Mustang: de motor traseiro a 4×4,10 conceitos que nunca entraram em produção
O Ford Mustang é um dos ícones automotivos globais mais famosos e cobiçados, que povoa o sonho de milhares e milhares de entusiastas. O Chevrolet Camaro foi embora, voltou e desapareceu; o Dodge Challenger também, mas o Mustang não. Com altos e baixos em sua trajetória, continua aí, mais firme e forte do que qualquer outro concorrente. Na verdade, é o único carro na história que transcendeu com sucesso suas origens de pony car/muscle car para se tornar um carro esportivo completo. Durante seus 55 anos de história, o Mustang percorreu um longo caminho desde seu humilde chassi baseado no usado no Ford Falcon até os níveis de desempenho e dirigibilidade “matadores de Porsche” de hoje.
por Ricardo Caruso, com Motor Junkie
E como todos provavelmente já sabem, existem vários modelos, gerações e versões deste modelo legendário. No entanto, a lista a seguir não é sobre essas variações bem conhecidas do Mustang. É sobre algo diferente, os modelos que a Ford de alguma forma considerou seriamente para produção, mas que por diversas razões nunca chegaram à linha de montagem.
Estes são carros realmente interessantes e históricos, que a Ford deixou naquela área nebulosa entre a ficção e a realidade. Embora esses Mustang tenham conseguido sair das pranchetas e ir até a distante fase de protótipos, eles nunca chegaram às concessionárias. Então, aqui estão 10 Mustang que quase conseguiram -e podiam- mudar mais um pouco os rumos da história do modelo para sempre.
10. Mustang I 1962
O concept Mustang I foi um grande passo quando a Ford o apresentou no final de 1962 como um veículo conceitual totalmente funcional. Esta foi a primeira vez que a marca usou o nome, “Mustang”, que na verdade pertencia a outra empresa. E desde o início, ficou claro que o público adorou. O nome Mustang criou uma conexão com a mitologia do Velho Oeste. E isso acabou sendo um grande truque de marketing para a Ford.
O Mustang I era um pequeno roadster de dois lugares com motor V4 montado na traseira, vindo da Ford Europe. Ele tinha uma carroceria moderna para a época, em forma de cunha, feita de alumínio leve. A ideia original por trás do conceito era desenvolver um pequeno e eficiente carro esportivo. A Ford queria competir com as importações europeias, como o Triumph TR3 ou o MG A. Mas, apesar da reação favorável dos jornalistas especializados e público, a Ford decidiu seguir outro caminho.
9. Mustang Sedan 1964
Quando a Ford desenvolveu o Mustang no início dos anos 1960, eles não só fizeram um novo modelo, mas também criaram uma nova classe de carros a dos pony cars. Na tradução do inglês, significa algo como “carro pônei”, indicando um carro menor, menos potente e mais barato que o muscle car, numa analogia entre pôneis e cavalos, ainda assim imponente e com características que lembram um muscle car. Como não havia pony cars antes do Mustang, a equipe de desenvolvimento da Ford seguiu o projeto em várias direções. E uma delas foi o Mustang em um estilo de carroceria de quatro portas. O carro até parecia atraente e manteve todas as linhas e proporções clássicas do Mustang cupê. No entanto, a Ford logo percebeu que o sedã Mustang canibalizaria as vendas do Falcon. Isso porque eles basearam o Mustang na mesma plataforma com os mesmos motores do Falcon. Mas a principal razão pela qual a maioria dos entusiastas de carros ficou feliz por eles terem decidido não construir este Mustang foi que um modelo de quatro portas teria arruinado seu apelo esportivo.
E isso poderia mesmo ter afetado o sucesso do novo modelo. Um Mustang carroceria de quatro portas seria apenas mais um sedã familiar compacto sem grandes apelos. Já um Mustang cupê de duas portas (acima) ou conversível, era um carro de desempenho empolgante e voltado ao público jovem. “Familiar” era o que a Ford não pretendia que seu pony car fosse.
8. Mustang III 1964 “dois lugares”
A Ford comercializou o Mustang como um carro esportivo, embora o tenha construído na plataforma Falcon com motores comuns. Os críticos achavam que o carro precisava de uma configuração de dois lugares -como o Thunderbird original ou o Chevrolet Corvette- para ser um carro esportivo adequado. Então a Ford contatou uma empresa externa para produzir uma versão mais curta, de dois lugares, do Mustang.
Eles chamaram o resultado de Mustang III. Ele serviu como carro de exposição da Ford na temporada de Salões e eventos de 1964-1965. Curiosamente, a Ford simplesmente perdeu esse carro depois disso. Mas ele permaneceu inteiro e bem guardado, ressurgindo alguns anos atrás. Desde então, muitos consideram o Mustang III uma das peças mais interessantes da história do Mustang.
7. Mustang 4×4 1965
Em 1965, o Mustang já era um dos cupês mais cobiçados do mundo, atraindo a atenção onde quer que aparecesse. No entanto, na Inglaterra, a Ferguson, fabricante bem estabelecida e tradicional de máquinas agrícolas e sistemas de tração nas quatro rodas, decidiu converter um Mustang comum com motor V8 em um cupê com tração 4×4. Quase imediatamente, a Ford enviou vários carros para a Inglaterra para receber o sistema de tração nas quatro rodas Ferguson.
A Ferguson acoplou ao motor V8 e transmissão padrão da Ford seu sistema AWD, ou 4×4. Os resultados foram até promissores, já que aqueles protótipos AWD dos Mustang tinham boa dirigibilidade e tração excelente em qualquer condição. A desvantagem era o peso e o custo adicionais. A Ford levou alguns exemplares de volta para os Estados Unidos para testá-los ainda mais, mas arquivou o projeto.
