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Traição? Nissan trama se divorciar da Renault

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Com a cinematográfica fuga de Carlos Ghosn do Japão, aos poucos a trama contra ele vai clareando. Os executivos principais da Nissan estariam acelerando um plano secreto para se separar da Renault, segundo denunciou o “Financial Times”. Aparentemente Ghosn era contra isso.

Segundo o diário britânico, que cita fontes envolvidas com o processo, os planos incluem a divisão total nas áreas de engenharia e produção, bem como mudanças no conselho da Nissan, que tem sido intensificados desde a fuga do ex-líder da Nissan e da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, Carlos Ghosn, no final de dezembro último.

Ghosn, de 65 anos, ia ser julgado este ano por crimes financeiros, mas fugiu para o Líbano para se livrar da “injustiça e perseguição política” de que afirma ser vítima. De acordo com a imprensa japonesa, Ghosn embarcou em um caminhão no dia 29 de dezembro entre Tóquio e Osaka, de onde partiu num avião particular com destino a Istambul, Turquia. No dia seguinte, rumou a Beirute, no Líbano, em outro avião.

As mesmas fontes adiantam que, apesar dos esforços, a relação de quase duas décadas entre a Nissan e a Renault se tornou tóxica, com muitos executivos da Nissan acreditando que a marca francesa é um obstáculo para a empresa japonesa.

Contactadas pelo Financial Times, Nissan e Renault recusaram-se a dar declarações. Na verdade, a separação obrigaria as duas fabricantes a procurar novos parceiros, num momento em que as vendas de automóveis de ambas recuam. Também deixaria ambos os negócios menores, depois da fusão entre a Fiat Chrysler com a PSA e a Volkswagen com a Ford.

Nas próximas semanas, Jean-Dominique Senard, presidente da Renault, deverá apresentar vários projetos com o objetivo de provar que a Aliança tem futuro: “Não podemos sobreviver se não nos movermos rapidamente para fazer uma verdadeira parceria”, afirmou Senard ao FT em dezembro. Porém, o próprio admitiu que tinha dúvidas de que a parceria pudesse continuar com a saída de Ghosn no final de 2018. Após isso, Nissan já acumula quase irreversíveis US$ 10 bilhões de perdas, e a Renault, outros US$ 5 bilhões. Este número, ara os japoneses, pode até significar o desaparecimento da marca.

No seu primeiro discurso público desde que foi detido, em 2018, e fugiu para o Líbano, Ghosn não poupou acusações aos executivos da Nissan. Na sua versão, foi uma espécie de bode expiatório para os fracos resultados da fabricante. A administração da Nissan e a justiça japonesa, relata o próprio, quiseram afastá-lo do grupo, numa tentativa de que a Renault reduzisse a sua influência na marca japonesa. “A conspiração entre a Nissan e os procuradores está em todo o lado, só o povo japonês é que não quer ver”, insistiu.

O sucessor de Ghosn na Nissan, Hiroto Saikawa, acusou o ex-chefão de traição e de fugir apenas por medo da condenação, depois de ter sido responsabilizado por Ghosn como um dos responsáveis pela sua detenção no Japão. “A verdadeira razão para ele ter fugido é ter medo de ser declarado culpado”, afirmou à Bloomberg.


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