TESTE: Jeep Compass Overland 2.0 Hurricane Turbo
O Jeep Compass reina soberano no segmento dos SUVs médios, o espaço mais disputado da categoria no mercado brasileiro; em 2024 foram vendidos 50.046 unidades do modelo. Para 2025 o Compass está disponível nas versões Sport T270, Longitude T270, Limited T270, Serie S T270, Overland e Blackhawk, sendo que estas duas últimas, as mais caras, ganharam o reforço do motor 2.0 Hurricane 4, o mesmo usado na Ram Rampage, com 272 cv de potência e 40 mkgf de torque máximos, mais tração integral 4×4 e câmbio automático de nove marchas. São as versões mais caras, mas com desempenho de respeito: são quase 100 cv a mais que as 1.3. AUTO&TÉCNICA avaliou o Compass Overland, que é o mais barato dos Compass equipado com esse motor.
por Ricardo Caruso

O principal destaque desta versão Overland é exatamente seu impecável powertrain, um “pacote” caro e importado de motor italiano e transmissão alemã, mas que deu características esportivas e entusiasmantes ao SUV médio da Jeep. Potente, este motor 2.0 turbo a gasolina, da série Hurricane, transforma os Overland e Blackhawk nos Jeep Compass mais “dispostos” que já tivemos no Brasil até agora. Afinal, são 272 cv e 40 mkgf de torque, bem distribuídos pelo câmbio automático ZF de nove marchas. A tração 4×4 com reduzida e atuação automática também faz parte do “pacote”.

Curiosamente, as vendas da Overland e da Blackhawk em 2024 mostram ampla vantagem para a versão mais cara. Foram emplacados 750 Overland e 3715 Blackhawk, cerca de cinco vezes mais. A motorização e apelo esportivo são os mesmos, e o preço também é próximo: a Overland custa R$ 266.990 e a Blackhawh R$ 279.990. Os R$ 13 mil a mais justificado pelos mimos extras que separam as duas não é responsável por isso, e fica o mistério para a Stellantis resolver.


Mas vamos ao que interessa. Essa versão Overland acelera, e muito. E por mais que o torque máximo do motor do Hurricane aconteça às 3.000 rpm, a força disponível é impressionante já nas rotações mais baixas, a partir de 1.500 rpm. Como esse Compass é o veículo mais leve da Stellantis a usar esse motor, o resultado é o desempenho bastante esportivo, em especial nas acelerações e retomadas de velocidade, sem precisar abusar muito do acelerador.

É só pisar que ele não decepciona; a aceleração de zero a 100 km/h é feita em torno de 6,5 segundos e a velocidade máxima é de 223 km/h. Marcas excelentes. Afinal, ao invés de correr atrás da eletrificação imediata, a Stellantis buscou agradar quem é mais purista, que gosta de barulho de motor e cheiro de gasolina. Os Abarth e os motores Hurricane estão aí para confirmar isso.

Esta versão não conta com seleção de modos de condução, e o gerenciamento eletrônico da transmissão é que faz os ajustes ao estilo de quem está ao volante, antecipando as trocas de marchas se você estiver mais tranquilo, ou alongando as trocas para quem quer maior esportividade. Em suma: essa versão se dirigida com tranquilidade, não perde nenhuma das boas características do excelente 1.3 turbo, motor que é sempre suave, previsível e com baixo nível de ruído.

Toda potência e torque, que trazem bons números de desempenho, exigiram algum trabalho da engenharia da marca, feito de maneira exemplar. Se você não abusar do acelerador, esse Jeep 2.0 turbo vai manter basicamente o mesmo comportamento do resto da linha Compass. Se “montar” no acelerador, aí a coisa muda e para melhor. O motorista segue em posição mais elevada, e os acompanhantes vão bem acomodados, em bancos confortáveis, com ajustes elétricos para o motorista e boa ergonomia. No sistema multimídia de 10 polegadas, o Jeep Compass Overland ganha o “Adventure Intelligence Plus” e Alexa para comandos de voz e interação com comandos a bordo, além de Wi-Fi nativo.

