OS PREJUÍZOS BILIONÁRIOS DA HISTÓRIA DO AUTOMÓVEL
A lista dos 10 maiores fracassos modernos da indústria automobilística inclui carros como o Fiat Stilo, Peugeot 1007, Smart For Two e VW Phaeton. O estudo feito pela Bernstein Research, explica que os “bilhões perdidos com esses modelos causaram severas dificuldades financeiras às montadoras e quase as levaram à falência”.
Max Warburton, o analista financeiro que criou este ranking, trabalha para a Berstein Research, e fez um longo e detalhado estudo envolvendo os valores de produção, custos fixos com a faricação de cada modelo, investimentos e custos de pesquisas e desenvolvimento. Além disso, a equipe de Warburton analisou o que seria o preço ideal para cada modelo, a contribuição de cada um deles e os custos de final de produção. Juntos, os 10 maiores fracassos da indústria automobilística recente somam US$ 22 bilhões… Por conta disso, muitas cabeças rolaram,
Confira o Top 10 dos prejuízos automobilísticos:
1 – SMART FORTWO
A primeira geração do ForTwo da Smart foi um desastre. O projeto do carro foi entregue a uma equipe jovem, que decidiu dar ao modelinho urbano características normalmente encontradas em carros top de linha. Célula de segurança específica para o carro, peças de alumínio, um sofisticado sistema de freios ABS e até uma nova fábrica para construir o modelo… tudo contribuiu para aumentar os custos. Para piorar a situaçao, os custos de pesquisa e desenvolvimento foram enormes, enquanto a distribuição e marketing mal feitos consumiram muito dinheiro. A idéia inicial era vender 200 mil unidades/ano, mas esse número nunca esteve sequer perto de ser alcançado. Segundo a Bernstein Research, o primeiro ForTwo perdeu cercaa de US$ 4 bilhões, prejuízo por unidade comercializada de US$ 5.410! E a empresa de auditoria diz que o atual modelo também não deve dar lucro para a Mercedes-Benz…
A tentativa da Fiat em ter um rival sério para o VW Golf significou um enorme desastre chamado Stilo. O carro era repleto de qualidades, com nova plataforma, novos motores e três carrocerias (duas e quatro portas e wagon), e tinha tudo para ser um sucesso. Pelo menos no papel. A verdade é que as vendas nunca atingiram as expetativas e alguém um dia disse que os “europeus não querem comprar uma versão italiana do Golf.” Numa tentativa de conseguir vender o produto, a Fiat ofereceu na Itália bons descontos pouco depois do lançamento do modelo, em 2001, o que permitiu elevar o volume de vendas para 180 mil unidades no primeiro e no segundo ano de vendas completo. Um bom número, mas muito longe das programas 380 mil unidades/ano. Contas feitas pela Bernstein Research, o Fiat Stilo perdeu US$ 2,5 bilhões, ao ritmo de US$ 3273 por unidade. Um desastre do qual, lembra a Bernstein, até agora a Fiat não se recuperou. No Brasil o carro teve algum sucesso.
3 – VOLKSWAGEN PHAETON
A idéia da gigante alemã era construir um sedã que atraísse os clientes da Mercedes. Para isso, a Volkswagen construiu uma nova fábrica para o Phaeton, em Leipzig; deu a ele uma nova plataforma e exagerou ao colocar debaixo do capô um enorme motor 6.0W12 a gasolina, seguindo depois pelo 5.0V10 a diesel. Um antigo executivo da Mercedes explicou que “analisando bem o carro, era impossível construir muitos” e um relatório garantiu que “não existe nenhuma versão do Phaeton que possa ter dado lucro à marca.” Contas feitas, o imponente VW Phaeton deu US$ 2,4 bilhões de de prejuízo, ou seja, impressionantes US$ 33.721 por cada modelo vendido. Tudo porque, conforme aponta o relatório Bernstein, das 50 mil unidades anuais previstas, nunca foi além das 11 mil carros/ano.
4 –PEUGEOT 1007
A idéia por trás do 1007, um carrinho urbano de duas portas deslizantes, era criar um automóvel cult. Bom lembrar que as duas enormes portas deslizantes supostamente facilitariam o estacionamento e o acesso. O carro foi lançado em 2004, mas logo perceberam que as coisas não iam correr bem. O carro era caríssimo e, ainda por cima, rapidamente as vendas despencaram e o preço teve de ser baixado. Por tudo isso, Max Warburton não hesita em apontar o 1007 como um “desastroso fracaço de vendas”. Segundo o relatório da Bernstein, o 1007 levou o grupo PSA a perder US$ 2.280 bilhões, ou seja, cada carro jogou no lixo da Peugeot US$ 18 mil!!! Tudo porque era prevista a produção e venda entre 150 a 200 mil unidades/ano, e no primeiro ano chegou a 75 mil, caindo bastante logo de seguida apesar da redução de preço. O “buraco” que ficou na fábrica de Poissy, graças aos pesados investimentos em ferramental, específicos do 1007, abalou o grupo até hoje.
5 – MERCEDES CLASSE A
O primeiro modelo da Mercedes-Benz a ter tração dianteira parecia uma história fadada ao sucesso, mas logo se tornou um pesadelo. Primeiro pelos custos fixos elevadíssimos, depois pelo fracasso total na previsão das vendas. Lançado em 1997, tinha como “business plan” a produção de 250 mil unidades/ano, porém, esse valor sempre rondou as 200 mil unidades, e com o problema do “teste do Alce”, os custos de marketing e equipamentos eletrônicos para reverter a situação foram pesadíssimos. O chassis em “sanduíche” estava muito avançado para o seu tempo, pois destinava-se, já naquela altura, à eletrificação. Ou seja, o Classe A surgiu 15 anos antes do que devia, e a soma de tudo isso fez com que o Mercedes Classe A, segundo o estudo da Bernstein, custasse US$ 2 bilhões de prejuízo, ou US$ 1731 perdidos por unidade vendida. A segunda geração do modelo se deu um pouco melhor, e o prejuízo foi residual, sendo que a Bernstein aponta para o atual modelo sucesso bem diferente da primeira geração.
