SlideUltima Hora

Stellantis minimiza tarifaço de Trump: “é problema dos norte-americanos”

Compartilhe!

O grupo automotivo Stellantis, resultante da fusão das antigas Fiat-Chrysler e PSA, minimizou o impacto nas suas fábricas das tarifas de 25% sobre os carros importados pelos Estados Unidos, que entraram em vigor, considerando ser “um problema norte-americano”. “Em 2024 exportamos da Itália para a América do Norte menos de 20.000 automóveis. É evidente que não é um número muito elevado e que o problema é norte-americano, para México e Canadá”, declarou uma fonte do grupo em Itália.

por Marcos Cesar Silva

A dimensão do Grupo, considerado o quarto maior fabricante de automóveis do mundo, pode expô-lo às tarifas para o setor automotivo promovidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump anunciou tarifas globais de 10% para todos os produtos importados da maioria dos países e, em alguns casos, taxas ainda maiores, como China ou União Europeia (UE).

A América do Norte é um dos principais mercados da Stellantis, onde em 2024 alcançou um volume de negócios acumulado de US$ 69,7 bilhões divididos entre Estados Unidos, México e Canadá, região onde entregou 1,4 milhões de veículos. Naquela região, o Grupo emprega 75 mil pessoas. A maior parte dos veículos comercializados para o mercado norte-americano são fabricados em nível local, tendo apenas cerca de 20.000 carros sido montados nas suas 11 fábricas em Itália, a maioria deles Fiat 500 elétricos ou Alfa Romeo Stelvio, Giulia ou Tonale, bem como o SUV Dodge Hornet.

A maior produção norte-americana resulta da herança que a Stellantis tem da Chrysler, tornando-se membro do grupo das “três grandes”, ao lado da General Motors e da Ford. No total, são 16 fábricas nos Estados Unidos (em Michigan, Indiana e Ohio), que se juntam a fábricas estratégicas no Canadá e no México.

É nesse sentido que aumenta o problema para o Grupo, com a aplicação de imposto sobre cada carro ou componente que entre no mercado dos Estados Unidos a partir de fábricas mexicanas ou canadenses. O mais importante para a Stellantis é, segundo as fontes citadas pela imprensa internacional, a clareza, estabilidade e existência de “um contexto regulamentar previsível”. Na Itália, a maior preocupação passa mesmo pelos efeitos das exportações de componentes que são utilizados em carros que são, em última instância, negociados para os Estados Unidos.

O presidente da Stellantis, John Elkann, herdeiro da família Agnelli, tentou convencer Trump a adiar as tarifas por um mês e voltou a se encontrar com o chefe de Estado norte-americano para discutir a vontade de Washington em ser menos rígida com as normas de emissões.

A produção automóvel em Itália tem caído e, em 2024, recuou para 310.000 automóveis, 42,8% abaixo do produzido no ano anterior, segundo dados do setor sobre um mercado que tem capacidade para produzir cerca de dois milhões de carros por ano. A Ferrari, que tem no continente americano o seu segundo maior mercado (4.003 veículos dos 13.752 vendidos em 2024) já reagiu às tarifas, simplesmente aumentando o preço de vários dos seus modelos nos Estados Unidos.

Por outro lado, quem está em apuros é a Nissan, que com o tarifaço não tem outra alternativa que não reforçar a produção nos Estados Unidos e suspende por lá a venda de modelos feitos no México

A marca japonesa anunciou que está revendo a sua estratégia, para manter a produção nos Estados Unidos, na sequência das tarifas impostas na pelos Estados Unidos ao setor automotivo. A empresa anunciou que a produção do modelo Nissan Rogue “será mantida na fábrica de Smyrna, no Tennessee, de forma a manter produção nos Estados Unidos, isenta dos novos impostos aduaneiros”.

A Nissan, empresa com elevadas dívidas e cujo lucro operacional simplesmente desabou, já havia anunciado em novembro último que iria cortar 9.000 postos de trabalho em todo o mundo e reduzir a capacidade de produção em 20%. Em fevereiro deste ano, a empresa tinha detalhado que queria reduzir a produção nas suas fábricas americanas de Canton (Mississippi) e Smyrna. Mas a situação mudou, depois da entrada em vigor das sobretaxas norte-americanas de 25% sobre os automóveis importados.

Em 2024, cerca de 30% das vendas globais da Nissan foram nos Estados Unidos, ou seja, 924 mil veículos comercializados, mas deste total, apenas 524.900 saíram das suas fábricas norte-americanas, sendo os restantes 43% importados, principalmente do Japão e do México. Agora a empresa vai deixar de comercializar nos Estados Unidos dois modelos SUV produzidos na fábrica do México. A Nissan também está “suspendendo as encomendas dos Infini QX50 e QX55” produzidos no México para o mercado dos Estados Unidos.

Outra que não está tendo vida fácil pós-tarifaço é a Mercedes Benz, está estudado transferir a produção de outro modelo de veículo para os Estados Unidos em resposta às tarifas de 25% sobre os automóveis impostas por Trump. Essa mudança pode ser necessária para lidar com o custo dos impostos, afirmou Jörg Burzer, o responsável de produção da Mercedes, esta quinta-feira, recusando-se no entanto a comentar qual o modelo que pode ser transferido para a sua fábrica em Tuscaloosa, no Alabama. “Ainda estamos a avaliar os impactos destas tarifas”, afirmou, durante um evento da empresa em Stuttgart, na Alemanha. “Fizemos alguns planos, mas a flexibilidade é absolutamente essencial”.

Os fabricantes automóveis alemães estão entre as mais afetados pelos impostos de Trump sobre as importações de automóveis. A forte procura por SUVs e a mudança de costumes mais lenta dos consumidores americanos para veículos elétricos fazem aquele mercado ser bem rentável para empresas como a Mercedes e a Porsche.

O modelo importado mais popular da Mercedes nos Estados Unidos é o GLC: o fabricante alemão vendeu 64.163 unidades do SUV por lá no ano passado, aumento de 58% diante do ano anterior. Com preços pouco abaixo dos US$ 50 mil, o GLC tem margens de lucro mais baixas, e para a marca ajuda a enfrentar a concorrência mais feroz, o que é mais difícil do que com os modelos mais caros, como o sedã Classe S ou o G-Wagon, o que significa que as novas tarifas têm grande probabilidade de pesar na sua rentabilidade.

Segundo a “Bloomberg”, o imposto de 25% de Trump já abalou a indústria automotiva, com a Mercedes considerando cortar nos Estados Unidos as vendas de produtos importados com margens mais baixas, como o SUV GLA, já que essas tarifas ameaçam prejudicar muito a sua rentabilidade.


Compartilhe!