Como comodidades, o Overland traz ainda partida remota, carregador de celular por indução e retrovisor interno eletrocrômico; ao acionar o alarme e travamento por controle remoto, os retrovisores rebatem eletricamente. O espaço interno é bom, como acontece em todos os Compass, acomodando bem quatro adultos; quem vai ao centro do banco traseiro, como é praxe, será incomodado pelos ressaltos dos encostos e assentos, e o túnel central para o eixo cardã. O teto-solar panorâmico é opcional (custa R$ 10 mil) e o porta-malas mantém os mesmos bons 476 litros de capacidade das demais versões. O acabamento, no geral, é muito bem cuidado, outro dos destaques da versão.

“Cavalo come, cavalo anda; cavalo não come, cavalo não anda”. Por conta dessa regrinha, o Compass com seus 272 cv não poderia mesmo ser exatamente um carro econômico. Turbo, potente, 4×4, 1.700 kg… Tudo isso tem um preço a ser pago no quesito consumo. Para piorar, o tanque de gasolina é pequeno, de 55 litros, o que torna mais comum as visitas aos postos de abastecimento. Em trânsito urbano marcamos 7,6 km/litro e nas rodovias ficamos em 13,2 km/l, nos dois casos sempre com o ar condicionado acionado. Com essas médias de consumo e a capacidade do tanque, a autonomia na cidade fica na casa dos 420 km, e na estrada em 730 km. Para quem busca esportividade, como deve ser o perfil do consumidor desta versão, o consumo de gasolina mais elevado passa longe de ser um problema.

Com suspensão recalibrada em molas e amortecedores para um padrão mais firme, esse Jeep não teve perdas em conforto e ainda manteve alto o nível de comportamento dinâmico, se mantendo bastante neutro em velocidades mais elevadas e com pouco rolling (inclinação da carroceria) em curvas. Isso dentro da proposta dos SUVs, com carroceria alta, maior vão livre em relação ao solo, pesados vidros montados no alto e centro de gravidade elevado. A ação da tração 4×4 automática, distribuindo o torque para as rodas de acordo com a exigência do momento, minimizam esses fatores. O sistema de freio também foi recalibrado e está bastante eficiente, enquanto a direção com assistência elétrica continua a mesma, com peso correto e sempre precisa.

O “pacote” de equipamentos, conteúdos e mimos de série, mesmo com o motor top de linha dos Compass e custar muito pouco a menos que o Blackhawk, o Overland perde alguns itens em comparação mesmo com a versão S 1.3 turbo, de tração dianteira e cerca de R$ 25 mil mais barata. Entre eles, monitor de ponto-cego, Park Assist, sensor de estacionamento dianteiro e teto-solar panorâmico, que são de série no S 1.3. Por sua vez, a Blackhawk tem tudo isso e mais ainda, mas custa mais.

Fora isso, o Compass Overland mantém as dimensões dos demais: 4.404 mm de comprimento, 1.819 mm de largura, 1.632 mm de altura e 2.636 mm de distância entre-eixos. Não houve alteração nas dimensões, claro, mas a versão com motor 2.0 Hurricane pesa 1.720 kg, mais do que as versões 1.3 turbo T270, que pesam 1.589 kg.

CONCLUSÃO
Ir na contra-mão da eletrificação no Brasil é uma aposta interessante da Stellantis. Busca compradores que não confiam nas novidades chinesas e não tem pretensões do comprar modelos eletrificados tão cedo. Atua assim em um segmento de clientes que querem desempenho e motores roncando, aquele grupo mais tradicionalista e conservador quando o assunto é automóvel. São aqueles que teriam fácil um Compass 2.0 turbo na garagem.



A Overland parece ser a versão certa para quem quer o melhor em desempenho e ainda aptidão para o fora de estrada (graças ao 4×4 e reduzida), e abrem mão de alguns equipamentos e recursos dos quais é possível viver sem. Não é barato, mas é de uma eficiência sedutora.