TESTE: Ford Territory 1.5 2024
Alguns carros ficam meio esquecidos no mercado, mesmo quando tem muitas virtudes. Ou porque a marca está numa pindaíba de fazer dó, ou porque a área de marketing falhou, ou porque é muito ruim… Os motivos podem ser vários, mas nenhum serve de justificativa para o SUV Ford Territory, que já era um bom produto em sua primeira geração, e está ainda melhor nesta segunda roupagem, mas é pouco lembrado pelos compradores. O primeiro Territory não foi exatamente um sucesso de vendas, pois chegou em agosto de 2020, num momento complicado da marca no Brasil, que estava deixando de ser fabricante e se transformando em importadora. Isso sem contar a pandemia de Covid 19. Frequentou as concessionárias da marca por cerca de três anos e é raro ver um pelas ruas. Não havia cenário mais terrível para se lançar um carro aqui no Brasil.
por Marcos Cesar Silva
Mas a história mudou, e em agosto do ano passado a Ford lançou a segunda geração do Territory. Um modelo todo novo, com outro visual e mais das características que o comprador de Ford busca. Continua vindo da China, o que hoje não é demérito algum, produzido pela Jiangling Motors, parceria que produzia também o primeiro Territory. As mudanças são tantas que, na China, ele tem outro nome (Equator Sport) e mostra referências a outros SUVs da marca. É outro carro. E mais: a Ford reposicionou seu preço (R$ 209.990, sem modificação desde o lançamento há um ano) e, melhor ainda, incluiu um ótimo nível de recursos e equipamentos.
As dimensões do novo Ford Territory também estão bastante diferentes. O modelo cresceu, de 4.580 mm para 4.630 mm no comprimento (+50 mm), ganhou 10 mm na distância entre-eixos (agora 2.726 mm), foi para 1.935 mm de largura e 1.706 mm na altura. As rodas de liga-leve agora são de 19 polegadas, diferente do modelo anterior que usava aros 17.
O primeiro Ford Territory que chegou ao mercado quatro anos atrás era comercializado nas versões SEL e Titanium, com visual agradável e contemporâneo e com bom acabamento. O motor era o 1.5 Turbo EcoBoost de 150 cv de potência e 22,9 mkgf de torque, mais câmbio CVT de oito velocidades. A receita era muito boa, mas pelos motivos citados, as vendas não ajudaram. Hoje a situação é outra, e apesar de ainda não ser um campeão de vendas, pelo menos ganhou o respeito dos consumidores. Agora é vendido apenas na versão Titanium. e se já tinha bom porte, ficou ainda maior.
A vida do Territory 2024 -que concorre direto com o Jeep Compass, VW Taos, Toyota Corolla Cross, e Chery Tiggo 7, entre outros SUVs médios- não é nada fácil. Mas a nova geração surpreende pelo conjunto de mudanças, e fora o nome, pouco tem a ver com o anterior. É elegante e sóbrio, tem visual mais esportivo, bom espaço e conforto e, de imediato, remete aos produtos Ford.
AUTO&TÉCNICA testou a primeira geração em janeiro de 2021 (veja aqui). Agora avaliamos a segunda e surpreendente geração desse SUV. Além de mudanças no visual, o Territory ficou maior e mais confortável, com linhas bem atuais e bom conteúdo tecnológico. Na frente, destaque para a nova grade, conjunto de faróis em led e o novo capô com dois vincos bem marcados. A traseira também é nova no desenho, com lanternas horizontais em led, tudo muito bem resolvido e equilibrado; não é modo de dizer, o SUV é todo novo!
Outra ótima mudança foi no powertrain. O Ford Territory continua equipado com o motor 1.5 turbo (código JX4G15), mas que não é o mesmo 1.5 turbo que a Ford usa nos Estados Unidos. Trata-se de uma interessante evolução do motor 1.5 anterior. O bloco é o mesmo, mas com outro conjunto de comando de válvulas duplo no cabeçote, de variação na abertura e escapamento e acionado por corrente. A injeção é direta. Trocou também o ciclo de funcionamento, deixando de lado o Miller (que beneficia a eficiência) e adotou o Otto (para melhor desempenho). Com isso, ganhou 19 cv de potência, chegando aos 169 cv de potência máxima e mais 2,6 mkgf, atingindo 25,5 mkgf de torque máximo; saiu o câmbio CVT e entrou o automatizado de dupla embreagem banhada a óleo, de sete marchas. A relação peso/potência é de 10,09 kg/cv, a potência especifica de 113,4 cv/litro, diâmetro x curso de 79×76 mm.
