Por que os Fórmula 1 não usam freios ABS?
Quase todos os carros novos hoje em dia têm freios com sistema antibloqueio (ABS, ou antilock brake system). Na verdade, não é uma tecnologia nova, longe disso. O ABS existe desde os anos 1970 e a maioria dos carros nas ruas tem; no Brasil, por exemplo, são obrigatórios lei.. Mesmo assim, os carros de Fórmula 1 -sempre exemplos de tecnologia de ponta- não possuem esse recurso bastante simples. Você quer saber por que?
por Marcos Cesar Silva
Em todas as corridas de Fórmula 1, há alguém que freia mais “dentro” de uma curva e acaba travando as rodas. Se o carro estiver escorregando por muito tempo, pontos planos são gravados nos pneus, o que causa vibrações e, em muitos casos, uma visita prematura aos boxes. O ABS ajudaria a evitar situações como essa e também tornaria os carros de F-1 um pouco mais seguros.
O ABS apareceu pela primeira vez em carros de produção em massa em 1971, quando a Chrysler o instalou em seu luxuoso Imperial. Agora o ABS vem como equipamento-padrão em quase todos os carros, caminhões e até motos novas. Também é bastante comum em todos os tipos de corridas. Mesmo assim, os pilotos de Fórmula 1 não podem aproveitar os benefícios dessa tecnologia disponível.
Na verdade, historicamente, alguns carros de Fórmula 1 já tiveram freios ABS. Ele foi só foi proibido em 1994, junto com outras ajudas eletrônicas ao piloto, como suspensão ativa, controle de lançamento e controle de estabilidade. Vocês lembram das imbatíveis Williams antes da chegada de Ayrton Senna? Obviamente, essas tecnologias ajudariam os carros de Fórmula 1 a obter tempos de volta mais rápidos e os tornariam muito mais seguros, mas é improvável que voltem a ser usados em um futuro previsível.
A motivação para banir o freio ABS e as outras tecnologias mencionadas era bastante simples: a organização queria controlar o preço crescente dos carros de Fórmula 1. Sim, o ABS é muito barato hoje, mas se os construtores tivessem permissão para “brincar” com ele, teriam criado uma versão superavançada do ABS, que seria muito mais complicada e muito mais cara.
A FIA e a Fórmula Um queriam garantir que os pilotos continuassem sendo os atores principais na pista. Naquela época, já havia muitas críticas sobre a Fórmula 1 se tornar uma competição de carros e tecnologias, ao invés de uma corrida para pilotos. E assim, algumas tecnologias foram banidas para garantir que os pilotos tenham que confiar exclusivamente em suas próprias habilidades, determinação e consciência situacional.
Nem todo mundo gostou da proibição. Ayrton Senna disse que a temporada de 1994 seria repleta de acidentes apenas porque os pilotos estavam perdendo parte de sua tecnologia de segurança. O próprio Senna morreu naquele acidente no mesmo ano, embora em sua situação os auxílios eletrônicos ao piloto não teriam ajudado muito.
A proibição das ajudas eletrônicas ao piloto não silenciou os críticos. O falecido Niki Lauda disse em uma entrevista, em 2002, que um macaco bem treinado poderia dirigir um carro de Fórmula 1 moderno. Por outro lado, se ABS, controle de estabilidade e controle de largada fossem permitidos, a Fórmula 1 seria ainda menos sobre habilidade e mais sobre tecnologia. Carros constantemente com rodas travadas nas disputas de frenagem são boa lembrança disso.