Classic Cars

Le Mans: o WM P88, o Peugeot de 407 km/h

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A “24 Horas de Le Mans” sempre rendeu boas histórias. Alegres ou tristes. Hoje vamos recordar um carro criado com a ajuda da Peugeot, que foi para a pista com uma missão: superar os 400 km/h na reta de Mulsanne. Depois de muito trabalho,  o WM P88 chegou aos 407 km/h.

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As melhores histórias envolvendo automóveis devem começar com “era uma vez um grupo de amigos”. E esta não é uma exceção. É a história de Gerard Welter e Michel Meunier, dois amigos e engenheiros da Peugeot, que decidiram dar um novo significado à expressão “diversão”.

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Welter e Meunier combinaram que, em suas poucas horas livres, gastariam o tempo num objetivo exagerado e ambicioso. Poderia ser acampar no final de semana longe das esposas, escalar o Everest ou regular o TBI de um Renault Twingo. Mas nada disso. Eles queriam mais!

Os dois engenheiros decidiram montar uma equipe de competição, desenvolver um carro a partir do zero e simplesmente correr a “24 Horas de Le Mans”.  Estávamos no final da década de 1960 quando a equipa WM – iniciais dos seus nomes– finalmente ganhou forma.

Em 1976 a WM alinhou pela primeira vez em Le Mans, na categoria GTP (Grand Touring Prototype) com um motor de origem Peugeot (óbvio…). A equipe era formada por amigos e voluntários, e para um grupo com estrutura tão amadora, os resultados até que eram muito bons. Porém, com a chegada do Grupo C e a crescente profissionalização do automobilismo, a WM começou a perder competitividade diante da concorrência. E, como sabemos, no automobilismo ninguém gosta da perder.

Após a edição de 1986 de Le Mans, marcada por resultados pouco satisfatórios, Welter e Meunier decidiram que talvez fosse tempo de começar a pensar noutro rumo para WM.

Cada vez mais longe do pelotão da frente, os dois amigos decidiram estabelecer uma nova meta para a WM. Daquele momento em diante, todos os esforços e recursos seriam aplicados num só objetivo: quebrar a barreira dos 400 km/h na reta de Mulsanne em Le Mans.  Nasceu assim o “Project 400”.

Com base no carro de competição que tantas alegrias já tinha dado à WM, esta corajosa equipe desenvolveu o WM P87 Peugeot. Um modelo que tinha por base o velho chassis monocoque em alumínio com estrutura central do tipo “backbone” –para garantir a necessária rigidez estrutural– e suspensões independentes nos dois eixos. Naturalmente, todos os painéis exteriores foram revistos. O P87 era mais largo e mais comprido do que o WM original, com o propósito de diminuir o arrasto aerodinâmico e aumentar a velocidade máxima.

A Peugeot decidiu apoiar o projeto e, durante mais de quatro meses, deu autorização à WM para usar o seu túnel de vento. Apenas aos domingos, claro. O apoio da Peugeot foi uma das razões para o sucesso da equipe. Além do túnel de vento, a Peugeot cedeu também motores da PRV. A PRV era uma empresa resultante da joint venture entre a Peugeot, Renault e Volvo, com o propósito de desenvolver e fabricar motores de alta cilindrada. Este motor PRV que equipava o WM P87 recorria a uma arquitetura V6 com 2.800 cm3, capaz de superar os 850 cv de potência máxima, graças à ajuda de dois turbocompressores.

Enquanto os carros do Grupo C recorriam a soluções aerodinâmicas para maximizar a velocidade em curva, no WM P87 Peugeot as preocupações eram outras: maximizar a velocidade em reta. Apesar do P87 terem enorme asa traseira e spoiler frontal, o objetivo destes apêndices aerodinâmicos não era gerar “downforce”, mas apenas melhorar a estabilidade direcional.

No primeiro teste em Le Mans, devido a problemas de gerenciamento eletrônico, a velocidade máxima alcançada foi de “apenas” 356 km/h. Mas num teste seguinte, feito numa estrada (que ainda não tinha sido aberta ao público) o resultado foi mais animador. O P87 registou 416 km/h de velocidade máxima. Estava tudo alinhado para bater o recorde de velocidade máxima em Le Mans.

A equipe estava confiante, mas logo o sonho deu lugar à decepção. O combustível com baixo índice de octanas causou imensos problemas ao motor (pré-detonação e sobreaquecimento) e ao fim de apenas 13 voltas a mecânica sucumbiu. Ainda assim, foram voltas suficientes para o P87 registrar a velocidade máxima de 381 km/h.

A WM não atingiu os 400 km/h que ambicionava, mas pelo menos bateu o recorde de velocidade máxima em Le Mans.

Welter e Meunier não desistiram. O potencial do projeto estava lá e, em 1988, regressaram com dois carros. Um WM P88 Peugeot (evolução do carro do ano anterior) e o “velho” WM P87 Peugeot, com novo “pacote” aerodinâmico. O carro novo, comparado com o do ano passado, tinha como grandes novidades o motor e a suspensão traseira. Graças a um ligeiro aumento da cilindrada do motor, a potência superou os 900 cv.

Na primeira sessão de testes, o P88 foi apanhado pelos radares a 387 km/h. Como se não bastasse, o P87 abandonou a prova, devido a problemas na transmissão, ao fim de apenas 13 voltas. E a situação do WM P88 Peugeot não era mais animadora. Roger Dorchy, um dos pilotos da WM, conseguiu arrastar o P88 até às boxes, apesar dos problemas de gerenciamento do motor e na carroceria. Durante mais de três horas, os mecânicos tentaram solucionar os problemas do carro. E conseguiram. Era agora ou nunca.

Há momentos na vida e no automobilismo que “é tudo ou nada”, e a WM decidiu arriscar tudo. A equipe deu ordem aos mecânicos para aumentar a pressão dos turbos, e pediu a Roger Dorschy para acelerar tanto quando possível pelo motor na reta de Mulsanne. E assim, nas voltas seguintes, o WM P88 Peugeot superou por diversas vezes a barreira dos 400 km/h.

Ainda que a velocidade máxima alcançada tenha sido de 407 km/h, a pedido da Peugeot a equipe decidiu divulgar outro valor: 405 km/h. Porque? Por que estava sendo lançado o novo Peugeot 405…

Naturalmente, com todos os problemas que já tinha tido e com o aumento da pressão dos turbos, foi questão de tempo até o P88 regressar aos boxes para não voltar mais para a pista. Problemas elétricos, problemas de arrefecimento e problemas nos turbos… o carro estava amarrado com por arames, mas conseguiu seu recorde!

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Em 1989 a equipa WM ainda regressou a Le Mans mas nem chegou a alinhar na corrida. Foi a última vez que a WM participou da “24 Horas de Le Mans”. Em 1990 foram adicionadas duas chicanes à reta de Mulsanne. Uma alteração que deverá garantir que, na história da “24 Horas de Le Mans”, nenhum carro conseguirá bater a marca de 407 km/h do WM P88 Peugeot. Será?


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