Classic Cars

Um Dodge de polícia, blues e muitas aventuras

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Em 20 de junho de 1980, há 45 anos, foi lançado o filme “The Blues Brothers”, que no Brasil virou “Os Irmãos Cara de Pau”; não sei vocês, mas se tem uma coisa que me tira do sério é essa mania brasileira, felizmente em decadência, de destruir títulos de filmes.

por Rubens Caruso Junior

A história narra a saga dos irmãos Jake “Joliet” Blues, interpretado pelo saudoso John Belushi, e Elwood Blues, com Dan Aykroyd no papel. Elwood e Jake, este condenado em liberdade condicional, que partem em “uma missão divina” visando impedir a execução hipotecária do orfanato no qual foram criados. Para tanto, eles precisam reunir sua banda de Rhythm & Blues e organizar uma apresentação para arrecadar os US$ 5.000 necessários para pagar a dívida do orfanato, comandado pela implacável Madre Mary Stigmata, a
“Penguin”.

Ao longo da história os irmãos são perseguidos e atacados por nazistas, policiais, banda de country music e uma mulher misteriosa. Além dos protagonistas, astros inclusive do lendário programa “Saturday Night Live”, o filme traz lendas do blues e da soul music como Ray Charles, Cab Calloway, Aretha Franklin, James Brown e muitos outros que interpretaram músicas que ou eram ou se tornaram ícones da cultura popular. Com o carro dos irmãos Blues, o “Bluesmobile”, não foi diferente.

DODGE MONACO
“It’s got a cop motor, a 440-cubic-inch plant. It’s got cop tires, cop suspension, cop shocks. It’s a model made before catalytic converters so it’ll run good on regular gas”. Traduzindo: “Ele tem um motor de de polícia com 440 polegadas cúbicas. Tem pneus de polícia, suspensão de polícia, amortecedores de polícia. É um modelo fabricado antes dos conversores catalíticos, então funciona bem com gasolina comum”. Com essa frase Elwood apresenta o “novo” Bluesmobile ao irmão Jake.

Dodge Monaco 1974 em versão “civil”

O Bluesmobile era, na verdade, uma frota de 13 Dodge Monaco 1974 diferentes, usados de acordo com as necessidades das filmagens, como acrobacias ou cenas de perseguição em alta velocidade, representando o carro de patrulha “aposentado” da cidade de Mount Prospect, Illinois, localizada a cerca de uma hora de Chicago. Mas o Bluesmobile sozinho não era suficiente, ele precisava ser perseguido! Assim, mais 60 carros de polícia usados foram comprados, ​por US$ 400 cada.

Quarenta dublês pilotaram esses veículos especiais, enquanto John Belushi e Dan Aykroyd usaram cinco deles. A personalização mais complexa foi a do carro que “desmancha” no final do filme (confira aqui), trabalho de vários meses para apenas uma cena, criando um dos momentos mais memoráveis ​​do filme.

O nível do cuidado com os detalhes era tal que, durante a cena de perseguição por Chicago, é possível ver o velocímetro do Bluesmobile batendo os 190 km/h: nada de “magia do cinema”, ali foi pura realidade, pois um dos Monaco usados ​​no filme realmente conseguia atingir essa velocidade, para terror dos “pedestres-dublês” e alegria das plateias!

O genial Dan Aykroyd escreveu o roteiro e a história, incluindo o motivo pelo qual o carro tinha aquela aparência: o Monaco era um dos carros de polícia mais populares dos Estados Unidos naqueles tempos. Enquanto especialistas adicionavam detalhes como arranhões e amassados ​​ao carro, Aykroyd cuidou de alguns toques pessoais como o “lixo” no painel — cigarros, fósforos e chicletes, entre outros.

Mas o detalhe mais marcante definido pelo autor certamente era o alto-falante gigante no teto, que os irmãos usaram para divulgar sua apresentação, réplica de sirene de ataque aéreo da Guerra Fria, tal como Aykroyd conhecia de sua escola primária, a Nossa Senhora da Anunciação, em Hull, Quebec.

Outro detalhe que não passa despercebido é a placa do Bluesmobile, “BDR 529”: as três letras abreviam “Black Diamond Riders”, clube de motociclistas de Toronto, do qual Aykroyd gostava muito, baseado na 529 Jarvis Street.

Apesar da aparente enorme quantidade de viaturas e Bluesmobiles, a produção do filme danificava tanto os carros que foi criada uma “oficina 24 horas” no Near West Side (próximo do famoso “The Loop” de Chicago) para consertar os veículos. As viaturas policiais receberam a maioria desses reparos, pois eram “arremessadas” ​​para todos os lados nas cenas de perseguição. Os Bluesmobiles também passaram bom tempo no estaleiro.

Na época de seu lançamento, “The Blues Brothers” detinha o recorde mundial de mais carros destruídos em um filme. Confira uma cena neste vídeo.

QUE FIM LEVOU?
Quando a produção de um filme acaba, objetos, figurinos e veículos usados são em geral destruídos, perdidos ou guardados. Com “The Blues Brothers” aconteceu também: até o momento, ninguém encontrou um Bluesmobile que tenha sobrevivido, mas isso não significa que seu legado esteja perdido para sempre. Um recurso é recorrer às réplicas, como um carro da Patrulha Rodoviária da Califórnia (também conhecida como CHiPs, que deu nome à famosa série), ano 1975, transformado em Bluesmobile e exposto no Museu Volo, em Illinois, e que, segundo alegações, apareceu no filme em algumas cenas.

Dan Aykroyd utilizou este carro para promover sua marca de bebidas, a Crystal Head Vodka. Praticamente idêntico ao Bluesmobile do filme, o carro recebeu alguns acréscimos, como o autógrafo de Aykroyd numa das portas. O carro mantém a maior parte de sua herança policial, como os equipamentos disponíveis no porta-malas.

Outras réplicas foram produzidas por fãs e algumas podem ser vistas na Universal Studios, conduzindo atores que interpretam, e muito bem, os Blues Brothers, caso da foto abaixo, que flagra o exato momento em que eu era devidamente “convidado” para fazer parte da banda!

O filme sobrevive como atração da Universal Studios, nos Estados Unidos, onde eu fui devidamente enquadrado…

The Blues Brothers é um exemplo dos bons tempos dos filmes com carros de verdade, conduzidos por motoristas de verdade!


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