PAPO DE GARAGEM, por Douglas Mendonça
Ford Bronco: o legendário 4×4 está de volta, e deve chegar ao Brasil em 2021
O Ford Bronco chegou ao mercado norte-americano em 1965, trazido pelas mãos do gênio da indústria automobilística Lee Iacocca, que na época era um dos grandes mentores da fabricante. A proposta do Bronco era inédita para a linha Ford: chassi reforçado, suspensões robustas e mecânica simples e confiável. Além, é claro, da tração nas quatro rodas, que permitia ao valente Ford trafegar por todo e qualquer tipo de terreno off-road.
Basicamente, o modelo era equipado inicialmente com motor 2.8 de seis cilindros em linha. Em 1966, ganhou a opção de um V8 de 200 cv, fato que garantiu desempenho superior, indicado aos e motoristas mais exigentes. Tanto o seis em linha quanto o V8 eram equipados com transmissão manual de três marchas com alavanca na coluna; o acoplamento da tração integral poderia ser feita em uma alavanca no console (todas as unidades tinham tração 4×4 com reduzida, para facilitar a linha de produção).
Sua carroceria poderia ser fechada com duas portas, picape de dois lugares ou ainda uma versão voltada para uso militar, batizada de Roadster, que não contava com capota e portas. Vale o fato de que sua plataforma, ou chassi, ter sido desenvolvido especificamente para o Bronco, assim como os sistemas de freio, direção e suspensões.
O seu nome, assim como de vários outros modelos da Ford, também tinha origem nos animais: Bronco era o nome dado para cavalos selvagens que viviam livremente e eram difíceis de serem domados.
Inicialmente, esse utilitário Ford servia tanto para o uso do público comum quanto militar. Mas, aos poucos, o Bronco foi mostrando sua vocação civil: em 1966, a carroceria Roadster saiu de linha e, depois, em 1972, foi a vez da despedida da picape. Mantinha-se somente a carroceria utilitária de duas portas, que começou a ficar mais sofisticada, ganhando até a opção de transmissão automática de três velocidades em 1973.
Iniciando suas vendas no final de 1965 já como modelo 1966, o Ford Bronco de primeira geração permaneceu em linha por 12 anos consecutivos, recebendo uma segunda geração em 1977, após mais de 200 mil unidades comercializadas.
Em 1978 chegou o New Ford Bronco, compartilhando a mesma base da sexta geração da picape Série F, de quem também herdava o visual e partes da carroceria (frente completa, capô, portas e para-brisas, entre outros). O Bronco passou a ser classificado como SUV, e estava disponível somente na carroceria fechada de três portas, abandonando de vez as variantes picape e Roadster.
Ele também estava bem maior, com capacidade para mais ocupantes (seis, ao invés dos três da antiga geração) e mais refinado (recebendo ar-condicionado, direção hidráulica, rádio e até piloto automático), tudo para atender as necessidades do consumidor e, principalmente, para bater de frente com os concorrentes Chevrolet K5 Blazer e Jeep Cherokee, todos utilitários familiares com vocação off-road.
Algumas características ainda eram mantidas, como por exemplo o ótimo comportamento no fora de estrada, realçado pela tração 4×4 com reduzida, que já era padrão em todas as suas configurações de versões. O único tipo de motorização oferecido era V8, em duas cilindradas: 5.800 (351 pol³) e 6.600 (402 pol³). Ambos motores contavam com a mesma potência (cerca de 157 cv), mas o 6.6 levava a vantagem de oferecer mais torque.
A transmissão manual ganhou a quarta marcha, enquanto a caixa automática ainda era de três velocidades. Ao todo, foram comercializadas cerca de 183 mil unidades desse Ford Bronco de segunda geração, que foi vendido somente em 1978 e 1979, se sacrificando no ano seguinte de seu lançamento para não interromper o ciclo de gerações da picape Série F.
A terceira geração chegou no mesmo ano de 1979, já como modelo 1980. Esse Ford Bronco de terceira geração também era baseado na Série F, mas com entre-eixos mais curto. Mas, assim como a picape, que ganhou nova geração no mesmo ano, tinha base totalmente renovada. Visualmente, seguia a mesma linha do Bronco anterior, com desenho parrudo e imponente, também similar ao da Série F. Nessa terceira geração, as mudanças eram mais focalizadas na parte mecânica, incluindo novo esquema de suspensões dianteiras, composto por molas independentes em um eixo rígido (sistema batizado pela Ford de Twin Traction Beam, ou TTB). Na traseira, foi mantido o sistema de feixe de molas, conhecido pela grande robustez.
A linha de motores também era praticamente toda inédita: saía de cena o 402V8 (6.6 litros), e o maior motor oferecido passou a ser o 351V8 (5.8 litros), desenvolvendo cerca de 138 cv e com pouco mais de 36 mkgf de torque (comparando com a segunda geração, a potência foi reduzida por conta da crise mundial do petróleo da época, que exigia motores menores, menos potentes e mais econômicos).
Abaixo dele, estava um outro V8, mas com 4.9 litros (302 pol³), e, nas versões de entrada, era oferecido um seis em linha com os mesmos 4.9 litros. Esse motor de seis cilindros foi oferecido somente com a transmissão manual, que manteve as quatro marchas até 1983, quando passou a receber também a opção do câmbio automático de três velocidades.