O SUV pesa quase duas toneladas, usa rodas aro 19 (pneus 235/50) e tem quase 170 cv, e isso é cobrado no consumo de gasolina, mas que está dentro do previsto para um carro deste porte. Faz 8,9 km/litro de gasolina na cidade e 12,4 km/litro na estrada. O desempenho é bom, com 10,4 segundos na aceleração de zero a 100 km/h e velocidade máxima limitada em 180 km/h. A direção é elétrica, um pouco mais leve do que devia, e as suspensões foram calibradas com a ajuda dos engenheiros remanescentes da Ford Brasil: com McPherson na frente e multilink na traseiras, surpreendem pelo bom compromisso entre segurança e conforto. Os freios são a disco nas quatro rodas, ventilados na dianteira.
O interior é confortável, iluminado e oferece um ambiente muito agradável, misturando revestimentos escuros com outros azulados, em combinação bastante elegante. O novo acabamento é realmente muito bom, como convém a um Ford. Materiais de qualidade, imitação de madeira, alguns cromados e black piano bem combinados e bancos revestidos em material que imita couro. O isolamento acústico é excelente e filtra bem ruídos externos. A ergonomia é correta, os comandos e controles são bem posicionados, o seletor de marchas é rotativo e fica no console. No painel, clara inspiração nas Mercedes (o que não desabona ninguém), com duas telas horizontais, que acomodam os instrumentos e a central multimídia, de 12,3 polegadas cada.
O Ford Territory nesta segunda geração é completo em itens de segurança, conforto, entretenimento e comodidade. Os dois confortáveis bancos da frente bancos oferecem ajustes elétricos e são ventilados; merece destaque o espaço no banco traseiro, que também conta com saídas do ar-condicionado e uma tomada USB. O porta-malas tem 448 litros de capacidade (cresceu 100 litros!) e conta com abertura e fechamento elétricos. O volante é multifuncional e o Ford oferece quatro modos de condução: Normal, Eco, Serra e Sport.
Na lista de mimos do Ford Territory Titanium 2024 estão ainda teto solar panorâmico, carregamento de celular por indução, ar-condicionado digital de duas zonas, freios a disco nas quatro rodas, assistente de partida em rampa e de descida, controles de estabilidade e tração, vidros/travas/espelhos elétricos, ótimo sistema de áudio, câmera 360 graus. sistema Stop and Go, partida sem chave e muito mais.
Nos quesito segurança, destaque para os seis airbags (frontais, laterais e de cortina), cintos de segurança de três pontos para todos os passageiros, cruise control adaptativo, monitoramento de ponto cego com alerta de tráfego cruzado, assistência de permanência em faixa, sensores de estacionamento traseiro e dianteiro e frenagem autônoma de emergência com alerta de colisão frontal, comutador de farol alto/baixo automático, luz diurna de condução e sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, entre outros recursos.
CONCLUSÃO
Quando a Ford trocou de atividade no Brasil, passando de fabricante a importadora, a desconfiança do consumidor sobre a marca chegou com muita força e incontáveis notícias falsas. A decisão, em janeiro de 2021, chocou o mercado e os admiradores da marca. Mas a Ford perdia em média R$ 10 mil por cada carro vendido no Brasil, e hoje está operando no lucro, e a recuperação de seu prestígio foi questão de tempo, graças à qualidade dos produtos que trouxe e está trazendo de fora.
O Ford Territory oferece bem mais do que se espera em média de um SUV de seu porte e categoria. É um modelo bem desenhado e projetado, com bom espaço interno, confortável, com generosa lista de equipamentos, seguro e agradável de dirigir. O desempenho é bom, motor e câmbio mostram clara evolução e o consumo está dentro de seu compromisso.
Relembrar aquele momento ruim que a Ford teve no Brasil mostra que ela fez o certo, infelizmente sacrificando empregos e patrimônio. Mas essa é a regra do capitalismo. A volta por cima foi muito rápida, priorizando o segmento premium e, no caso do Territory, o atraente custo/benefício também ajuda a fazer a diferença. É um SUV que deveria ser mais conhecido do público e, assim, ser oferecido como excelente alternativa no mercado brasileiro. Para nós, foi uma surpresa muito agradável.