Porsche patenteia primeiro motor a seis tempos
A Porsche não descansa, e trabalha em um novo conceito de motor a seis tempos, que poderá duplicar o trabalho mecânico em cada ciclo completo de combustão. Parece complexo? Sim, é um pouco… Aos apaixonados pelo som dos bons motores, AUTO&TÉCNICA traz boas e más notícias. Vamos começar pelas boas.
da Redação
A verdade é que, nos bastidores da Porsche, o desenvolvimento de motores a combustão não cessou. A marca alemã acabou de patentear o primeiro motor a seis tempos do mundo. O pedido de patente foi feito no dia 23 de fevereiro deste ano, com o número 18/585 308, mas só agora foi divulgado pelo U.S. Patent and Trademark Office (Registo de Marcas e Patentes dos EUA). Aqui você podem consultar o documento na íntegra.
Esta ação da Porsche tem três focos diferentes: técnico, econômico e político. No aspecto técnico, revela que os engenheiros da marca acreditam que ainda há algo a ser tirado desta tecnologia; do ponto de vista econômico e político, indica que há um plano para o futuro destes motores, caso contrário não se investiriam tantos recursos no seu desenvolvimento.
Motor a seis tempos: como funciona?
Vamos deixar as más notícias para o final. Primeiro vamos conhecer esta tecnologia e tentar explicar como e porque a Porsche desenvolveu um motor a seis tempos, começando pelo básico. Como todos sabem, os carros modernos estão equipados com motores a quatro tempos. Ou seja, para completar um ciclo completo de combustão (trabalho) precisam de passar por quatro fases (tempos): admissão, compressão, expansão e escape. É assim que funciona há mais de 130 anos.
Na fase de admissão acontece a entrada da mistura (ar e combustível) na câmara de combustão. Na fase da compressão comprime-se essa mistura para retirar o melhor rendimento da terceira fase: a expansão (resultado da ignição da mistura comprimida e consequente combustão da mistura ar/combustível). É nesta fase que o motor desenvolve o impulso (trabalho) que o mantém em funcionamento. Finalmente, temos a fase de escape, onde os gases são expelidos da câmara de combustão para dar entrada a novos gases e à repetição deste ciclo milhares de vezes por minuto.
Falando de outra forma, nos quatro tempos do motor de combustão atuais, apenas um tempo (o da expansão) é que desenvolve trabalho. Ou seja, nas duas rotações completas do virabrequim, apenas uma é que providencia força para as rodas. É precisamente aqui que os engenheiros da Porsche atuaram. O motor de seis tempos duplica as fases de compressão e expansão, duplicando também assim as fases de trabalho por cada ciclo. Ou seja, podemos dividir o ciclo de combustão em dois ciclos de três tempos: admissão, compressão e expansão; e compressão, expansão e escape.
Como é que a Porsche fez isto? Na patente que a marca registrou, vemos que a biela não está diretamente ligada ao virabrequim.
Os engenheiros da Porsche confirmam que, com a ligação da biela a uma engrenagem secundária, adicionaram um movimento de compressão e expansão ao ciclo normal do motor, passando assim de quatro para seis tempos no total.
Graças a esta engrenagem, antes da fase de escape há mais dois tempos de compressão e expansão.
Teoricamente, esta mudança significará um importante aumento no rendimento e na eficiência dos motores de combustão tal como os conhecemos atualmente.
Mas atenção, este dois tempos adicionais no funcionamento não significam que o rendimento do motor irá duplicar. Esta segunda fase de compressão e expansão será menos intensa que a primeira. A taxa de compressão deverá ser menor (devido à geometria do movimento) e devido à presença de gases de escape oriundos da explosão primária. Mas é possível que hajam ganhos importantes em nível de emissões, graças a uma queima mais intensa da mistura. Neste momento, só os engenheiros da Porsche poderão responder a estas questões.
Agora as más notícias. Sempre que os interessados de alguma forma nos motores de combustão ouvem falar de uma nova tecnologia, logo saem comemorando. final, mais desempenho e eficiência é sempre um motivo para celebrar, claro. Mas entre o anúncio e a realidade, muitas vezes a festa demora para acontecer ou nem sequer começa. Um exemplo claro disso foi o motor com taxa de compressão variável. Entre muitas patentes, protótipos e testes, foi preciso esperar quase um século até que fosse instalado num modelo de produção.
Isso aconteceu em 2016, quando a Nissan apresentou o inédito motor com taxa de compressão variável, tendo sido colocado pela primeira vez no Infiniti QX50 em 2017. Ainda hoje é produzido, equipando vários modelos da divisão premium da marca japonesa. Como podemos perceber, entre a promessa e a realidade, a distância é sempre gigantesca, pois há muito dinheiro envolvido e qualquer pressa pode arruinar uma empresa.
Será que esta tecnologia de motor de seis tempos da Porsche terá destino similar? Apenas o tempo poderá dar essa resposta. Mas o importante é que o desenvolvimento de motores de combustão interna continua, das marcas mais populares às mais exclusivas. Os exemplos se sucedem e não significam o fim da aposta nos elétricos e nem o fim da aplicação motores de combustão. Ao contrário do que alguns “terroristas” desejam, parece que o mercado automotivo continua caminhando para um futuro onde a questão da mobilidade de milhões de pessoas não terá resposta única. As possibilidades são muitas e as respostas cada vez mais eficientes.
O planeta agradece.