Dois anos depois, em 1982, o Ford Bronco recebeu mais evoluções visuais e mecânicas: a frente ganhou retoques visuais, e o 5.8V8 herdado da segunda geração, deu lugar ao novo V8 Windsor, que mantinha a mesma cilindrada (351 pol³, ou 5.8 litros), mas tinha o bônus de ser mais potente e com maior torque.
Para 1985 estreou a injeção eletrônica na linha do utilitário da Ford, e ela chegou equipando o 302V8, que também recebeu avanços e ganhou mais de 50 cv e 6 mkgf de torque (totalizando 190 cv e 39,4 mkgf). Comercializando mais de 320 mil unidades durante sete anos, essa terceira geração foi a primeira a ter linha de produção em outro país fora dos Estados Unidos: durante 1981 e 1987, o Ford Bronco era montado e vendido também na Austrália, mostrando que não era feito só para americanos.
Para o ano seguinte, 1986 (como linha 1987), o Bronco chegou na sua quarta geração, que utilizava a mesma base de antes, mas com carroceria totalmente renovada, além do interior inédito, com novo painel, volante e bancos, entre outros. Debaixo do capô, se mantinham as boas opções 4.9 seis em linha (que também ganhou injeção eletrônica), 4.9V8 (302) e 5.8V8 (351). Sempre se modernizando, ele também recebeu freios com ABS e as versões mais caras passaram a ter um botão elétrico no painel para o acionamento da tração 4×4, aposentando a tradicional alavanca. O motor maior, 351V8, só trocou o carburador pela injeção eletrônica em 1988, no mesmo momento que o câmbio manual passou a ter cinco marchas.
Alguns meses depois, era hora de modernizar também as versões com transmissão automática: saía de cena a antiga caixa de três velocidades e o Ford Bronco passou a oferecer câmbio automático de quatro marchas, melhorando o consumo e dirigibilidade. Ao todo, foram produzidos mais de 236 mil Bronco de quarta geração.
Em 1991, foi apresentada a quinta geração do SUV Ford. Na realidade, se tratava de uma evolução visual, com interior redesenhado, além da frente mais moderna e arredondada, sempre seguindo a linha de desenho da picape Série F. Enquanto a mecânica permanecia inalterada, o Bronco de quinta geração se tornava mais seguro e requintado: o sistema de freios ABS passou também para as rodas dianteiras, o airbag para o motorista passou a ser de série em 1994, as zonas de deformação da carroceria em impactos foram melhoradas, os espelhos externos passaram a ter ajustes elétricos e os bancos de couro começaram a ser oferecidos como opcional.
Na linha 94, saiu de cena o motor 4.9 de seis cilindros, restando apenas os dois V8 (4.9 e 5.8). Ao todo, cerca de 161 mil unidades do Ford Bronco de quinta geração deixaram a linha de produção.
Até então, essa geração era a última do Ford Bronco, que se despediu oficialmente em meados de 1996, com os mesmos predicados de quando chegou, em 1965: máxima robustez, excelente capacidade off-road, desenho atraente e mecânica confiável. Mas essa história mudou há alguns dias, com a chegada do Novo Ford Bronco no mercado norte-americano, um modelo totalmente novo e que, quando comparado com os anteriores, derivados das picapes Série F, mantém apenas o nome.
Fabricado no México, esse Novo Bronco 2021 Sport está ainda mais civilizado e compete no segmento dos SUVs compactos dos Estados Unidos (SUVs médios aqui no Brasil), com carroceria monobloco de cinco portas, motorização turbo, bastante tecnologia embarcada, diversos equipamentos inéditos e desenho atual. São dois motores sobrealimentados, ambos da “família” EcoBoost: 1.5 de três cilindros, que desenvolve 184 cv e 26 mkgf de torque, e outro maior, de 2.0 litros, que rende ótimos 248 cv e 38 mkgf de torque. Ambos estão acoplados a uma transmissão automática de oito velocidades.
Para o início de 2021, deverá chegar às ruas outra versão do novíssimo Ford Bronco de sexta geração, esse sim sendo uma continuação do modelo que encerrou sua produção em 1996. Ele é feito no melhor estilo dos consagrados modelos do passado: chassi e carroceria, capota e portas removíveis, opção de duas e quatro portas, motores potentes, câmbio manual de sete velocidades e foco no fora de estrada.
O sistema de suspensões mantém a característica robustez, com molas independentes na dianteira e construção multilink com eixo rígido na traseira. Mesmo sendo bruto, trará muita tecnologia e eletrônica de série, tudo para facilitar ainda mais o off-road e passeios de aventura.
O melhor de tudo isso é que o Bronco chegará ao Brasil em 2021. Ainda não se sabe se o modelo que virá ao nosso mercado será o Bronco convencional de sexta geração, ou o Bronco Sport, mais “civilizado”, que chegará por aqui como um SUV médio urbano. Mas, independentemente de qual modelo do Bronco virá, ambos darão trabalho para a concorrência, principalmente considerando suas boas décadas de mercado e enorme sucesso com o público mundial, em especial o americano.