.

As revolucionárias minivans desapareceram, substituídas por outras convencionais, com carroceria monobloco de aço e desenho mais comum; talvez esse mercado não se interessasse por nada tão revolucionário. A nova geração usavam motor 3.4V6 com câmbio automático de quatro marchas. Na Europa, a Opel vendeu esse mesmo modelo com o nome Sintra.

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A Silhouette foi produzida até 2004, a Venture até 2005 e Montana – sem o nome Trans Sport- até 2009, enquanto a Opel Sintra durou pouco e saiu de linha logo em 1999. Uma versão Buick, a GL8, foi modificada para ser produzida na China entre 2000 e 2010.

As minivans da GM agradaram ao público menos conservador —diferente dos que compravam as concorrentes da Chrysler, por exemplo— e infelizmente perderam no tempo o avanço tecnológico de fabricação, de desenho e de aproveitamento de espaço que colocaram aquela geração de minivans na história da GM e do automóvel

 

 


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