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TESTE: Renault Kardian Evolution MT

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A Renault passa por um momento interessante no Brasil, e deu uma guinada nas suas ideias de produtos para o nosso mercado. Exemplo mais recente disso é o SUV compacto Kardian, que atua num segmento inédito para a marca e traz o excelente novo motor 1.0 TCe turbo. Com isso, rompeu com a antiga e estranha estratégia de fornecer por aqui modelos mais simples, baseados nos Dacia romenos, a divisão do Grupo com foco em projetos menos sofisticados.

por Ricardo Caruso

Este SUV compacto colocou o nível de projetos dos Renault nacionais em outro patamar. Graças ao uso da nova plataforma RGMP (Renault Group Modular Platform), sua solidez é exemplar. A plataforma estreou aqui com esse modelo e motor 1.0 turbo, mas está apta para encarar a eletrificação com recursos como híbrido-leve, híbrido, e híbrido plug-in, algo que vamos ver no futuro em carros mais caros da marca. Além do Kardian, a RGMP estará em breve em outros dois SUVs médios, um deles o já anunciado Boreal, e a picape Niagara, mostrada ainda como conceito.

Assim, no lançamento do Kardian em março do ano passado (a apresentação foi em outubro de 2023), o modelo chegou em três versões -Evolution, Techno e Première Edition-, todas com câmbio automatizado de dupla embreagem. Em outubro do ano passado, a versão de entrada Evolution recebeu o câmbio manual (JX22, fabricado pela Horse Powertrain em Aveiro, Portugal, empresa criada em maio de 2024 pela Renault em sociedade com a Geely chinesa e a petroleira árabe Aramco).

O câmbio JX22 é um produto atual, de seis marchas e com a ré também sincronizada. Tem engates precisos, é bem escalonado e programado para ser um 5+E mais radical, e assim a velocidade final de 180 km/h é alcançada em quinta marcha a 5.000 rpm, sua rotação de potência máxima. Se você busca desempenho, trabalhe até a quinta marcha; se o objetivo é economia de combustível, a sexta marcha é o que você precisa.

Com isso, o Kardian começou a já ter novidades poucos meses depois de seu lançamento. A chegada do Kardian Evolution com câmbio manual baixou o preço da versão de entrada -para R$ 106.990- R$ 12.100 a menos que a mesma versão com o câmbio automatizado de dupla embreagem. A única diferença entre os dois Evolution disponíveis é mesmo o câmbio, pois elas são idênticas em conteúdo.

O Renault Kardian agrada de cara nos primeiros quilômetros, pois é um modelo bem pensado e projetado. As suspensões (McPherson na frente e eixo de torção atrás) surpreendem pelo cnforto e estabilidade, o vão livre para o solo é generoso (20,9 cm) e a direção com assistência elétrica é correta, com 3,2 voltas do volante de batente a batente e diâmetro de giro de 10,5 metros. Os freios são a disco na dianteira e tambor na traseira.

E a Evolution, por ser a versão de entrada, é despojada? Nada disso. O Kardian Evolution tem, por exemplo, faróis com LEDs, conjunto dividido em duas partes: na superior há o DRL, e na inferior, faróis baixo e alto. Na traseira, lanternas também em LEDs, no formato de “C”, alinhadas com os SUVs da Renault no Exterior. Bom lembrar que iluminação por LEDs é algo raro nessa faixa de preço. As rodas desta versão são de liga-leve, com aro de 16 polegadas e calçadas com pneus 205/60. 

O Kardian oferece posição de dirigir “normal”, não exatamente alta como se costuma exigir dos SUVs, e semelhante à de um hatch, o que agrada a maioria. Por conta de sua boa distância entre-eixos (2,60 m), o SUV acomoda bem quatro adultos. Com cinco adultos, o passageiro central traseiro vai precisar abrir mão de alguma coisa, como é comum dentro da proposta de carros menores.

