Picape GMC Syclone 1991: o terror das Ferrari, Porsche, Corvette…
Hoje em dia é fácil encontrar picapes de alto desempenho, com centenas de cvs de potência, como as Ford Raptor, Dodge Ram SRT V10 ou Ram TRX, disponíveis para quem tem contas bancárias repletas de dinheiro. Mas há pouco mais de 30 anos, a ideia de picapes realmente esportivas era um conceito totalmente novo. Algumas picapes “musculosas” existiam, em especial as Dodge (sempre ela) no final dos anos 1970, mas a potência era limitada pelos antiguados motores V8 vindos dos anos 1950 e 1960, e não tinham a capacidade de fazer curvas para manter o mesmo entusiasmo que tinham em linha reta. A inovadora GMC Syclone, em 1991, mudou a forma como o público via a humilde picape da linhagem da Chevrolet S10. Mas, de onde veio essa revolução? AUTO&TÉCNICA conta tudo.
por Ricardo Caruso

Nos últimos tempos, a GMC criou a imagem de produção de picapes e SUVs mais sofisticados dentro do portfólio da General Motors, mais do que sua “irmã” corporativa, a Chevrolet. Mas no final dos anos 1980, a marca flertou com a abordagem de ser a versão esportiva das picapes pequenas da GM. O caminho que ela escolheu para o experimento foi a picape compacta GMC S-15, praticamente idêntica à Chevrolet S-10 (que era grafada assim mesmo, com hífen). Para diminuir a confusão sobre as identificações semelhantes, a S-15 foi depois rebatizada de Sonoma.

No final dos anos 1980, um projetista da GMC chamado William Davis desenhou uma picape para exposição em Salões e eventos, no caso uma S-15 rebaixada, que tinha que representar a aspiração máxima das picapes pequenas (no estilo americano) daquela década. Era o conceito Syclone.

Era toda branca, com rodas BBS brancas, o inevitável gráfico rosa “pulse” correndo pelas laterais e um aerofólio estilo Trans-Am fixado numa cobertura de fibra de vidro da caçamba. Se você conseguisse superar o choque da aparência ousada para a época, a característica mais importante do protótipo que antecipou a Syclone de produção estava sob o capô: um motor 3.8V6 turbo, o mesmo usado no legendário muscle car Buick Grand National, só que mais potente.
Depois de exibir a picape conceito Syclone em vários Salões de Automóveis (sim, eles existiam) ao longo de 1989 e receber uma resposta extremamente positiva do público e imprensa especializada (sim, ela também existia), a GMC decidiu dar o OK e produzir um número limitado de Syclone para venda. Se você está se perguntando o que há de errado com a grafia “Syclone” (o correto em inglês é Cyclone), há a teoria de que o nome é um trocadilho com as picapes da série S (S-10, S-15… S-yclone!), ao mesmo tempo que o nome Cyclone já havia sido usado por um modelo Mercury entre 1964 e 1972, e a Ford não ficaria nada satisfeita com a homenagem.

Por razões que não são totalmente claras, o motor 3.8V8 do Grand National exigiu modificações caras para se adequar à picape em nível de produção. Como alternativa, um 4.3V6 -que já estava disponível aspirado na picape S-15- recebeu um turbo. Além do próprio turbocompressor, as partes internas do motor foram reforçadas para lidar com a potência extra e ele ganhou componentes de injeção do Corvette.

No final, o motor turbo 4.3V6 produziu 280 cv de potência e 48 mkgf de torque, excedendo a potência do próprio Grand National em aproximadamente 40 cv. A única transmissão disponível era uma automática de quatro velocidades, que levava a potência para todas as quatro rodas por meio de uma caixa de transferência BorgWarner, vinda de uma van GMC Safari, com polarização de 65% para as rodas traseiras.

O sistema de tração nas quatro rodas foi aplicado para melhorar a tração e a capacidade de enfrentar as curvas, já que as picapes de eixo rígido sem auxílios eletrônicos perdem tração quando a caçamba está vazia, como é provável que iria acontecer sempre em uma Syclone. A GMC não queria que os compradores da Syclone tivessem a impressão de que a picape era capaz de atividades off-road e chegou ao ponto de colar um adesivo de advertência no para-sol, alertando contra o uso fora de estrada.
Além de não poder se aventurar após o asfalto, a Syclone também tinha uma capacidade de carga útil comicamente baixa, de apenas 226 kg e só conseguia rebocar um trailer de no máximo 900 kg, o que resultaria num clamoroso e miserável fracasso miserável se fosse usada como uma picape tradicional. Mas, quantas picapes tradicionais poderiam acelerar mais que um Corvette ou Ferrari? Só a Syclone poderia.
Em 1991, a revista “Car and Driver” fez um teste comparativo, onde a Syclone enfrentou uma Ferrari 348ts. Em uma prova de aceleração de zero a 100 km/h, a GMC levou apenas 5,3 segundos, contra 6,0 segundos da Ferrari. Uma corrida de arrancada clássica, de 400 metros (1/4 de milha) rendeu resultados semelhantes: 14,1s para a Syclone contra 14,5s da 348ts.



