Classic Cars

Mercedes-Benz: a trajetória da CLK GTR nas pistas

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O Mercedes-Benz CLK GTR foi, não só um carro esportivo de rua (seria mais justo chama-lo de superesportivo), mas também automóvel de competição produzido pela Mercedes-Benz AMG. A divisão AMG é  a referência da marca alemã quando se fala em competição e alto desempenho. O principal objetivo desse carro era a conquista do campeonato FIA GT em 1997.

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O CLK GTR foi criado de ponta a ponta como um carro de pista, com a necessária produção limitada destes modelos em versão de rua para homologação. Vender ao público foi uma preocupação menor dos responsáveis da marca alemã, pois o foco era nas pistas. Assim, as versões de rua eram apenas carros de competição com placas, muito radicais, ao estilo de outros modelos da época, como o Porsche 911 GT-1.

Depois de competir com sucesso em 1997, o carro de pista foi atualizado em 1998 para a “24 Horas de Le Mans” e passou-se a se chamar CLK LM. Após a construção do CLK LMS e CLK GTR na versão de rua, o projeto foi encerrado em 1999, substituído pelo protótipo de Le Mans chamado Mercedes-Benz CLR.

Como o DTM tinha deixado de existir no final de 1996, com apenas duas equipes concorrentes, a Opel e a Alfa Romeo, por culpa dos altos custos dos seus projetos com tracção integral, a Mercedes-Benz ficou sem campeonatos importantes para competir. Com o sucesso do campeonato BPR Global Série GT, a FIA resolveu  transformá-lo num evento internacional, que ficou conhecido como o campeonato FIA GT. A Mercedes-Benz viu ali uma excelente oportunidade para se bater de igual para igual contra fabricantes e eternos rivais como Porsche e a Ferrari.

A Mercedes-Benz, seguindo o desenho e concepção que a Porsche tinha estabelecido com a homologação do 911 GT-1, deixou a sua divisão de competição, a Mercedes-AMG, encarregada desse projeto, com a intenção criar e produzir um automóvel de competição vencedor e que mantivesse vários elementos de um carro de rua da marca.

Os engenheiros da AMG criaram um carro que compartilhou alguns elementos de desenho com o modelo de rua da Mercedes-Benz, o CLK. Porém tinha todas as características normais de um carro de competição. O potente motor V12 Mercedes foi montado em posição central, atrás do cockpit. A carroceria foi produzida toda em fibra de carbono, e continha inúmeros compêndios aerodinâmicos e dutos de arrefecimento, para aos inúmeros abusos que este tipo de carro sofre durante 24 horas.

Para testar o CLK GTR, antes de construir o primeiro chassi a Mercedes-AMG tomou uma medida invulgar e inteligente. Com muito sigilo, adquiriu um McLaren F1 GTR, o antigo campeão da série BPR GT, da equipa Larbre. Esta compra permitiu à Mercedes-AMG acompanhar os tempos efetuados pela concorrência em competição, e permitindo comparar e servir como referência para as capacidades dos seus próprios CLK GTR. No entanto, as medidas incomuns não ficaram nisso, e a Mercedes-AMG começou a modificar esse Mclaren F1 GTR, colocando nela carroceria do CLK GTR. Isto permitiu que a Mercedes-AMG fosse capaz de aperfeiçoar a aerodinâmica do carro, antes mesmo de ter construído a sua própria carroceria.

A Mercedes precisou de apenas 128 dias para concluir os dois primeiros protótipos, e os CLK GTR foram depois inscritos no FIA GT de 1997, estreando na abertura da temporada numa das pistas alemãs, Hockenheimring. Infelizmente os carros muito novos não foram capazes de brilhar, pois sofreram diversosproblemas mecânicos, em especial nos freios. Um dos CLK GTR abandonou com apenas cinco voltas, e o outro terminou mais de 20 voltas atrás do McLaren vencedor.

No entanto, na seguinte corrida em Silverstone, o CLK GTR começou a mostrar suas qualidades, terminando a menos de um segundo atrás do Mclaren vencedor. Na quarta corrida, de novo em território alemão, desta vez no circuito de Nürburgring, um terceiro CLK GTR foi adicionado à equipe. Nessa corrida, a Mercedes-Benz superou com sucesso a frota de Mclaren, tendo conseguido o primeiro e segundo lugar no famoso circuito alemão. A equipe terminou a temporada com mais cinco vitórias, em A1-Ring, Suzuka, Donington, Sebring, e Laguna Seca, permitindo garantir o campeonato por marcas e o de pilotos com Bernd Schneider.

