TESTE: Ram Rampage Laramie 2.0 Turbo gasolina
O mercado de picapes medias e grandes no Brasil naturalmente se dividiu entre as movidas a diesel e as que trabalham com gasolina e/ou etanol. A fatia de consumidores que ainda prefere os motores a diesel, em geral, são os que fazem uso profissional do modelo, pois atendem mais quem roda por longos trechos, e que também exigem conforto para isso. Do outro lado, estão os que não se preocupam grandes viagens, buscam uso “normal” para o dia a dia e preferem o melhor desempenho que os motores a gasolina oferecem.
por Ricardo Caruso
A Ram Rampage Laramie, versão intermediária da sensacional picape, atende os dois públicos. É disponível com motor T4 Hurricane turbo, diesel ou gasolina, de quatro cilindros em linha. Com gasolina, tem potência máxima de 272 cv, e com diesel oferece 170 cv, 102 cv a menos! Já no torque, a diesel oferece 38 mkgf, enquanto a gasolina tem 40,8 mkgf. Tudo correto, e com cada uma no seu quadrado. A missão da Ram Rampage com o motor 2.0 a gasolina é justamente atrair quem busca desempenho acima da média. Conquistar clientes das picapes médias mais tradicionais no mercado, oferecendo excelente desempenho, conjunto tecnológico muito superior e, principalmente, com um preço inferior.
AUTO&TÉCNICA avaliou a Ram Rampage Laramie. Além do nome Ram, que traz toda a moral da marca (essa linha de picapes médias da Chrysler surgiu com Dodge Dakota nos Estados Unidos, feita entre 1987 e 2011, e até teve uma produção no Brasil, entre 1998 e 2001). Além de toda a mística da marca, a Rampage traz o estilo das Ram maiores. E a Laramie, com seus cromados bem colocados, cumprem bem a missão. Só para constar, Ram era a picape grande da Chrysler (a Dodge Ram), e depois -em 2010- Ram foi estabelecida como marca para o segmento de picapes da marca (Ram Trucks)
A Ram Rampage compartilha a plataforma com a Fiat Toro, chamada de “SmallWide”, mas de resto as duas picapes tem muito pouco em comum, já que a estrutura, por exemplo, recebeu novos materiais e, visualmente, nenhuma peça é semelhante; muito da Rampage na verdade veio do Jeep Commander, outro projeto local.
Vale ressaltar ainda o cuidado nos detalhes da Rampage, como nos conjuntos óticos, ambos inteiramente de LED. Na frente, os faróis têm “assinatura” marcante e os piscas são dinâmicos, com a luz se movimentando de dentro para fora, recurso inédito no segmento. Ainda nos faróis, o projetor tem função dupla, responsável pelo farol baixo e alto. E os faróis de neblina também são em LED com função cornering (acompanham as curvas mais fechadas). Atrás, as lanternas trazem grafismos que, quando iluminados, remetem à bandeira dos Estados Unidos, com listras vermelhas e a luz de ré formando o retângulo das estrelas. Ambos conjuntos óticos ainda possuem um welcome movement ao ligar a picape.
Para criar a Rampage, a equipe de projetistas tomou cuidado para colocar nas ruas uma Ram de “verdade”, mesmo que em uma versão mais compacta, como acontecia tempos atrás com as Dodge Ram e Dodge Dakota. Em relação às principais dimensões externas, a Rampage tem 5.028 mm de comprimento, 1.886 mm de largura, 1.780 mm de altura, 2.994 mm de entre eixos (a mesma da Fiat Toro) e 264 mm de vão livre. Na caçamba, pode levar 1.015 kg ou 980 litros. Em peso, é praticamente a mesma coisa que uma picape média tradicional, porém não tem o mesmo volume, até mesmo pelo porte menor. Isso é o que vai definir se você compra a Rampage ou uma picape maior que, nesta faixa de preços, não tem os mesmos equipamentos e tecnologia. Na Rampage Laramie, o visual se diferencia das outras duas versões da linha pela grade cromada, além de outros detalhes com esse acabamento, inclusive o para-choque traseiro em metal, e rodas de 18 polegadas diamantadas, calçadas com pneus 235/60.
A Rampage Laramie não fica devendo nada quando o assunto é conforto. A suspensão independente nas quatro rodas tem calibragem que privilegia isso, enquanto o bem cuidado isolamento acústico ajuda a manter o nível de ruídos e vibrações do motor -que já são baixos- longe da cabine. Todos os comandos são de fácil acesso e bem posicionados, graças à ergonomia bem cuidada. Há uma tela de 12,3 polegadas para o multimídia, e outra de 10,3 polegadas para os instrumentos, tudo digital.
Na dianteira, os bancos são confortáveis e a posição de dirigir, mais elevada, lembra a do Jeep Commander. O acabamento com bancos, forros de porta e parte do painel em marrom envia direto para as boas lembranças das Ram maiores, em especial as Longhorn. Tudo de boa qualidade, mesmo usando material sintético que imita couro.