Felizmente, o estilo do modelo de produção Syclone se desviou consideravelmente do conceito branco. Ela tinha um “pacote” compêndios aerodinâmicos, com saias laterais mais angulares e menos arredondadas, rodas de liga de alumínio com pneus de perfil baixo e pouco discretos emblemas vermelhos. Como o Buick GN que a inspirou e a antiga Ford, os compradores podiam adquirir sua Syclone em qualquer cor, desde que fosse preto. Com um preço base de aproximadamente US$ 26.000 quando novo (equivalente a cerca de US$ 70.000 hoje), a Syclone não era exatamente barata, mas ainda era menos cara do que um Corvette, e uma pechincha pela quantidade de desempenho que oferecia.
No total, pouco menos de 3.000 unidades foram produzidas para em 1991. Para 1992, a GMC pretendia oferecer a picape esportiva em uma variedade maior de cores, mas essa ideia foi eliminada depois que apenas três modelos 1992 saíram da linha de montagem. Em seu lugar estava o SUV Typhoon, um veículo mecanicamente semelhante, baseado no S-15 Jimmy da GMC, ou seja, um SUV de duas portas. O formato SUV do Typhoon era sem dúvida a plataforma mais apropriada para o V6 turbo, com um banco traseiro para passageiros adicionais e armazenamento seguro de bagagem, mas essa praticidade veio às custas do aumento de peso e, portanto, da redução da velocidade. A Syclone ainda era a rainha da velocidade naquele início dos anos 1990.

Antes das atuais picapes e SUVs selvagens invadirem o mercado, a GMC Syclone turbo e op SUV Typhoon -mecanicamente similar- arrasaram a ideia de que carros esportivos precisavam ser… carros. Esses dois pioneiros trouxeram desempenho, grande potência e desempenho de deixar para trás carros esportivos, entre eles Porsche, Ferrari e Corvette, dando espaço para picapes e SUVs muito antes disso virar moda.
A verdade é que esses GMC mudaram as regras do jogo, ao combinar picape e esportividade de forma revolucionária. Mas a picape compacta Syclone e o SUV Typhoon encontraram apenas um pequeno número de fãs dispostos a pagar caro por eles; a GMC vendeu poucas unidades da picape antes de passar para o SUV. Mais de 30 anos depois, esses GMC agora são veículos de alto desempenho muito procurados. Para encerrar esta incrível história, AUTO&TÉCNICA traz 20 fatos interessantes sobre a picape Syclone e SUV Typhoon. Confira.

