Mercado: enquanto a Europa agoniza, China prepara uma fusão histórica
No momento em que a indústria automotiva europeia enfrenta pressões de todos os lados -e cada vez maiores- a China dá mais um grande passo. Os asiáticos estão preparando a criação daquele que poderá se tornar o quinto maior grupo automotivo do planeta, com a fusão da Dongfeng e a Changan. As negociações estão bastante adiantadas nesse sentido.
por Marcos Cesar Silva

A altamente provável fusão entre a Dongfeng Motor e a Changan Automobile representa um marco no setor automotivo e reforça o domínio chinês na produção e venda de veículos em um cenário que se mostra incerto para muitos fabricantes europeus. Enquanto as marcas da Europa lutam para se adaptar a um emaranhado de regulamentações ambientais, padrões de segurança e níveis de emissões cada vez mais rigorosos, na China a indústria está avançando com decisões estratégicas de médio e longo alcance.
Fundada em 1969, a Dongfeng já vendeu cerca de 60 milhões de veículos, com ativos atingindo US$ 69,2 bilhões e um quadro de funcionários de 121.000 (em 2023). Ela é dona da marca de veículos elétricos de ponta Voyah e tem joint ventures com a Honda Motor, Nissan Motor e Stellantis.
Já a Changan foi criada 30 anos depois, em 1999 e detém mais de 50 empresas e organizações de pesquisa e desenvolvimento, incluindo Changan Auto, Tianwei Group, Jialing e Jianshe. Ela tem mais de 30 bases de produção e redes de marketing em todo o mundo, e ainda tem laços com a Ford, Suzuki, Mazda, Yamaha e Fuji.
A possível fusão entre a Dongfeng e a Changan não apenas consolidaria o novo grupo como o maior da China em termos de vendas, com produção estimada de 4,6 milhões de unidades por ano, mas também lhe permitiria ultrapassar a BYD e se colocar entre as cinco maiores fabricantes de automóveis do mundo.
A iniciativa das duas marcas chineses faz parte da estratégia do governo local de fortalecer sua indústria em um mercado que está rapidamente em transição para a eletrificação. Segundo a mídia chinesa, a nova empresa terá como presidente Yang Qing, atualmente responsável pela Dongfeng, e outro executivo da mesma empresa.

As repercussões dessa fusão não se limitam à reorganização societária, mas buscam também otimizar a cadeia de suprimentos, investir em pesquisa e desenvolvimento, além de deixar para trás a concorrência. A expectativa é que a nova entidade consolide a compra de peças e reúna o desenvolvimento de novas tecnologias e patentes.

Os fabricantes de automóveis no Velho Continente precisam enfrentar regulamentações rígidas sobre emissões de CO2, o que levou a grandes investimentos em eletrificação e gerou incerteza sobre o futuro do motor de combustão. Além disso, a política de ajuda da União Europeia tem sido considerada errada e colocou muitas marcas em desvantagem diante da estratégia agressiva de expansão dos fabricantes chineses, que conseguiram posicionar seus veículos elétricos a preços mais competitivos -e porque não dizer justos- apesar da política tarifária agressiva muitas vezes imposta a eles.
Enquanto a Europa atordoada debate o futuro de sua indústria, a China age com determinação, consolidando seu domínio no setor e demonstrando que seu modelo de reorganização e apoio estatal continua dando frutos.