Volkswagen: de invejada a estelionatária
Há poucas semanas a Volkswagen era motivo de inveja para a indústria automotiva. Em julho, a empresa alemã ultrapassou a Toyota e se tornou a maior montadora do mundo. E, há poucas semanas, a companhia apresentou modelos novos e reluzentes no Salão de Frankfurt.
Tudo isso já foi esquecido. Agora a mídia só quer saber do escândalo dos motores a diesel sujos. Manipulação. Fraude. Pior ainda: o governo alemão talvez soubesse dessas práticas fraudulentas.
O que estamos testemunhando é nada menos que um dos maiores escândalos econômicos da história da Alemanha.
O caso não gera apenas incerteza na maior indústria alemã, ele também mancha a imagem da nossa economia. Confiabilidade e credibilidade –atributos centrais da nossa indústria automotiva– parecem implausíveis diante desse escândalo.
O mundo ridiculariza com razão essa potência automobilística com a hashtag #dieselgate; a VW foi de empresa modelo a estelionatária. E mentiras e derrocadas desse tipo costumam ser domínio dos grandes bancos.
Estupefatos, examinamos as evidências, que são reveladas aos poucos. O número de carros adulterados chega a 11 milhões, o que significa que o sistema deve ter sido instalado intencionalmente para executar uma fraude dessa escala.
Mas o choque só realça uma tendência que há tempos vem ganhando força. Em alguns anos, vamos olhar para trás e perceber que a indústria automotiva alemã já passou de seu ápice.
Os consumidores dos países ocidentais ricos estão comprando menos carros. Muitos países emergentes enfrentam dificuldades econômicas. E o carro é considerado cada vez menos um símbolo de status.
Ao mesmo tempo, empresas como Apple e Google estão entrando nesse mercado. A propósito, revelou-se que a Apple planeja lançar um carro mais cedo que se esperava.
Os defensores de motores elétricos e híbridos são empresas asiáticas, tais como a chinesa BYD ou a japonesa Toyota.
É claro que os produtores e distribuidores tradicionais dão risada de concorrentes como Tesla, Apple e Google. Talvez os executivos da Nokia também tenham dado risada do primeiro iPhone, mas essa empresa hoje não tem mais nenhuma relevância.
A Apple já mostrou que tem condições de virar a indústria automotiva inteira de cabeça para baixo, como fez com a indústria eletrônica. Há muitas chances de que a empresa repita o feito.
Daqui alguns anos, talvez, vamos olhar para trás e perceber que o escândalo da Volkswagen não balançou a indústria automotiva alemã, mas sim apenas acelerou seu declínio.
— matéria originalmente publicada no The Huffington Post, da Alemanha