SAUER: A MORTE DO SENHOR VOLKSWAGEN
A Volkswagen do Brasil, em nome de seus 22.500 empregados, e também de todos os seus ex-empregados, lamentou o falecimento do ex-presidente Wolfgang Sauer, ocorrido esta semana, em São Paulo, SP, aos 82 anos de idade. Ao mesmo tempo, manifestou agradecimento por todos os frutos de seu trabalho pioneiro e revolucionário, e afirmou que sua marca está eternizada na empresa e no País.
Alemão naturalizado brasileiro, Sauer foi o quarto presidente da Volkswagen do Brasil, onde permaneceu por 16 anos, de 1973 a 1989. Suas contribuições e ensinamentos estão marcados não só na Volkswagen do Brasil, como também no Grupo Volkswagen. Em sua trajetória, provou que uma empresa alcança o sucesso e sobrevive em função da sua eficiência e da qualidade dos seus produtos e serviços.
Com uma gestão marcada pelo empreendedorismo, Sauer deu valiosa contribuição ao desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil, com ousadia e uma visão estratégica que colocaram a Volkswagen em posição de destaque entre as maiores empresas do País.
O executivo liderou negociações e operações que ajudaram a criar novos rumos para a indústria automobilística brasileira. Na década de 1970, por exemplo, Sauer levou a Volkswagen brasileira ao Iraque, em um dos maiores contratos de exportação mundial já feitos de um único modelo de carro, o Passat. Negociou com Saddam Hussein, a exportação de 180 mil unidades do Passat, num contrato de US$ 1,7 bilhão.
Esse valor foi pago com petróleo, em plena crise gerada pela guerra Irã-Iraque. Também manteve contratos de exportação do Santana (CKD) para a China, além de Fox (antigo Voyage e Parati) para os Estados Unidos e Canadá.
A VW ainda é a maior exportadora do setor, o que lhe garante o título de maior fabricante, pois, em vendas domésticas, está atrás da Fiat. Sauer promoveu a internacionalização da Volkswagen do Brasil, exportando os veículos da marca produzidos aqui para cerca de 100 países, inclusive a China, nos anos 1990, no início da globalização. Ele criou também o Consórcio Nacional Volkswagen e o Banco Volkswagen. Visionário, estimulou a matriz alemã a implantar no Brasil a linha de produção de caminhões, em 1991. Também foi articulador da criação da Autolatina, em 1987, unindo as operações da Volkswagen e da Ford, nos mercados brasileiro e argentino.
Sauer contribuiu ainda para o desenvolvimento das relações entre empresa e sindicatos, inédita na história do País, por meio do diálogo contínuo com os trabalhadores na década de 1980, quando o movimento sindicalista no ABC estava em expansão. Negociou com os sindicatos nas primeiras greves do ABC, especialmente durante a mais longa delas, com 42 dias de duração.
Embora a relação fosse de diálogo e respeito, comenta-se que na época a empresa tinha uma rede de informantes, uma espécie de SNI particular (Serviço Nacional de Informação), grupo que vigiava os passos dos sindicalistas da região e repassava notícias diárias para a direção da montadora.
Nos tempos do controle de preços, processou o Estado, que decidia os reajustes que podiam ser aplicados nos preços dos carros mensalmente.
Em sua gestão, a Volkswagen lançou produtos de grande sucesso, como o Gol, Voyage, Parati, Saveiro, Santana, Passat, entre outros. Sauer foi responsável pela implementação da segunda fábrica da marca no Brasil, em Taubaté, em 1976, introduzindo novas tecnologias e conceitos de produção.
Com a crise do petróleo, nos anos 1970, o executivo, defensor da busca por alternativas à gasolina, fez da Volkswagen do Brasil a pioneira no desenvolvimento dos motores movidos a etanol, lançados em 1979 nos modelos Sedan 1300, Brasília e Passat.
No livro “O Homem Volkswagen”, que foi lançado no final do ano passado, Sauer conta ter sido um estudante medíocre, que quando tinha 14 anos, o diretor da escola onde estudava em Stuttgart, onde nasceu, aconselhou sua mãe a mandá-lo para as minas de carvão. Felizmente sua mãe não seguiu o conselho, e o jovem órfão de pai trabalhou em várias áreas. Já adulto, passou por Portugal e Venezuela, e depois veio para o Brasil. Dirigiu a Bosch até ser convidado a presidir a Volkswagen.
Foi ele também quem decidiu encerrar a produção do Fusca, em 1986, dando lugar ao Gol, modelo que já passou por várias mudanças e é líder de vendas há 26 anos.
Além da própria narrativa de Sauer, o livro com 528 páginas traz depoimentos de várias pessoas que conviveram com ele e tem prefácio de Delfim Netto.