Respeito e honra devolvidos: José Carlos Pace agora descansa em Interlagos
Os restos mortais do piloto brasileiro José Carlos Pace, o “Moco”, falecido em 18 de março de 1977 em um acidente aéreo próximo a Mairiporã (SP) no melhor momento de sua carreira, foram transladados na manhã da última sexta-feira, 23 de agosto de 2024, para o Autódromo de Interlagos, a pista que tanto amava e que leva seu nome.
por Ricardo Caruso. Imagens: Ricardo Caruso, Rubens Caruso Junior, Paulo “Loco” Figueiredo, Maurício Marx e Lilian Alvim.
A ideia desta homenagem partiu e foi organizada pelo piloto e presidente da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), Paulo “Loco” Figueiredo, presidente da Comissão Nacional de Carros Clássicos da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) e pelo jornalista Ricardo Caruso, diretor-editorial deste site AUTO&TÉCNICA (que inclusive estava presente no GP do Brasil de 1975, vencido por Pace), assim que foram informados da depredação do túmulo e vilipêndio dos restos mortais de “Moco” no cemitério do Araçá, em São Paulo, SP.
Não existe nenhum registro na historia de um piloto -em especial de Fórmula 1- que esteja sepultado em um autódromo e que ainda por cima leve seu próprio nome. Esta honra coube a José Carlos Pace, o “Moco”, que no próximo dia 6 de outubro completaria 80 anos e, em 26 de janeiro de 2025, terá celebrados os 50 anos de sua vitória no GP do Brasil de Fórmula 1.
Assim que foi constatada a triste situação no cemitério, Paulo “Loco” e Ricardo Caruso iniciaram uma longa luta contra a burocracia, que incluiu reuniões com autoridades municipais, pelo menos 15 idas ao cemitério, buscas em cartórios, coleta de documentos e autorizações diversas. Tudo com apoio e ajuda da família Pace, que desconhecia a situação da sepultura no cemitério e os autorizou de imediato a fazerem o que fosse necessário.
Finalmente, em 23 de agosto, Pace voltou a Interlagos, onde foi sepultado e finalmente descansará em paz junto ao busto que existe no local em sua homenagem. A emocionante cerimônia foi acompanhada pela família de “Moco” (a viúva Elda, os filhos Patrícia e Rodrigo e netos), amigos, pilotos, jornalistas e admiradores de “Moco”. Também acompanharam a cerimônia nomes de destaques do automobilismo nacional, como Paulo Gomes, Alex Dias Ribeiro, Francisco Lameirão, Almir Donato e Augusto Tolentino, entre outros.
A ÚLTIMA BANDEIRADA
Após uma breve cerimônia, que incluiu um ato religioso e uma tocante fala de Alex Dias Ribeiro, foi realizada a última volta de José Carlos Pace pela pista, em que Rodrigo, filho de “Moco”, pilotou um Karmann-Ghia 1967 de competição, da antiga equipe Dacon, que na época foi usado por seu pai (formando trio com nada menos que Emerson e Wilsinho Fittipaldi). Junto a Rodrigo estava Maurício Marx, colecionador e atual proprietário do carro, que levaram para a “Bandeirada Final” a urna com os restos mortais de Pace. Um detalhe: o cãozinho de Marx, que se chama “Carlos Pace”, foi o mascote do evento.
O emocionado cortejo -saudado pelos bandeirinhas que estavam na pista para a etapa da Porsche Cup- foi seguido pelos presentes, e Rodrigo usava o capacete original do falecido piloto, que recebeu ao final da volta a bandeira quadriculada. A urna estava decorada com adesivos de seu capacete, da equipe Brabham, do BT45 (seu último carro na Fórmula 1), fitas em verde e amarelo e a imagem da Cruz de São Bento.
Esta devolução de respeito a José Carlos Pace contou com a dedicação de Paulo “Loco” Figueiredo e de Ricardo Caruso, e ainda com a ajuda inestimável da família Pace; de Giovanni Guerra, presidente da CBA; de Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, e de Marcelo Pinto, administrador do autódromo, entre outros. Uma placa marcando o feito e homenageando os idealizadores foi colocada junto ao busto.
Todas as pessoas e autoridades contatadas para que essa celebração fosse possível, foram absolutamente rápidas e acessíveis, e se prontificaram a ajudar no que fosse possível. O longo caminho exigiu paciência, como dissemos antes, com 15 idas ao cemitério (não só para viabilizar o translado, mas também para evitar danos ainda maiores à sepultura), coleta de documentos de gerações das famílias envolvidas (a sepultura original pertencia à família de Elda Pace), visitas a cartórios e uma luta quase insana contra a burocracia. No final, ficou a sensação de missão cumprida. Como disse Paulo “Loco” Figueiredo, “hoje foi o Dia da Honra”, e como finalizou Ricardo Caruso, “devolvemos o respeito a José Carlos Pace”.
Como está gravado na placa, “que descanse em paz na casa que leva seu nome”.
Confira as imagens: