Pobre Nissan: em crise, fará 9.000 demissões e pode enfrentar a falência
No Brasil, a Nissan sempre foi uma marca sorumbática, que nunca disse exatamente a que veio e onde pretendia chegar. Com a trapaceada que impuseram ao brasileiro Carlos Ghosn há alguns anos, então o principal executivo da indústria automotiva global, o castigo não tardou a bater nas portas dos japoneses, que não só perderam cerca de metade do valor de mercado, como entraram numa sequência interminável de crises, uma espiral para baixo que agora ganha novos contornos e acena com a real possibilidade de falência da empresa. A montadora japonesa, cujos lucros despencaram de maneira assustadora, cortará 9.000 empregos ao redor do mundo em um esforço para economizar mais de US$ 2,2 bilhões.
por Ricardo Caruso
A Nissan anunciou sua decisão de cortar cerca de 6% de sua força de trabalho global, que é de mais de 133.000 funcionários, ao divulgar números que mostram um prejuízo significativo no último trimestre de seu ano fiscal. A sinuca é perigosa: vendas de veículos despencaram enquanto os custos e o estoque aumentaram. Nos Estados Unidos, concessionários da marca estão quebrando um atrás do outro.
Makoto Uchida, chefão da empresa, em jogada meramente política, revelou que aceitará um corte de 50% no seu salário para assumir a responsabilidade pelos resultados ruins, ao mesmo tempo em que prometeu que uma reviravolta ainda estápor vir, onde além de cortar 9.000 funcionários, incluirá nesse caos um plano para reduzir a capacidade de produção global em 20%. Uchida se recusou a dizer quais regiões serão afetadas pelos cortes ou mesmo dar maiores detalhes. A principal fábrica europeia da Nissan, por exemplo, fica em Sunderland, no Reino Unido, mas também tem divisões na França, Bélgica e Espanha. O Brasil também não deve escapar da degola.
No último trimestre deste ano, de julho até setembro, a Nissan teve um prejuízo de quase US$ 60 bilhões, uma reversão do lucro de US$ 190 bilhões, registrado no mesmo trimestre do ano passado. As vendas trimestrais caíram para US$ 20 bilhões. Uchida reconheceu que a Nissan não respondeu com rapidez ou flexibilidade suficientes às mudanças globais, incluindo os gostos do mercado, crises de componentes e os altos custos das matérias-primas. “Levo essa situação muito a sério”, disse. “A Nissan vai reestruturar seus negócios para se tornar mais enxuta e resiliente”.
Os modelos da Nissan não vendem bem nos Estados Unidos, um dos mercados de automóveis mais lucrativos do mundo, e que recentemente foi dominado pela Ford, Toyota e Tesla. “Todos os aspectos das operações e planos da Nissan serão revistos”, tentou explicar Uchida. A Nissan agora tentará vender 3,4 milhões de veículos ao redor do mundo, dentro do ano fiscal que termina em março de 2025, abaixo dos 3,65 milhões de veículos projetados anteriormente. O novo número é quase o mesmo que a Nissan vendeu no mesmo período do ano anterior.
A Nissan está nomeando um “diretor de desempenho”, responsável pela tomada de decisões de recuperação, que começará a trabalhar no mês que vem. Para piorar o que já está muito ruim, nenhum dividendo será pago aos acionistas. Quem viver, verá. Mas uma coisa é certa: Carlos Ghosn deve estar feliz da vida, apesar de ter errado que a empresa quebraria em 2022.