Oldsmobile Aerotech, o GM aerodinâmico
A Oldsmobile, antiga divisão da General Motors, foi fundada em 1897 e teve as atividades encerradas 107 anos depois, em 2004. Quem pensa na marca lembra de um ou outro carro memorável, como os 88, os Cutlass e os 442. Mas poucos imaginam que a Oldsmobile traz em sua história carros sofisticados tecnicamente e concept cars muito avançados. Um bom exemplo disso é o conceito Aerotech, de 1987, que tinha como objetivo alcançar velocidades estonteantes. Se suas marcas ainda impressionam hoje em dia, imagine há 25 anos.
O Aerotech era muito diferente dos carros que nascem de desenhistas orientados pela área de marketing das montadoras, em geral sem mecânica, feitos apenas para causar impacto e avaliar reação de consumidores em potencial. O conceito surgiu do esforço dos engenheiros da Oldsmobile, que imaginaram ser ele uma boa oportunidade para mostrar o vigor do motor Quad4, que estava em vias de equipar os carros de linha da marca.
O Quad4 era de quatro cilindros em linha, 2.260 cm3, duplo comando de válvulas e quatro válvulas por cilindro, oferecendo em sua versão mais simples 160 cv de potência máxima, o mesmo que rendiam muitos motores V6 da época.
CHASSI DE INDY
Com uma equipe comandada pelo engenheiro chefe da Oldsmobile, Ted Louckes, foi criado o primeiro protótipo, montado num chassi de Fórmula Indy, com carroceria de fibra de carbono (material raro e caro naqueles tempos), ao mesmo tempo em que foi desenvolvido um motor Quad4 especial, com 2.000 cm3 e turbo, bastante preparado, que chegava aos 900 cv de potência máxima.
O atual chefão de design da GM, Ed Welburn, na época era o projetista chefe da Oldsmobile, criou as aerodinâmicas linhas do Aerotech e apresentou o projeto aos executivos da marca. O desenho foi aprovado de imediato e, nos proimeiros testes em túnel de vento, se mostrou bastante eficiente.
Com linhas limpas, lisas e fluidas, o Aerotech praticamente não tinha componentes que interferiam na aerodinâmica. A idéia inicial era ir além do desenhado por Welburn e manter o conjunto de rodas e pneus cobertos, mas isso mantinha os pneus muito quentes em velocidade máxima, o que acabou sendo confirmado pela Goodyear.
ASSOALHO
O maior trunfo do Aerotech em se tratando de aerodinâmica não era visível: existiam painéis no assoalho que eram reguláveis, diminuindo ou ampliando a sustentação negativa conforme a velocidade e condições de vento, temperatura e pista.
Essa solução se mostrou muito eficiente e demonstrou garantir excelente estabilidade ao carro nos testes que a GM promoveu em sua pista, em Mesa, Califórnia. Pilotado por A. J. Foyt, o carro superou os 350 km/h. Com o sucesso da experiência, foi feita a construção do segundo Aerotech, com a traseira mais curta e motor de 2.000 cm3 biturbo, que beirava os 1.000 cv de potência. A Oldsmobile nunca confirmou ou desmentiu esse número.
Os dois Aerotech foram levados para a pista de Fort Stockton, no Texas, no dia 26 de agosto de 1987. O desempenho foi surpreendente: o carro antigo, de traseira longa, marcou impressionantes 442 km/h, e no dia seguinte, A.J. Foyt, com o mesmo carro, marcou o recorde de 430,2 km/h. Com o carro de traseira curta, registrou 413,7 km/h. Os dois Aerotech fulminaram o recorde anterior, que pertencia ao Mercedes-Benz C111-IV, com 403,7 km/h.
Esse desempenho espantoso do Aerotech era tudo o que a Oldsmobile precisava, e os recordes alcançados foram explorados ao extremo, com farta publicidade e presença dos carros em eventos, divulgando a “empresa mais rápida do mundo”. Mas logo os carros foram guardados e, com o tempo, todo esse sucesso ficou esquecido.
DE VOLTA
Em 1992 a Oldsmobile iria apresentar o motor 4.0V8 de 32 válvulas, 250 cv, baseado no Cadillac Northstar, que equiparia o sedã Aurora. Alguém lembrou da história dos Aerotech, e a GM decidiu criar um novo projeto, aproveitando os dois carros. A idéia era voltar a quebrar recordes de velocidade em testes de longa duração, para demonstrar as virtudes do novo motor.
Assim, os dois Aerotech -de traseira curta e de traseira longa- foram reestilizados, receberam faróis e lanternas, novas tomadas de ar, outra cobertura para o cockpit e pneus de perfil mais alto. Um terceiro modelo foi construído com as mesmas características. Os motores Autora já eram bem potentes e recebiam apenas outras regulagens do sistema de admissão, comandos de válvulas e escapamento.
Os três carros com motores Aurora V8 foram levados de volta para a pista de Fort Stockton. Era o dia 4 de setembro de 1992, e os Aerotech Aurora rodaram por oito dias sem parar (apenas reabastecimento e checagem de pneus) e registraram 47 recordes, entre eles o de maior velocidade média durante 10.000 km (247,7 km/h) e em 25.000 km (254,8 km/h).
Essa prova de oito dias foi tão dura que equivaleu a mais de 30 corridas de “500 Milhas de Indianápolis”. Depois disso os três ganharam o merecido descanso num galpão da GM, onde repousam orgulhosos da missão cumprida.