Classic Cars

Seville: “Querida, encolhi o Cadillac…”

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Na década de 1970, o ano de 1975 foi muito ruim para a indústria automobilística norte-americana. A crise do petróleo estava no auge e a legislação de segurança, emissões poluentes e consumo de gasolina  estava cada vez mais rigorosa. Todas as marcas abriram mão de seus motores potentes, beberrões e poluidores, e criaram carros pouco memoráveis para grande parte do mercado. Modelos pequenos importados desembarcaram nos Estados Unidos, e Detroit começou a conhecer um longo período de declínio, que dura até hoje.

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O único lançamento que chamou atenção naquele ano talvez tenha sido o do Cadillac Seville. A marca foi forçada a investir num modelo menor, sem abrir mão do luxo. O carro era 68 cm mais curto que o DeVille e, melhor, cerca de 500 quilos mais leve. Diminuiu tamanho e peso, mas não o preço, pois o Seville estava entre os modelos mais caros da marca. O nome Seville veio de Sevilla, uma cidade da Espanha, e já havia sido utilizado antes numa versão do Eldorado feita de 1956 a 1960.

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A idéia era recuperar clientes perdidos para marcas importadas, em especial Mercedes-Benz e BMW, e por isso a Cadillac caprichou no desenho, criando um modelo realmente atraente. Era uma espécie de carro europeu com características americanas, uma das primeiras vezes em que isso aconteceu. Com linhas retas. tinha a “coluna C” (traseira) a quase 90°, quatro faróis retangulares, enormes pára-choques cromados e teto de vinil. E mais, usava um motor V8 alimentado por injeção eletrônica, pela primeira vez funcionando bem num carro americano.

TEMPO RECORDE

A GM quería e precisava apresentar soluções rápidas ao mercado, e por isso foi estabelecido o prazo de apenas 14 meses para o desenvolvimento do modelo, sendo que naquela época períodos normais para desenvolver um carro oscilavam de dois a três anos. Uma idéia era usar a mesma plataforma de tração dianteira já aplicada antes no Eldorado e no Oldsmobile Toronado, mas não havia produção suficiente da transmissão para atender mais um produto, e por isso essa possibilidade foi deixada de lado.

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A GM optou então pela “plataforma X”, que era conhecida internamente como N.O.V.A., as letras iniciais dos carros que a usavam (Chevrolet Nova, Oldsmobile Omega, Pontiac Ventura e Buick Apollo). Tinha subchassi fixado ao monobloco e foi tão mudada que ganhou identificação própria, pasando a ser conhecida como a “plataforma K”. Uma curiosidade: por usar a parte dianteira do teto de outros carros e uma seção traseira nova, o carro tinha de série teto de vinil, necessário para esconder a emenda.

O Seville tinha 5,2 metros de comprimento, 1,8 m de largura, 2,9 m de distância entre-eixos e 1.900 kg de peso. Essa diminuição de tamanho foi uma atitude corajosa da GM, pois existía a tese de que, carros de luxo menores jamais fariam sucesso no mercado americano.

COM INJEÇÃO

Mas existiam outros atrativos. O Seville  usava motor 5.7V8 (o 350V8), com comando de válvulas no bloco, 180 cv de potência e 37,9 mkgf de torque, feito pela Oldsmobile. A injeção eletrônica era fornecida pela Bendix, apresentada um pouco antes no motor 8.2V8 do Eldorado. A tração era traseira, com câmbio automático de três marchas, suspensão dianteira independente com braços sobrepostos, eixo rígido na traseira com feixes de molas e freios a disco na dianteira.

O Cadillac perdeu tamanho, mas não perdeu a pose. Só dois ítens eram opcionais: rádio e teto solar. De resto, uma longa lista de acessórios e recursos, como vidros, travas e espelhos elétricos; ar-condicionado automático; volante regulável em inclinação e profundidade; comutador automático de faróis altos e baixos; quebra-sol com espelho e iluminação, freio de estacionamento com liberação automática e até iluminação na fechadura da porta.

 O carro foi recebido com elogios, mas custava caro. Mais caro que ele, só a limusine Fleetwood 75, que tinha produção limitada. Mas a estratégia funcionou. Foram quase 45 mil unidades vendidas no primeiro ano, e isso deu segurança para a GM reduzir o tamanho de outros carros.

EVOLUINDO

 Os freios a disco na traseira foram adotados em 1977, e em 1978 a versão Elegance era pintada em duas cores e usava rodas raiadas, teto sem vinil (a tal emenda das chapas foi eliminada) e bancos revestidos de couro. Ainda em 1978, o carro ganhou painel de instrumentos digital –o Tripmaster- que reunia os mostradores e computador de bordo. Para 1979, a GM apresentou a versao Gucci, criada em parceria com a tradicional grife. Tudo isso levantou as vendas da Cadillac e a GM atingiu sua meta, que era roubar clientes dos carros europeus.

Mas também a GM relaxou e cometeu alguns equívocos. O primeiro deles foi usar um motor 5.7V8 a diesel (da Oldsmobile), com pouco mais de 100 cv e 28 mkgf. Era de série no Seville 1980, ficando o 6.0V8 a gasolina de 145 ou 160 cv, como opcional. Afinal, motor diesel dava certo nas Mercedes-Benz, mas a GM esqueceu que os alemães tinham amplo know how no assunto, enquanto o motor a diesel americano era de manutenção difícil e pouco confiável. Felizmente durou pouco.

