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Indústria automotiva: a Europa (muito) preocupada com o pós-Brexit

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O Velho Continente se prepara para tempos conturbados para o projeto Comunidade Européia na sequência do resultado do referendo britânico, que colocou o Reino Unido com um pé fora da União Europeia. Levada a referendo, a continuidade daquele país no projeto da Europa está agora selada, com a vitória da corrente que preferiu afastar-se da CE, o chamado Brexit (de “Britain Exit”, saída britânica). A primeira consequência foi o pedido de afastamento de David Cameron do cargo de primeiro-ministro.

LandRover_UK

Além de todas as implicações políticas, também o panorama econômico irá alterar-se de maneira profunda, na medida em que todos os acordos de livre circulação de bens e de pessoas serão anulados enquanto se negociam as novas regulamentações para ambas as situações. Na área econômica, o Reino Unido é, atualmente, a segunda maior economia da Comunidade Europeia, apenas atrás da Alemanha.

Neste cenário, a indústria automotiva deverá ser fortemente afetada. Desde que a questão do referendo começou a circular, diversas montadoras foram alertando para a necessidade do Reino Unido se manter na CE, argumentando que isso seria benéfico em termos de imppostos e de circulação de mercadorias, que atualmente se encontram vigentes ao abrigo do direito europeu.

A preocupação das montadoras em ver os seus sempre poupudos lucros reduzidos tem explicação. O Reino Unido é um dos mais importantes países da Europa no que diz respeito à produção de automóveis, contando no seu território com fábricas de grupos como a Jaguar Land Rover, BMW, Honda, Nissan e General Motors, entre outros. Todas se preparam com esse momento de incerteza, de acordo com uma fonte da BMW, citada pelo Automotive News Europe, mas este tsunamia socioeconómico que abalou o território europeu na última sexta-feira poderá fazer também com que os custos se tornem desfavoráveis, com paradas na produção e demissão de trabalhadores. As eternas ameaças das montadoras, lá como cá.

“Não podemos dizer o que isto significa para as nossas operações do Reino Unido até que os futuros regulamentos e acordos regulatórios estejam acertados”, afirmou a BMW, numa visão que é compartilhada pela Sociedade de Construtores de Automóveis e Concessionários (SMMT), uma das mais importantes entidades britânicas do setor automotivo, tendo Mike Hawes, responsável da SMMT, explicado que “o Governo deve agora garantir a estabilidade econômica e assegurar um acordo com a CE que salvaguarde os interesses automotivos do Reino Unido”.

Uma das soluções apontadas por Hawes passa pela garantia do “acesso isento de taxas ao mercado europeu e a outros mercados globais, assegurando que podemos recrutar talento da CE e do resto do mundo e tornar o Reino Unido o local mais competitivo na Europa para o investimento no setor automotivo”.

Essa parece ser mesmo a aposta de todas as empresas produtoras no Reino Unido, desejando que agora nas negociações entre Comunidade Europeia e aquele país se consiga garantir a movimentação de bens e pessoas ao abrigo de um acordo que lhe permita ficar na Área Econômica Europeia, mecanismo já beneficia países como a Noruega –que foi apontada como exemplo por diversas vezes pelos defensores do Brexit como um exemplo de sucesso à margem da CE– ou mesmo a Suíça.

A maior produtora do Reino Unido, a Jaguar Land Rover, atualmente pertencente ao grupo indiano Tata Motors, sinalizou que está completamente empenhada na manutenção dos seus locais de produção e decisões de investimento, ainda que não tenha indicado em que moldes se adaptará àquele que é “um mercado estratégico chave para o nosso negócio”.

Mas há muitos mais construtores que podem ser afetados com o rumo a ser tomado pelo Reino Unido nos próximos tempos (o prazo para a saída da UE pode ser de até dois anos). A Nissan, por exemplo, tem no Reino Unido forte presença, com uma fábrica em Sunderland, o mesmo se podendo dizer da Honda, cuja fábrica em Swindon foi ainda recentemente alvo de forte investimento para receber a produção do novo Civic. Também a Toyota ali tem unidades de produção, devendo ser outra das marcas a ter de repensar sua estratégia no Reino Unido.

Para entender melhor a importância da indústria automotiva no Reino Unido, os dados da SMMT indicam que ela emprega cerca de 160.000 pessoas diretamente e 799.000 em empregos indiretos, gerando assim um volume de negócios de US$ 93,5 bilhões. No total, contribiu com 11,8% do total de bens exportados do Reino Unido e investe anualmente US$ 3,2 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento.

 


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