OLDSMOBILE TORONADO 1966: O DIVISOR DE ÁGUAS
O Cord 1929 tinha tração dianteira, mas não era um carro de grande produção. Antes dele, o austríaco Graff & Stiff, do século 19 (1895-1898), é reconhecido como o primeiro carro do mundo a ter tração nas rodas da frente. Em 1966, a grande maioria dos carros era equipada com tração traseira, bem diferente dos días de hoje, onde por razões diversas, esse recurso acabou virando exceção, e não regra.
Existia um limite técnico para não usar tração dianteira em carros com motor acima de 2.000 cm3 e mais de 1000 kg de peso, pois nao só os pneus dianteiros não suportariam o peso, tração e freios, como também era difícil passar o torque da transmissão para o chão. Muita potência e torque acabariam transmitindo movimentos indesejáveis para a direção, e os semi-eixos e homocinéticas da época também não eram resistentes o suficiente para isso.
Mas em 1966 a GM mudou essa história, ao lançar o Oldsmobile Toronado. A idéia era criar um automóvel diferenciado, com mais espaço interno e de melhor dirigibilidade. Essa criação foi apresentada naquele ano por John Beltz, que era o engenheiro-chefe da Oldsmobile. Foram sete anos de ttrabalho até chegar nesse resultado. Era uma grande inovação em termos de carros americanos, acostumados com motor e câmbio na dianteira, e cardã, diferencial e tração na traseira. Se desse certo, mudaría um pouco a história do automóvel.
SEM LIMITES
Com liberdade para criar, Beltz e seus engenheiros deixaram de lado os conceitos em uso até entao e investiram em fazer um conjunto mecânico que suportasse todas as exigencias da tração dianteira, sem comprometer em especial a direção. Era preciso ter segurança e conforto nos mesmo níveis dos tração traseira. Na metade dos anos 1960, a engenharia da GM era realmente forte e buscava sempre inovar. E realmente inovou, a ponto da maioria dos carros de hoje ter tração nas rodas da frente.
De imediato a Oldsmobile esqueceu a idéia-limite dos motores 2.0 e uma tonelada de peso. O Toronado pesava mais que o dobro disso, 2.100 kg, com quase 5,5 metros de comprimento. Um carro grande, com 2 m de largura, como os americanos gostavam. E no lugar do motor 2.0, veio com um muito maior, 7.0V8, com quadrijet (Rochester Quadrajet), de 390 cv de potência máxima a 4.800 rpm, e 66 mkgf a 3.200 rpm de torque máximo, tudo despejado nas rodas da frente.
Acolhendo toda essa mecânica, uma carrocería da mesma forma interessante. O Toronado era um carro longo, baixo e largo. A traseira seguía o estilo fastback, na frente os faróis eram escamoteáveis e os pára-lamas desenhados com cuidado. As portas eram amplas, para facilitar a entrada dos passageiros no banco de trás, enquanto na dianteira notava-se o assoalho quase plano; acomodava seis passageiros sem esforço. Enfim, um conjunto que impressionou de imediato, reunindo o novidade da tração dianteira e um desenho inspirado.
ENGENHOSO
A carroceria era monobloco mas usava um subchassis na frente que suportava motor, câmbio e as suspensões. A suspensão dianteira também exigiu cuidados, pois para eliminar a mola helicoidal que atrapalharia o semi-eixo, foram adotadas barras de torção longitudinais, deixando assim o espaço libre para as semi-árvores de transmissão. Na traseira, um eixo rígido de desenho simples, apoiado em uma lâmina de mola em cada lado, com amortecedores duplos em cada roda, um vertical e outro horizontal, para impedir movimentos indesejados do eixo.
Para garantir mais segurança nas frenagens, as rodas também eram diferentes, pois o Oldsmobile usava raio de rolagem negativo, e isso fazia com que o centro da roda ficasse mais para fora do carro. Estas rodas eran calçadas com pneus especialmente desenvolvidos para o carro, diagonais 8.85×15 criados pela Firestone, e batizados de Firestone T-FD (Toronado Front Drive).
E para segurar as duas toneladas de peso, os freios até que não eran sofisticados. Nada de discos, e sim grandes tambores de alumínio. Apesar de ser o máximo que se dispunha em termos de tambores, eram obviamente insuficientes para frear o carro. Foram trocados por discos ventilados na dianteira na linha 1968.
MOTOR BIG BLOCK
O motor 7.0V8 era o mesmo big block que já equipava alguns Oldsmobile. Era montado longitudinalmente na dianteira e um pouco deslocado para a direita. No motor era montado o conversor de torque (só existiu Toronado automático) acoplado a uma corrente larga, de cerca de 5 cm, que levava o movimento para o câmbio automático TH400 de três marchas, que ficava posiciionado do lado esquerdo do motor. O diferencial ficava na frente da caixa de câmbio, e só o semi-eixo da direita passava por baixo do motor, num contorno do cárter. De cada lado, duas juntas homocinéticas completavam o sistema de transmissão.
Hoje tudo parece normal, mas em 1966 serviu para mostrar que o sistema de tração dianteira podia ser usado em qualquer carro, sem limites de peso ou potência. A engenharia da GM iniciou a popularização da tração nas rodas da frente. Mesmo assim, as vantagens da tração dianteira não foram entendidas de imediato pelas outras fábricas. Por isso, o Oldsmobile Toronado permaneceu muito tempo como uma exceção entre os carros americanos maiores.
O tempo e a redução de custos popularizou depois os carros tração dianteira, enterrando de vez o preconceito e os limites técnicos imaginados. Quatro gerações e 26 anos depois, o Toronado saiu de linha, em 28 de maio de 1992. Mas ostenta com orgulho a fama de ter sido o primeiro carro grande, V8 e pesado a ser produzido em grande série com tração nas rodas da frente.