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Vergonha: Volkswagen admite que apoiou a ditadura militar

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A Volkswagen divulgou, em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP), um relatório sobre o que todo mundo já sabia: a confirmação de sua participação e de seus funcionários no apoio à ditadura militar no Brasil.

O documento, que foi feito a pedido da marca, é do historiador alemão Christopher Kopper e esmiúça a “lealdade” da marca ao regime militar. O estudo concluiu que, em 1972, pelo menos seis trabalhadores foram presos e um torturado nas dependências da fábrica de São Bernardo.

O relatório, encomemndado pela matriz da Volkswagen na Alemanha, foi produzido após instauração de inquérito civil pelo Ministério Público Federal para apurar a responsabilidade da montadora em “graves violações de direitos humanos”.

A investigação foi iniciada após representação assinada pelas centrais sindicais brasileiras, sindicatos e ex-trabalhadores da empresa, em setembro de 2015. O pedido foi feito com base nas conclusões da Comissão Nacional da Verdade, que apontam a estreita colaboração da empresa com a repressão, além de discriminar trabalhadores com atuação sindical.

Entre as condutas da empresa investigadas estão, por exemplo, permitir a prisão de funcionários no interior de suas unidades; ceder carros para os órgãos de repressão; perseguir trabalhadores por atuação política e sindical, criando “listas negras” para impedir contratação desses profissionais; produzir informações para encaminhamento aos órgãos de repressão; fazer doações financeiras para o regime e permitir práticas de tortura na sede da montadora.

Veja o comunicado da empresa:

Volkswagen se reconcilia com o passado no Brasil

Volkswagen é a primeira empresa do setor automotivo a examinar sua história durante o regime militar no Brasil
Estudo científico realizado pelo Professor Dr. Christopher Kopper investigou o papel da Volkswagen durante os anos de 1964 a 1985 
A Volkswagen do Brasil se dirige aos afetados e lança um abrangente pacote de medidas como parte de sua responsabilidade social

A Volkswagen apresentou hoje o estudo sobre o período do regime militar no Brasil, realizado pelo Professor Dr. Christopher Kopper, da Universidade de Bielefeld. O respeitado historiador foi contratado pelo Conselho de Direção da Volkswagen AG em 2016 para examinar o papel da empresa entre 1964 e 1985. A Volkswagen é a primeira empresa do setor automotivo do país a examinar sua história durante esse período. Os resultados da pesquisa podem ser baixados da homepage da Volkswagen AG em alemão, inglês ou português.

Baseado em declarações feitas por ex-empregados à Comissão Nacional da Verdade em 2014, a Volkswagen conduziu inicialmente uma pesquisa histórica interna, antes de nomear o historiador externo Prof. Dr. Christopher Kopper para examinar, num estudo independente, o papel desempenhado pela empresa durante o regime militar brasileiro entre 1964 e 1985. A pesquisa foi baseada em documentos do arquivo corporativo da Volkswagen AG em Wolfsburg, Alemanha, e do arquivo corporativo da Volkswagen do Brasil. Durante suas atividades de pesquisa em São Paulo, o Professor Kopper também visitou arquivos governamentais brasileiros e entrevistou testemunhas da época.

À luz da avaliação científica das fontes disponíveis, o Professor Kopper conclui em seu estudo independente que “houve cooperação entre indivíduos da segurança interna da Volkswagen do Brasil e o regime militar vigente, mas não foram encontradas evidências claras de que a cooperação era institucionalizada na empresa”. Kopper também declara que a mudança corporativa e cultural ocorreu em 1979 e no início da década de 1980, quando a Volkswagen do Brasil se tornou pioneira no País a estabelecer um Conselho de Trabalhadores. A primeira eleição secreta para eleger um Conselho de Trabalhadores no Brasil foi realizada em 1982, encerrando assim a discriminação contra membros dos sindicatos.

Aprendendo com o passado

Para reforçar o apoio da Volkswagen aos direitos humanos, uma placa em memória das vítimas do regime militar foi descerrada nas instalações da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo. Esse momento também marca o ponto inicial da cooperação com organizações de promoção social e de direitos humanos.

A primeira a ser anunciada pela Volkswagen é a parceria com o Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade, apoiando um projeto local para crianças e adolescentes promovido pela organização internacional de direitos da criança Terre des Hommes. Demais cooperações estão sendo avaliadas.

“A Volkswagen tem uma ligação histórica e emocional com o Brasil e os brasileiros. Um compromisso de longo prazo, com 65 anos de atuação no País. Com esta ação, a empresa reafirma seu compromisso com o Brasil e reforça seus valores a favor dos direitos humanos e a responsabilidade social”, afirma Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen Região América do Sul e Brasil.

Os resultados da pesquisa também serão utilizados na Alemanha. Futuras publicações históricas da corporação incluirão a história da Volkswagen no Brasil e o assunto receberá a cobertura apropriada no treinamento vocacional da empresa e outros futuros programas de desenvolvimento.


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