O aerodinâmico Pininfarina X 1960
A aerodinâmica é uma ciência que tem bastante impacto no desenvolvimento de um automóvel nos dias atuais, seja para melhorar seu desempenho, seja para obter o menor consumo possível, ou até para aumentar o conforto a bordo. Uma referência nesse quesito é o Pininfarina X de 1960.
No entanto, na história secular do automóvel nem sempre foi algo que estivesse presente nas necessidades principais do automóvel. Desde cedo se percebeu que o automóvel atingia maior velocidade quanto melhor fosse a sua aerodinâmica, mas normalmente isso era associado aos automóveis de competição e não aos carros de rua. Só na década de 1960 foi que os automóveis começaram a ter um estudo mais sério no que diz respeito à aerodinâmica.
É aí que entra na história o Pininfarina X, conceito com código interno Pf-X, um automóvel que foi o limite do estudo cientifico da aerodinâmica, feito por Alberto Morelli (professor no Politecnico di Torino), e um desenho original da carroceria, com um posicionamento incomum das quatro rodas e com reduzida área frontal. Com isso, conseguia um coeficiente de penetração aerodinâmica (Cx) de apenas 0,23.
Isso seria muito bom mesmo nos dias de hoje, pois permite conseguir também uma maior velocidade máxima -cerca de 20% de ganho- com menor consumo, mesmo usando um motor convencional, que neste caso era um Fiat de 1.089 cm3 e 43cv, acoplado a uma caixa de câmbio manual de quatro velocidades manuais.
A apresentação ao público aconteceu no Salão de Turim de 1960 e, posteriormente, foi levado ao Salão de Bruxelas de 1961.
O visual era tipicamente aeroespacial. Era a época em que o homem sonhava em ir à Lua, Estados Unidos e União Soviética disputavam a corrida para ver quem chegaria primeiro ao satélite da Terra e começaram a aparecer vários automóveis com desenho inspirado em naves de ficção científica. Por isso, o Pininfarina X foi talvez o resultado mais radical desse desenho.
As rodas obedeciam um layout incomum, em forma de losango. A única roda frontal era responsável pela direção, enquanto que as duas rodas laterais serviam apenas para estabilizar o carro. A roda traseira é a única que tinha tração, ligada diretamente ao motor, que era montado também ena traseira, deslocado para o lado direito; do lado esquerdo ficava um pequeno espaço para bagagem.
Aquela não foi a primeira vez que esse layout de rodas em losango foi aplicado num automóvel. A Sunbeam, no início do século XX fez cerca de 100 carros assim. Mais adiante, a Voisin e Wolseley fizeram algo assim. O americano Gordon Hansen em 1947 também tentou o formato de losango num carro batizado de Gordon Diamond.
Ainda em 1947, a francesa Alamagny Rhomboid Automobile (foto abaixo) apresentou um carro de quatro lugares, dois a dois de costas. Outros fabricantes tentaram essa disposição, que por algum tempo foi considerado o futuro dos automóveis.
Voltando ao Pininfarina, o interior podiam se acomodar quatro pessoas com bastante espaço.
Como curiosidade, Battista “Pinin” Faria dirigiu o PF-X diversas vezes, indo para vários eventos, de modo a chamar atenção e conseguir algum tipo de apoio para poder produzir seu aerodinâmico carro em série. No entanto, como todos sabem, isso não aconteceu. Outra curiosidade é que só em 1961 a empresa se passou a chamar Pininfarina, até então era Pinin Farina, mas este modelo já foi apresentado com o nome todo junto.
O Pininfarina X permaneceu no museu da marca até 2007, quando foi adquirido pelo colecionador John Rosatti, na mesma condição de que foi apresentado em 1960. Depois foi levado a leilão nos Estados Unidos em 2015, arrematado por US$ 330 mil.
Farina trabalhou duro para vender a ideia aos grandes fabricantes, mas ninguém se interessou. Além da posição diferente das rodas, o que fazia com que os passageiros da traseira sentassem sobre a linha imaginária do eixo central da carroceria, o sistema de tração e direção em apenas uma roda comprometia a durabilidade dos pneus.
Outro problema era a capacidade de arrefecimento do motor, que tinha apenas a entrada de ar na tampa e radiador atrás do motor, recebendo o calor do motor.
Para tentar contornar isso, a Pininfarina pediu para Morelli outro desenho, o modelo Y, desta vez com as quatro rodas em posição convencional. Era muito parecido com o X, mas a busca pela melhor praticidade fez o Cx subir para 0,27, mostrando que os conceitos de aerodinâmica originais de Morelli eram corretamente. Desta vez o carro foi baseado num Fiat 600D, e foi exibido no ano seguinte, em 1961, também no Salão de Turim, mas a ideia parou por aí.