6. Mustang Bertone 1965
Como o Mustang era um carro muito popular em meados dos anos 1960, muitos construtores de carrocerias e estúdios de desenho tentaram melhorar o seu estilo. Eles queriam apresentar suas próprias criações, baseadas no best-seller da Ford. Mas um dos mais interessantes foi o Mustang Bertone de 1965. Eles o apresentaram pela primeira vez no Salão de Genebra daquele ano.
O Mustang Bertone foi um carro totalmente redesenhado, com base na plataforma do Mustang GT. A Bertone fez uma carroceria diferente, bem européia, com a aerodinâmica aprimorada, interior personalizado, faróis escamoteáveis e detalhes especiais. No entanto, a Ford não estava interessada, então os italianos só fizeram e venderam um exemplar. E até hoje o paradeiro deles é desconhecido.
5. Mustang Mach 2 1967
O sucesso do modelo de produção deu aos desenhistas da Ford a chance de explorar o conceito de carro esportivo em muitas direções. Assim que o primeiro redesenho do carro apareceu em 1967, a Ford apresentou o conceito Mach 2. Este foi um dos vários carros com o nome “Mach” que mais tarde apareceriam no circuito de produção regular da Ford, mas o formato e o layout era sempre bastante diferente.
O Mach 2 era um carro esportivo de dois lugares, com capô longo e traseira curta, bem como a configuração de motor central. O carro era como uma versão acessível do GT 40 de pista, com impressionante pintura vermelha e rodas de liga-leve Shelby. Infelizmente, a Ford nunca produziu o conceito, então o Mach 2 serviu apenas como um item de exposição de carros.
4. Shelby GT500 “Super Snake” 1967
A Ford construiu este Shelby GT500 exclusivo para ser uma espécie de “laboratório móvel”, para mostrar as possibilidades da plataforma Mustang, bem como testar a linha de pneus “Thunderbolt” da Goodyear. Ele tinha motor de corrida, o mesmo do GT40 vencedor de Le Mans, transmissão especial, suspensão e pneus exclusivos. Mas a Ford produziu apenas um exemplar.
Havia planos para uma produção limitada, mas o preço proposto era de mais de US$ 8.000. Isso era uma quantia enorme de dinheiro no final dos anos 1960. E foi uma pena, já que o Super Snake era capaz de atingir velocidade máxima de 273 km/h (170 mph). Esses números eram inéditos no final dos anos 1960 e poderiam ter feito do Mustang ex-pony, o muscle car mais rápido do mundo.
3. Shelby “Little Red” 1967
Depois de quase 50 anos de busca, no início de 2018, alguém encontrou o raríssimo e cobiçado cobiçado Shelby “Little Red” (“Chapeuzinho Vermelho”) abandonado num terreno no Texas. Conhecido apenas por um punhado de fanáticos por carros, o “Little Red” era um protótipo da Shelby há muito tempo perdido e a peça que faltava no quebra-cabeça na história da empresa. Então, o que torna este velho Mustang tão importante?
Era um modelo especial de 1967, notchback, emprestado pela Ford para a Shelby American para ser equipado com inúmeras peças experimentais e um motor 428V8 superalimentado.
Mas o melhor de tudo, era o único cupê GT500 notchback de 1967 que a Shelby construiu. Eles usaram o carro para o desenvolvimento do famoso “pacote California Special”. No entanto, no final dos anos 1960, o carro desapareceu e todos pensaram que ele tinha sido destruído. Até ser localizado, salvo e restaurado.
2. Shelby EXP “Green Hornet” 1968
Durante o auge do Mustang, a Ford e a Shelby trabalharam duro para explorar todas as possibilidades e os limites da plataforma e da engenharia do Mustang, produzindo vários protótipos interessantes. E um dos mais populares é o “Green Hornet” (“Besouro Verde”) de 1968. Embora não tenha sido o único carro que eles construíram, o “Green Hornet” apresentou recursos inovadores, como um motor 390V8 equipado com injeção de combustível.
Ele também tinha freios a disco exclusivos nas quatro rodas e suspensão traseira independente. Com esse layout, o “Green Hornet” era um carro realmente capaz, que acelerava e freava melhor do que qualquer outro esportivo no mercado. Infelizmente, o custo de produção desses recursos era muito alto, então a Ford e a Shelby decidiram seguir com uma tecnologia mais convencional.
1. Ford Mustang Boss 429 1969 com motor traseiro
Este é um dos protótipos mais interessantes do Mustang. Embora não tenha aparecido no circuito de exibições no final dos anos 1960, causou muitas controvérsias. Basicamente, era um Mustang Boss 429 de 1969, mas com o motor no porta-malas…
A Ford fez alguns testes extensivos para checar se essa possibilidade tinha vantagens significativas sobre o layout padrão. Eles colocaram o motor longitudinal no porta-malas e o conectaram às rodas traseiras com uma unidade de transmissão automática C6.
A Ford transformou o vidro traseiro em uma tampa para ter acesso ao motor. E toda a conversão foi surpreendentemente livre de problemas. Este Boss 429 tinha um equilíbrio de peso de 40/60%. Então, o peso adicionado sobre o eixo traseiro ajudava o carro nas arrancadas, diminuindo a perda de tração nas acelerações. E só. A Ford percebeu que não havia nenhuma melhoria significativa de desempenho, então decidiu abortar o projeto. Mandou esse protótipo para um terreno onde descansavam diversos outros modelos experimentais e, pouco antes de ser escrapeado, simplesmente desapareceu… Felizmente.