TESTE: Ford Territory Titanium
O primeiro contato que tivemos com o SUV Territory, da Ford, foi em outubro do ano passado, numa breve avaliação. Há apenas três meses, o cenário da Ford era o seguinte: a marca havia anunciado meses antes que -em termos globais- passaria a concentrar todos os seus esforços no lançamento de SUVs e picapes, deixando de lado sedãs, wagons e cupês, claro que com exceções, como o Mustang. Focus e Fiesta na Europa sobreviveram, mas Ka e Ecosport brasileiros, não. A Ford agora será apenas uma importadora de carros de nicho (leia-se “carros caros”) no Brasil.
Texto: Marcos Cesar Silva, Fotos: Ricardo Caruso/Divulgação
Nessa nova realiade, o Territory, recém chegado, deve fazer parte dos importados pela marca. Nessa disputa por cada centímetro de mercado, a marca passou a ter uma opção diferente com o Territory, que agora deve ganhar destaque na nova operação da empresa: a de modelos de origem chinesa.
Por conta da disponibilidade da montadora na época, AUTO&TÉCNICA fez uma rápida avaliação do Territory, aguardando a chegada de uma unidade para avaliação mais completa. Foi o que aconteceu recentemente, e o Territory foi a ultima das centenas de avaliações de carros da Ford que fizemos, desde 1982, como fabricante de veículos no Brasil. Uma pena.
Este SUV Ford é uma espécie de carro da nova era da indústria automotiva. Derivado do chinês JMC Yusheng S330, é fabricado em Xiaolan, na China, pela própria JMC. Algo contra? Nada. Fiat 500 e Ford Ka europeus, por exemplo, por bom tempo saíram da mesma fábrica polonesa, dividindo componentes e plataforma.
O Territory é uma boa surpresa. Se você observar com atenção, outros sinal dos novos tempos: inscrições em mandarim em diversos componentes. A única similaridade com os Ford que eram fabricados aqui é o emblema oval.
A Ford explicou que o Territory vendido aqui no mercado brasileiro recebeu mudanças nas buchas da suspensão e amortecedores, pneus menos ruidosos (na medida 235/50-18) e melhorias no isolamento acústico. De acordo com a marca, o desenvolvimento do Territory naconalizado consumiu cerca de 100 mil km de testes e 10 mil horas de validações no Brasil.
O motor do novo Territory é realmente excelente: 1.5 turbo EcoBoost, com injeção direta de combustível, intercooler e comando de válvulas variáveis. Só disponível a gasolina, tem 150 cv de potência máxima a 5.300 rpm e 22,9 mkgf de torque máximo entre 1.500 e 4.000 rpm. O câmbio é automático CVT (da Punch Powertrain), com oito marchas simuladas e tração apenas dianteira.
O Territory tem 4.580 mm de comprimento, 1.936 mm de largura, 1.674 mm de altura e 2.716 mm de distância entre-eixos.
Nossa curiosidade era avaliar mais a fundo o novo SUV. A potência e torque apresentam bons números, mas os pouco mais de 1.600 kg de peso inibem qualquer pretensão de esportividade que, verdade seja dita, não é o compromisso do modelo
Mesmo assim, as respostas em acelerações e retomadas agradam bastante para o porte do Territory. De acordo com dados de fábrica, a aceleração de zero a 100 km/h é feita em 11,8 segundos e velocidade máxima é de 180 km/h, limitada eletronicamente.
O ajuste de suspensão privilegia o conforto, com ótima absorção de imperfeições do piso. A direção, assistida eletricamente, é leve em manobras e apresenta peso correto em velocidade mais elevada.
Os materiais usados no acabamento são de excelente qualidade, diferente de muitos carros chineses. Revestimentos claros de couro de boa qualidade são aplicados nos bancos, painel e portas, e os encaixes do painel, por exemplo, são sempre corretos. A iluminação ambiente é personalizável em sete cores, o que reforça a percepção de bom acabamento. Os ocupantes do banco traseiro têm tomada USB e saída de ventilação.