Ainda no interior, destaque para os confortáveis bancos revestidos em tecido e com apoios laterais; o acabamento em tecido se repete nos forros das portas dianteiras e, na traseira, os bancos são bipartidos, o que é prático no dia a dia e também raro em versões de entrada. Interessante observar o cuidado com os trilhos dos bancos, que são recobertos, algo que está se tornando incomum mesmo em modelos mais caros. O porta-malas tem 358 litros de capacidade.

Embora seja a versão de entrada da linha Kardian, o Evolution manual é extremamente correto em termos de conteúdo, e traz seis airbags, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, ar-condicionado automático digital e central multimídia, entre outros. Comparado com o Techno, ele perde o freio elétrico de estacionamento, as rodas aro 17, apoio de braço na dianteira, alerta de colisão frontal, frenagem automática de emergência e os racks do pintados de prata.

A tela multimídia é de oito polegadas, um pouco pequena para o que se tem disponível hoje em dia no mercado. Mas é fácil de operar, e traz conexão com Apple CarPlay e Android Auto, trabalhando integrada com os comandos do volante. Mesmo sendo a versão de entrada, o Kardian Evolution usa o mesmo painel de instrumentos digital com tela de sete polegadas do restante da linha. Configurável, tem conta-giros horizontal e traz informações, de consumo, exibição opcional somente do velocímetro (digital) e aviso de perda de pressão de pneus, entre outras.

A ergonomia é correta e bem cuidada, e apenas o botões que ativa/desativa o Start/Stop e o que faz a regulagem de altura dos fachos dos faróis mereciam estar em posição melhor. Mais tomadas tipo USB (A e C) seriam desejáveis, pois há apenas uma de cada disponíveis. Utilizado há muito tempo pela Renault, o comando “satélite” do sistema de áudio é bastante intuitivo e foi uma boa sacada da marca, tanto que está em uso até hoje, mesmo em um carro extremamente atual como o Kardian.

O motor do Kardian merece aplausos. Trata-se de um três-cilindros 1.0 turbo flex com entrega 120/125 cv (gasolina/etanol) a 5.000 rpm e 20,4 mkgf a 2.000 rpm (G) e 22.4 mkgf a 2.250 rpm (E). Conta com duplo comando de válvulas (acionamento por corrente) e variação nas fases de admissão e escapamento. Conta com injeção de combustível direta, turbo-compressor com 1,5 bar de pressão, intercooler ar-ar e válvula de alívio é elétrica com gerenciamento. O casamento com o câmbio é perfeito.

Alguns números do Kardian são bem interessantes dentro de sua proposta. A relação peso/potência de 9,33 kg/cv, motor 1.0 turbo de 125 cv e câmbio manual de seis marchas até o colocariam numa faixa mais esportiva. Mas sua vocação não é exatamente essa, e sim a de ser um carro ágil e prático, e para isso tem ângulos de saída de 36 graus e de 20 graus de entrada, o que mostra que seu objetivo é outro.

Consumo é algo importante para quem buscou economizar já na compra do carro com câmbio manual. Com etanol, marcamos 9,7 km/litro na cidade e 12,1 km/litro na estrada. Com gasolina, não se surpreenda com 16 km/litro em estrada, em velocidade constante (aproveitando o overdrive da sexta marcha). Tudo dentro do que se espera dele, e um pouco melhor que o Kardian automatizado.

CONCLUSÃO

Em termos de dimensões, o Kardian se aproxima do Pulse, Renegade e Nivus (que é um SUV maior no comprimento, mas menor na distância entre-eixos). O Renault apresenta as seguintes medidas: 4,12 metros de comprimento, 2,60 m de entre-eixos, 1,77m de largura e 1,60m de altura.

Não é exagero algum afirmar que este é o melhor Renault desde o Mégane, e para quem gosta de factóides, trata-se do carro 1.0 turbo manual mais barato do mercado brasileiro.

Quem quer um SUV pequeno, eficiente e muito bem desenhado, vai se espantar com esse Renault. Bom desempenho, economia de combustível, bom espaço interno e excelente dirigibilidade são outros destaques. Além dos concorrentes citados o Citroën Basalt 1.0 aspirado manual e o Fiat Pulse 1.3 manual na mesma faixa de preço, mas turbo, de seis marchas e muita disposição, só o Renault.


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