A Mercedes-Benz antes de mudar para o projeto do CLK LM usou o CLK GTR nas duas primeiras provas da temporada. No entanto a equipe privada Persson Motorsport fez o campeonato todo com dois CLK GTR, conseguindo bons resultados, incluindo o segundo lugar em Oschersleben e ncerrando o ano em terceiro no campeonato de equipes.

O conjunto mecânica inicialmente produziu cerca de 600 cv de potência. Depois, com o desenvolvimentos durante a temporada de 1997, esse valor aumentou para 630 cvs. A equipe privada Persson Motorsport permaneceu com esse nível de potência nos seus CLK GTR, mas a Mercedes-AMG mudou o desenvolvimento para o motor V8 que seria estreado no CLK LM.

Depois de conquistar o Campeonato FIA GT, a Mercedes-Benz definiu as suas prioridades para competir na “24 Horas de Le Mans” de 1998, algo que não acontecia desde 1991. No entanto, a prova de Le Mans era um desafio diferente do campeonato FIA GT, uma vez que as distâncias de corrida eram uma fração das distâncias percorridas em Le Mans. Portanto a Mercedes-AMG começou a alterar o CLK GTR, para corresponder da melhor forma às novas exigências da prova francesa.

Em primeiro lugar, a Mercedes-AMG decidiu que o V12 não seria uma unidade motriz capaz de aguentar as 24 horas  de prova sem problemas. Por isso optou por um motor V8 que já tinha usado em competição, no extinto Grupo C no final de 1980.

Abandonando a principal característica desse motor, que era o uso de dois turbocompressores. Para compensar a retirada desses componentes, a Mercedes-AMG alterou o motor para ter mais cilindrada. A marca alemã sentiu que este V8 teria melhores níveis de confiabilidade a alta velocidade, com a mesma potência do antigo motor.

Com o motor definido e preparado, a Mercedes-AMG também fez alterações importantes na carroceria, para melhor lidar com as altas velocidades atingidas em Le Mans. A frente do carro foi reduzida, com as grandes tomadas de ar dos freios dianteiros removidos e substituídos por uma abertura única e ampla na superfície frontal do carro. O teto do carro também foi alterado e ficou mais baixo, e foi instalada uma nova entrada de ar para arrefecer o novo motor. Tudo isso e mais outros ajustes mecânicos que também foram realizados.

Na estreia dos CLK LM em Le Mans, os carros alemães provaram que eram extremamente rápidos. A equipe de dois carros conquistou a pole-position. No entanto, a certeza da Mercedes-AMG de que os motores V8 seriam mais adequados para Le Mans provou ser um erro, e ambos os CLK LM sofreram falhas de motor nas primeiras horas da corrida, deixando a Mercedes-Benz sem chance de conquistar a prova.

Depois desse fiasco, a marca voltou ao campeonato FIA GT, e substituiu os seus antigos CLK GTR pelos novos CLK LM e conseguiu alcançar de novo o sucesso. Os dois carros facilmente ganharam todas as corridas restantes, incluindo terminar a temporada com seis “dobradinhas”. Com isso, conquistou o campeonato por equipes com os pilotos Klaus Ludwig e o brasileiro Ricardo Zonta.

Na temporada de 1999, nenhum concorrente se inscreveu para entrar na classe GT1 do FIA GT, excepto a Mercedes-Benz, o que forçou a FIA a cancelar a categoria, algo que tinha acontecido ao DTM/ITC dois anos antes. No total, foram 22 provas, 17 vitórias, 17 poles, 14 voltas rápidas, dois campeonatos de marcas e dois de pilotos. Entre 1998 e 1999 oram feitos 35 carros, sendo dois protótipos, sete carros de pista, 20 carros de rua e seis roadsters de rua.

Depois desse episódio a Mercedes-Benz, resolveu partir para a construção de um carro totalmente novo para superar seu fracasso em Le Mans. E já não era obrigada a fazer um automóvel específico de competição, e sim baseado num de seus carros de rua. Assim a Mercedes-AMG passou a concentrar todos os seus esforços na criação e desenvolvimento do Mercedes-Benz CLR na categoria de protótipos, mas isso é outra história…


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