6 – BUGATTI VEYRON
O campeão do desperdício é o sonho de Ferdiand Piech. O todo-poderoso presidente do grupo VW planejou um superesportivo que fosse o melhor do mundo. A VW comprou por uma pequena fortuna o castelo francês de Ettore Bugatti, o fundador da Bugatti, recuperou-o e criou ali a fábrica para o Veyron, modelo construído à mão. Os custos de pesquisa e desenvolvimento ficaram estimados em US$ 1,440 bilhão, e a produção estimada era de 100 carros/ano. Mas esse valor nunca foi alcançado e o pico de produção foi de 80 carros/ano. Quando o Lehman Brothers entrou em colapso, a crise econômica instalou-se nos Estados Unidos e Europa, e a produção caiu para 40 unidades/ano. O modelo custa US$ 1,2 bilhão, mas a Bernstein contabiliza o prejuízo de cada unidade vendida em US$ 5.520 milhões, o que se traduz num prejuízo de US$ 2 bilhões. O grupo VW reconheceu que o programa Veyron custou tanto quanto custaria montar uma equipe de Fórmula 1, justificando assim o investimento. A Bernstein não acredita que as Bugatti tenham ajudado a VW a vender uma unidade sequer do Golf, Polo ou outros modelos.
7 – JAGUAR X-TYPE
O sedã feito a partir do Ford Mondeo foi lançado em 2001 e foi um sucesso de vendas, com 362 mil unidades comercializadas durante a sua existência. Vendo por esse lado, não se imagina porque está o X-Type está nesta lista. Segundo a Bernstein Research, o X-Type era um ralo de dinheiro, porque a Ford, proprietária da Jaguar, queria que o modelo fosse capaz de desafiar em vendas o BMW Série 3 num segmento altamente rentável. O problema é que a rede de revendas da Jaguar não tinha experiência nesse tipo de carro, e os clientes e os executivos da marca também não. Por isso lançaram o modelo numa estimativa de vendas irreal e sem motor diesel. A ausência de um motor diesel e a falta de mais versões de carroceria (cupê e conversível), minaram as vendas. Depois, tendo uma plataforma menos nobre, como a do Mondeo, os clientes rejeitaram o carro e as vendas previstas de 200 mil unidades/ano não foram além das 70 mil unidades/ano. Assim, a Jaguar perdeu mais US$ 2 bilhões, com cada carro afundando a marca em US$ 5623. A Jaguar quase faliu por causa do X-Type.
8 – RENAULT LAGUNA
Os planos da Renault para a terceira geração do Laguna eram ambiciosos, e Carlos Ghosn queria competir com os fabricantes alemães. O carro foi lançado em 2007, mas o produto que saiu foi um fiasco e, como afirmou Max Wartburton, “a bomba estourou na cara”. O CEO da Renault avaliou muito mal o mercado, o Laguna não era mais que um “restyling” da geração anterior e, apesar de maior qualidade no acabamento do interior e confiabilidade, era demasiado fraquinho de motor para sequer preocupar a Audi, BMW e Mercedes-Benz. O estilo também não ajudava e nessa altura chegou a moda dos crossovers. Contas feitas, o Laguna perdeu US$ 1,8 bilhões, ou seja, US$ 4.256 no lixo em cada carro vendido. Tudo porque das 300 mil unidades/ano previstas por Ghosn, o número ficou bem abaixo disso: a Renault não consegue vender mais de 30 mil unidades/ano.
O modelo tinha como objetivo oferecer carroceria de alumínio, o que significava diminuir o consumo de combustível, mas acabou se transformando em outro desastre financeiro dentro do Grupo Volkswahen. O modelo nasceu como VW e destinava-se a ser um modelo emblemático de eficiência energética e líder nos baixos consumos. Porém, os exagerados custos de desenvolvimento e a complexidade de produção levaram o modelo para um patamar de preços exagerado. Mesmo assim, a margem de lucro era baixa, devido ao exagerado custo de produção. A fabricação estave prevista para 50 mil unidades, mas esse valor só foi alcançado em 2002, e após cinco anos de produção, o A2 acabou indo desta para melhor em 2005. Segundo a Bernstein Research, o A2 significou prejuízo de US$ 1.560 bilhões, ou seja, perda de US$ 9038 por unidade. Qualquer estagiário sabe que a construção de carrocerias de alumínio faz sentido em carros grandes e caros, não em modelinhos urbanos.
10 – RENAULT VEL SATIS
Patrick Le Quement, o ex-responsável do estilo da Renault, chegou ao final da sua carreira de maneira pouco agradável, e um dos seus últimos delírios foi o Vel Satis. Segundo ele, o top de linha seria um carro que se destacaria nas ruas e chamaria muita atenção. Quement foi longe demais na sua fantasia, e o carro não era propriamente um exemplo de beleza. O desafio aos construtores alemães falhou outra vez, e quando o carro foi lançado em 2001, tinha prevista a produção de 50 mil unidades/ano. Quando saiu de linha, em 2009, o Vel Satis não somava 50 mil unidades nos oito anos de comercialização. Contas feitas, o prejuízo foi de US$ 1,4 bilhões, com desperdício de US$ 22.454 por cada unidade vendida.