1. A Syclone quase foi uma picape Buick Grand National
A GMC Syclone quase usou o motor 3.8V6 do Buick Grand National . Quando o GN estava sendo descontinuado em 1987, os engenheiros de desempenho da Buick colocaram seu 3.8V6 em uma Chevrolet S-10 (a gêmea da GMC Sonoma), mais um pouco de estilo Grand National (incluindo emblemas), instalaram um capô com ressalto e novas rodas antes de apresentá-la aos chefões da General Motors para consideração. A GM simplesmente disse não. A Chevrolet também negou e a GMC disse sim à ideia de uma picape no estilo Grand National, mas observou que adaptar o 3.8V6 sob o capô da picape muito caro. O resto é a história que apresentamos.
2. A gestação da Syclone começou nos anos 1980
Como já vimos, o concept truck GMC Syclone (o branquinho) estreou no Salão de Detroit de 1989, antes de finalmente ser transformado em modelo de produção e colocado à venda no ano-modelo de 1991.
3. Os GMC foram construídos fora de casa
Os modelos Syclone e Typhoon foram produzidos pela empresa PAS – Production Automotive Services (1989-1994) em Troy, Michigan. A PAS também produziu o Pontiac Turbo Trans Am de 1989 e a GMC Sonoma GT de 1992.
4. O que aconteceu com a grafia do nome?
Syclone com um “S”? Vimos que é um trocadilho com a letra inicial usada em “S-10” ou “Sonoma”, mas também porque Cyclone já tinha sido usado pela Ford no anterior Mercury Cyclone (construído de 1964 a 1972). Ou apenas pareceria mais legal e chamativo escrito dessa forma. Jamais saberemos…
5. A produção era extremamente limitada
A Syclone baseado na GMC Sonoma e o Typhoon baseado na GMC Jimmy duraram apenas de 1991 a 1993. A Syclone foi lançada primeiro e apenas 2.995 unidades foram produzidas. Outras três Syclones foram construídas para o inexistente ano-modelo de 1992, o que elevou o total para 2.998. (A GMC não poderia ter feito mais dois exemplares para arredondar o número para 3.000?). A produção do Typhoon seguiu, com 2.497 unidades produzidas em 1992, e 2.200 em 1993, para um total de 4.697 carros.
6. Onde foram vendidas?
Das 2.995 Syclone feitas, 113 foram exportadas para a Arábia Saudita, das quais 31 foram devolvidos —sem serem vendidas— para a fábrica da GMC. Essas 30 Syclone sauditas descartadas (uma foi usado para peças) foram vendidas para funcionários da GMC por meio de uma loteria. Algumas raras unidades chegaram ao Brasil, sabe-se lá como.
7. Eles era muito potentes para a época
A GMC Syclone não usava o motor GN, mas um 4.3V6, maior e turboalimentado. Ele produzia 280 cv de potência máxima a 4.400 rpm e 48 mkgf de torque a 3.600 rpm (115 cv a mais do que o seis cilindros não turbo de 4,3 litros da Sonoma contemporânea). As modificações no motor incluíam pistões para taxa de compressão mais baixa, coletores de admissão e escapamento especiais, sistema de injeção de combustível multiponto, um corpo de acelerador de furo duplo maior (do motor 5.7V8 do Corvette) e, claro, o turbocompressor Mitsubishi TD06-17C com um intercooler Garrett água-ar. Este mesmo motor também foi usado no Typhoon.
8. Qual era mais rápido, Syclone ou Typhoon?
Oficialmente a Syclone pesava 1.632 kg e o Typhoon 1.733 kg. Essa diferença de peso ajudou a garantir que a Syclone fosse um pouco mais rápida que o SUV.
9. Esses GMC eram muito rápidos
A GMC alegou nas fichas técnicas o tempo de zero a 100 km/h em menos de cinco segundos para a Syclone, o que era algo absolutamente insano em 1991 (na prática, as estimativas eram de 4,6 segundos para o 0-100 km/h). O Typhoon era mais lento, marcando o 0-100 km/h em 5,3 segundos, para ser exato). A GMC também estava orgulhosa de sua velocidade máxima, de 200 km/h.
10. Tanto a Syclone quanto o Typhoon tinham uma van no seu DNA
A caixa de transferência BorgWarner com tração nas quatro rodas em tempo integral, que enviava 65% do torque do motor para o eixo traseiro e 35% para o dianteiro, foi emprestada da van GMC Safari.
11. E de Pontiac, não tinha nada?
Os instrumentos desses GMC foram uma adaptação dos usados nos Pontiac Sunbird Turbo, pois incluíam um manômetro de pressão do turbo.
12. Você não pode levar nenhum dos dois para o fora de estrada
Apesar de ser picape e SUV, nenhum dos dois podia sair do asfalto. Havia um aviso no para-sol da Syclone, caso você esquecesse de que ela era uma picape de rua: “Este veículo não foi projetado para uso off-road. A altura reduzida deste veículo não permitirá que ele ultrapasse obstáculos comumente encontrados em um ambiente off-road. A operação off-road pode resultar em sérios danos ao chassi e ao sistema de transmissão”.
13. E você também não pode realmente carregar muita coisa neles
A capacidade de carga útil de 226 kg da Syclone incomodou os usuários puristas de picapes que, com razão, perceberam que esse número era muito baixo para uma picape de verdade. Mas ela era uma picape para humilhar outros esportivos, não para carregar tijolos. Rebocar também não era recomendado pela fábrica, o que ajudou a afetar a credibilidade para uso comercial da maravilhosa picape GMC.
14. O Typhoon tinha suspensão pneumática traseira autonivelante
Assim como os Mercedes-Benz da época, o Typhoon apresentava uma suspensão traseira autonivelante, que inflava bolsas de ar para compensar a altura da traseira quando o SUV estava carregado com carga mais pesada.
15. A Syclone não era colorido, mas o Typhoon era
As cores do Typhoon incluíam “Forest Green Metallic”, “Radar Blue”, “Raspberry Metallic”, “Frost While”, “Royal Blue Metallic”, “Aspen Blue”, “Bright Teal”, “Apple Red”, “Garnet Red” e preto. No entanto, a Syclone só foi fabricada em preto, com duas exceções.
16. Houve duas Syclone de edição especial em 1991!

Em 1991, 10 “Marlboro Syclone” foram pintadas de vermelho, personalizadas pela American Sunroof Company (ASC) e tinham recursos como rodas “Boyd Coddington”, bancos de couro Recaro, volante Momo e painel de teto removível estilo targa. Havia também três exemplares da “Indy Syclone”, que foram usadas na “500 Milhas de Indianapolis” em 1992. Uma delas recebeu depois pintura multicolorida da PPG.
17. Era o veículo de aceleração mais rápida em 1991
Quando a Syclone foi introduzida, a GMC confiante afirmou que ela era o “veículo de aceleração mais rápida” e “picape de produção mais rápida” de seus dias. Não era absurdo.
18. Ousadia também na publicidade
Um anúncio da GMC para a Syclone a comparou a um Porsche 911 Carrera 4, usando o título “Pense nela como um Porsche 911, mas que realmente ‘transporta'”.
19. Os dois GMC eram muito mais caros do que Sonoma e Jimmy
O preço da GMC Syclone em 1991 era de US$ 25.970, e o do Typhoon de 1992 era de US$ 29.530. Isso é um acréscimo de pelo menos US$ 10.000 sobre uma Sonoma comum. Mas a picape pequena superava carros esportivos de seis dígitos nos preços…
20. Apelidos carinhosos “Sy” e “Ty”…
Carinhosamente “Sy” é a abreviação de Syclone, e “Ty” é a abreviação de Typhoon. Há até comunidades “SyTy” para reverenciar os dois modelos.