Observamos que o trabalho com materiais fonoabsorventes foi bem feito e é um dos maiores destaques do SUV da Ford. No Territory, chama atenção a baixa passagem de ruído do motor para a cabine.
O espaço para os ocupantes é bom, em especial na traseira. No porta-malas, a capacidade é de 348 litros. A central multimídia tem tela de 10,1 polegadas com conexão sem fio de Apple CarPlay ou Android Auto via cabo. A tela permite personalização, destacando as informações escolhidas pelo motorista.
Outra novidade é o serviço “FordPass Connect”, onde por meio do roteador embarcado de internet 4G, o SUV tem serviços conectados. Usando o aplicativo específico, é possível travar e destravar portas, dar a partida de maneira remota, acionar a climatização, checar combustível ou a pressão dos pneus, tudo na tela do smartphone. Também permite agendar -online- revisões, pela tela do multimídia.
Os primeiros compradores terão um ano gratuito do FordPass Connect, e o fornecimento da internet (com SIM Card 4G) é oferecido em parceria com a Tim.
O Territory está disponível em duas versões, SEL, que custa R$ 179.900 e Titanium (a avaliada), por R$ 197.900. A SEL traz de série faróis e luzes diurnas com LEDs, teto solar panorâmico, central multimídia com tela de 10,1 polegadas, ar-condicionado digital, rodas de 17 polegadas, sensores de estacionamento traseiros, controles de estabilidade e tração, assistente de saída em rampas, seis airbags, câmera de ré e chave presencial.
A Titanium que avaliamos acrescenta frenagem autônoma de emergência, cruise control adaptativo com função Stop/Go, monitoramento de pontos cegos, alerta de troca involuntária de faixa, rodas de 18 polegadas, carregamento de celular sem fio, bancos em couro claro com aquecimento e ventilação nos dianteiros, retrovisores rebatíveis, quadro de instrumentos digital, sensores de estacionamento dianteiros, câmeras 360°, ajustes elétricos no banco do motorista, iluminação ambiente por LEDs e sensor de chuva, entre outros recursos.
O motor do Territory funciona no ciclo Miller em invés do ciclo Otto. No Miller, a válvula de admissão permanece algum tempo aberta durante a compressão, em vez de ficar totalmente fechada como no ciclo Otto. Assim, parte da mistura ar/combustível retorna para o coletor de admissão, e conta com a ajuda do turbocompressor (no tempo de expansão ou combustão) para empurrá-la de novo para dentro da câmara de combustão.
Esse tempo fica maior do que o da compressão. A pressão do turbo compensa a menor quantidade da mistura ar/combustível para queimar, evitando perda de potência. O objetivo do ciclo Miller é reduzir consumo. Segundo a Ford, o consumo do Territory (padrão do Inmetro) é de 9,2 km/litro na cidade e 10 km/l, na estrada. Com tanque de combustível de 52 litros, a autonomia é 499 quilômetros.
Conclusão: é um SUV bonito, bem completo nas duas versões Titanium e chegou ao Brasil como aposta da marca para ajudar a recuperar a participação perdida no mercado brasileiro; em 2020 a queda de vendas foi de 40%.
O SUV chinês tem bons argumentos, como o bom espaço interno, o conforto e a tecnologia. A dirigibilidade é boa e o conjunto motor/câmbio estão perfeitamente adequados, sem contar direção, suspensão e freios bem calibrados. Vai brigar direto com o Jeep Compass.
Agora, com a mudança de rumos que a Ford deu em sua atuação no Brasil, o desafio será mostrar ao consumidor que a origem chinesa é mera questão estratégica, o que o Territory acompanha os padrões e a qualidade dos produtos norte-americanos da marca. Isso se ele sobreviver às mudanças.