Com o motor 2.0 turbo, a Rampage se mantém equilibrada, mesmo para quem gosta de acelerar, garantindo agilidade na ruas das cidades e, principalmente, nas rodovias. A excelente potência e torque são garantia de ultrapassagens seguras. Como nos bons tempos, o desempenho impressiona, com aceleração de zero a 100 km/h em 7,1 segundos e velocidade máxima de 210 km/h. Como deve ser num bom Dodge… Esse motor tem 1.995 cm3 de cilindrada (499 cm3 de cilindrada individual). Tem turbocompressor, 16 válvulas, injeção direta de gasolina, comando de válvulas com atuação no escapamento e admissão, diâmetro x curso de 84 mm x 90 mm e acionamento do comando por corrente. A potência específica é de 136,3 cv/litro e o torque específico de 20,4 mkgf/litro. A relação peso/potência é de 7,04 kg/cv.
O elevado desempenho do motor Hurricane 4 também exigiu cuidado especial com o sistema de freios por parte da engenharia da marca. Em todas as Rampage eles são com disco ventilados nas quatro rodas, 305 mm de diâmetro na frente e 320 mm atrás. O freio de estacionamento é elétrico e tem o recurso “Auto Hold”, facilitando a vida do motorista em trânsito pesado. Como toda a linha Rampage, usa o câmbio automático de 9 marchas -o ZF 9HP- com sistema de tração integral automático, um conjunto bem conhecido desde a chegada do Jeep Renegade. A direção tem assistência elétrica e diâmetro de giro de 12 m, com peso correto.
Para o porte do modelo, o consumo está dentro de parâmetros normais. Na estrada, graças ao câmbio de nove marchas, marcamos 10,3 km/ litro, e na cidade 8,2 km/litro. Com o tanque de 60 litros, a autonomia rodoviária fica em 618 km, uma marca realmente boa.
A picape luxuosa da linha Rampage traz muitos mimos, como piloto automático adaptativo; ótimo sistema de som da Harman Kardon; alertas de saída de faixa, de ponto-cego e de colisão com frenagem automática de emergência e detecção de pedestres e ciclistas, entre outros. A lista de equipamentos é farta e oferece ainda, por exemplo: sete airbags (frontal, lateral dianteiro, de cortina dianteiro e traseiro e de joelhos para motorista), controle de estabilidade, inibidor de rolagem da carroceria, comutação automática do farol alto, monitoramento da pressão dos pneus e vários auxílios à condução e detecção de tráfego traseiro cruzado.
Outro ponto interessante da Rampage, em todas as versões, é o “Ram Connect”, que estreou no Brasil há pouco mais de um ano com a Ram 1500 Limited. Trata-se de um conjunto de serviços que conecta o motorista à picape de várias formas. Tanto por uma série de recursos a bordo quanto pelo aplicativo de smartphone, de onde se pode consultar remotamente o “Relatório de Saúde” da picape, que mostra o tempo para a próxima revisão, pressão dos pneus e nível de combustível, além dos comandos remotos (como partida ou climatização) entre outras informações. O “Ram Connect” é um “pacote” de conectividade, segurança em tempo real com monitoramento 24 horas, assistência em situações de emergência, atualizações remotas e navegação inteligente (como o cálculo da autonomia de combustível para chegada ao destino e a situação do trânsito no momento, por exemplo).
CONCLUSÃO
A Rampage chegou num momento muito feliz do mercado. As Ram importadas se tornaram as queridinhas do segmento, as preferidas de 10 entre 10 agro-motoristas, por conta da alta qualidade e capacidade que oferecem. Mesmo sem ser uma picape grande, a Rampage vai roubar muitos clientes nessa categoria. Não é difícil explicar porque se tornou um grande sucesso. Rampage é a expressão em inglês para alvoroço, e foi isso que ela causou no mercado. E para quem gosta, muito bom voltar a ver um Dodge sendo fabricado no Brasil.
A Ram Rampage Laramie é a mais procurada da linha. Custa R$ 212.990, mais os R$ 6.000 do “pacote” opcional que inclui sistema de som Harman Kardon, LEDs internos e banco do passageiro com ajustes elétricos. Além de todo o visual típico das picapes Ram maiores, tem um generoso pacote tecnológico, bom acabamento, espaço interno, e desempenho irretocável.
Após uma semana de estreita convivência e muitos quilômetros rodados, a Rampage com o motor a gasolina turbo se mostrou uma boa escolha no segmento. Oferece conforto, tem desempenho de carro esportivo, é repleta de mimos e não deve nada para as picapes veteranas do mercado, inclusive as maiores. Como curiosidade, é interessante observar como os automóveis evoluíram. Um Dodge Charger R/T dos anos 1970 tinha motor 5.2V8 de 215 cv. Cerca de 50 anos depois, a Rampage tem menos da metade da cilindrada (2.000 cm3), metade dos cilindros (quatro em linha) e 272 cv de potência… É o implacável carrossel do tempo.