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Em 1980 veio o motor 6.0 8/6/4, de 140 cv e 36,5 mkgf, que desligava cilindros (dois ou quatro) conforme a necessidade. Mas os recursos para isso funcionar na época eram ruins, e logo vieram as queixas dos consumidores. Outra tentativa para consumir menos foi em 1981, ao usar o motor 4.1V6 de 125 cv, variação do 3.8V6 Buick. Esse foi o primeiro motor de seis cilindros usado em um Cadillac em muitos anos. Em 1982, o Seville ganhou motor 4.1V8 (chamado de HT 4100) com cabeçotes de alumínio, 125 cv e 27,6 mkgf; em 1983, ganhou mais 10 cv.

QUE TRASEIRA!

 O mais interessante é que o Seville 1980 surpreendeu em termos de desenho, com a traseira inspirado nos Rolls-Royce de antes da guerra. A plataforma passou a ser a K, com tração dianteira e suspensão traseira independente com nivelamento automático. Toda a parte mecância e dianteira era comuns entre o Seville e o Eldorado.

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Por dentro, o mesmo luxo e novas tecnologias, incluindo bancos elétricos com memórias, ar-condicionado automático e painel digital, além de retrovisores externos com desembaçador e o opcional Full Cabriolet Roof, teto que transfomava o sedã num quase conversível. E de quatro portas! Bancos de couro, calotas raiadas e pintura em duas cores eram também disponíveis.

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O Seville 1986 diminuiu ainda mais de tamanho e entrou na faixa que os americanos chama de “carros compactos”, pois ficara 40 cm mais curto e cerca de 170 kg mais leve. A traseira voltou a ser “normal”, com a tradicional coluna traseira vertical lançada em 1975.

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A mecânica também evoluiu, pois tinha câmbio automático de quatro marchas com alavanca no assoalho e freios a disco nas quatro rodas. A suspensão traseira era com feixe de molas transversal, de plástico reforçado com fibra de vidro, e nivelamento automático. Na lista de opcionais, freios ABS, telefone celular, retrovisor interno fotocrômico, som Bose e pintura em dois tons. Ao mesmo tempo a Cadillac lançou um outro modelo, menor ainda. Era o Cimarron, na verdade o nosso velho conhecido Monza com acabamento mais ou menos Cadillac. Um desastre.

EM BAIXA

Mas apesar do luxo e equipamentos, o Seville 1986 não fez muito sucesso, e as vendas caíram de quase 40 mil unidades para apenas 19 mil. Isso se explica pelo fato de que a carroceria era compartilhada com outros modelos da GM, como o Oldsmobile Calais, que custava três vezes menos. A situação ficou ruim até ser lançada em 1988 a versão STS (Seville Touring Sedan), mais esportiva, equipada com o motor 4.5V8. Esse motor tinha coletor de admissão variável em duas fases, 155 cv e 33 mkgf.

Para o próximo ano, 1989, uma das novidades era o pára-brisa com desembaçador (ElectriClear) e chave codificada. No ano seguinte, o motor V8 ganhou injeção multiponto e por isso a potência foi para 180 cv e 34 mkgf, enquanto airbag passou a ser de série para o motorista. Mais um ano e o Seville recebeu o motor 5.0V8 de 200 cv e 38 mkgf, acoplado a um câmbio automática com gerenciamento eletrônico.

Na linha 1992, o Seville ficou não só mais largo, como 30 cm mais longo, e cada vez mais luxuoso. O eficiente motor Northstar 4.6V8 com bloco de alumínio, duplo comando de válvulas nos cabeçotes e 32 válvulas tinha 295 cv e 40 mkgf, e passou a ser usado na linha 1993. Vieram ainda o airbag frontal para o passageiro e, no STS, controle de tração e suspensão inteligente, com três três níveis de amortecimento: Comfort, Normal e Sport. No ano seguinte, o SLS (Seville Luxury Sedan) passou a usar um motor Northstar amansado, com 270 cv, enquanto controle de tração e suspensão eletrônica equipavam todos os Seville.

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Um novo painel surgiu em 1996, e para 1997 o carro ganhou controle eletrônico de estabilidade –o Stabilitrack- e limpador de pára-brisa automático, com sensor de chuva. O STS recebeu melhorias na suspensão, e a GM apresentou o sistema OnStar de assistência ao motorista.

MÉDIO DE NOVO

Como em 1996 o Fleetwood saiu de linha, o Seville se tornou o carro de tamanho médio da marca, abaixo apenas do DeVille. Sua última geração foi lançada em 1998, apenas como evolução discreta do anterior, mas com melhor aerodinâmica (Cx 0,30) e mais seguro. A plataforma era uma variação da usada nos Buick Riviera e Park Avenue e Oldsmobile Aurora.

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O motor Northstar de 32 válvulas chegava a 275 cv no SLS e 300 cv no STS. A suspensão traseira era multilink e usava braços de alumínio (presentes também na dianteira), sempre com ajuste eletrônico de amortecimento. Airbags laterais na frente e cintos com pré-tensionadores ajudavam na segurança. Por dentro, ainda mais sofisticação, como no banco do motoristam que tinha 10 sensores ligados a um dispositivo que variava a pressão sobre o corpo. O som Bose tinha 425 watts, subwoofer e CD Player de 12 discos.

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Com um excelente carro em mãos, a Cadillac planejou exportar o Seville para cerca de 40 países. A linha 2000 chegou com sensores de estacionamento na traseira e, em 2002, o modelo ganhou GPS; para 2003, comando de voz, ajuste elétrico para o volante.

O FINAL

O Seville passou para a história em abril de 2004, quando a Cadillac apresentou um novo STS. O novo carro era mais moderno, com a plataforma Sigma do CTS e motor 3.6V6 de 255 cv ou 4.6V8 de 320 cv, sempre automático de cinco marchas. Assim mesmo, o mais eficiente carro compacto da Cadillac deixou de ser fabricado exibindo o que havia de melhor na marca, além de ter quebrado paradigmas em relação ao tamanho, num momento necessário da história.

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