P1800 (1961 – 1973): o Volvo inesquecível

É fácil imaginar o que a maioria das pessoas pensa quando ouvem falar da marca Volvo. Apesar do marketing da segurança ter ido por água abaixo em 1990, quando uma fraude da marca foi descoberta (veja aqui), a ideia que ficou é de que são carros de construção sólida, recursos de segurança ilimitados, interiores de bom gosto e uma combinação interessante de utilidade e conforto. O termo “carro esportivo” não necessariamente vem à mente quando se fala de Volvo, hoje uma marca chinesa. Mas nas décadas de 1960 e 1970, existiu o Volvo P1800, que estava nas ruas exibindo dinamismo e classe. Um carro sueco, desenhado na Itália e feito na Inglaterra. Até hoje, o modelo é extremamente popular e comumente encontrado na maioria das listas dos melhores carros clássicos de todos os tempos! Algumas unidades chegaram ao Brasil e bem poucas sobreviveram.

por Ricardo Caruso

Resumindo, o Volvo P1800 é um carro esportivo 2+2, com motor dianteiro e tração traseira, fabricado e comercializado pela sueca Volvo Cars entre 1961 e 1973. Originalmente foi criado como um cupê (fabricado de 1961 a 1972), também foi oferecido em uma configuração shooting brake (wagon) no final de sua carreira, entre 1972 e 1973). O estilo foi de Pelle Petterson sob a tutela de Pietro Frua, quando o estúdio de Frua era associado da Ghia italiana; a mecânica foi derivada da série Amazon/122 da marca sueca.

O Volvo P1800 deve muito de sua reputação ao fato de ter sido dirigido Roger Moore na clássica série de televisão dos anos 1960, “The Saint” . Sua outra grande reivindicação à fama foi como o veículo particular de maior quilometragem ainda sendo dirigido por seu proprietário original, tendo registrado cerca de 5.230 368 km. Isso até 2018…

Curiosamente, a Volvo começou o desenvolvimento de seu então novo carro esportivo em 1957, mais ou menos na mesma época em que a Jaguar estava trabalhando em suas primeiras ideias para o Jaguar E-Type. Foi uma época de competição acirrada entre as marcas, com muitas fabricantes de peso buscando criar a próxima grande referência em termos de carros esportivos. Eles também começaram o projeto com alguma apreensão, tendo falhado em tentar fazer de seu projeto anterior de carro esportivo, o P1900, um modelo de sucesso.

Para obter destaque, o chefe do projeto, Helmer Petterson, contratou um conhecido fabricante de carrocerias italiano, Ghia, para ajudar com os desenhos. Uma reviravolta interessante na história do projeto foi que, enquanto a Volvo por anos deu crédito ao desenhista italiano Pietro Frua -da Ghia- como o criador do P1800; o trabalho na verdade foi feito pelo aluno de Frua e filho do próprio Petterson, Pelle Petterson. A Volvo só reconheceu isso em 2009.

Os primeiros protótipos foram feitos entre 1957 e 1958, um dos quais foi dirigido por Helmer Petterson até a Alemanha Ocidental, para a sede da Karmann em Osnabruck. Foi lá que Petterson esperava começar a ferramentaria e a construção do veículo. O projeto sofreu um grande revés, no entanto, quando a Volkswagen não gostou nada e impediu a Karmann de assumir essa tarefa. Naturalmente, eles estavam com medo de que este P1800 competisse com seus próprios modelos.

Nos anos que se seguiram, a Volvo quase desistiu do projeto, recusando outros potenciais fabricantes alemães, o que frustrou Petterson. Outras empresas alemãs -como NSU , Drautz e Hanomag- foram contatadas, mas nenhuma foi escolhida, porque a Volvo não acreditava que elas atendiam aos padrões de controle de qualidade de fabricação da marca. No final, ele tentou fazer com que investidores o apoiassem, a ponto de conseguir as peças necessárias na Volvo e concluir o projeto sozinho. Vazamentos subsequentes de imagens do carro forçaram a Volvo a repensar, e eles finalmente mostraram o carro no “Brussels Motor Show”, na Bélgica, em 1960. Foi um sucesso estrondoso, e um fabricante do Reino Unido foi finalmente considerado pronto e capaz de tornar o P1800 uma realidade.

O P1800 foi fabricado a partir de 1960, como ano-modelo 1961, todos montados na fábrica da Jensen Motors em West Bromwich, Inglaterra. A produção mais tarde, em 1963, voltou para a Suécia. Os modelos foram construídos como um cupê de duas portas ou uma wagon esportiva, também de duas portas. O primeiro motor usado foi o “Bensin 1800” abreviado para B18 (“bensin” significa gasolina, em sueco), que usava aquekes amaldiçoados carburadores SU e um conjunto exclusivo de cinco mancais de virabrequim, produzindo 100 cv.

A produção inicial do P1800 foi de cerca de 6.000 unidades na fábrica do Reino Unido, antes que a Jensen Motors começasse a ter problemas para manter os padrões de qualidade exigidos pela Volvo. A produção foi então transferida para a Suécia e novas versões do P1800 surgiram, como o 1800S, 1800E e 1800ES.

Volvo 1800S

O “S” significava “Sverige” (em inglês, “Suécia”). Os 1800S inicialmente carregavam o mesmo motor B18, mas com algumas pequenas modificações para adicionar cerca de 8 cv ao seu currículo e atingir a velocidade máxima de cerca de 175 km/h. O P1800 também apresentava uma função overdrive em alguns modelos, no entanto, que poderia levar a velocidade máxima mais perto dos 190 km/h, bem interessante para a época.

Um novo motor foi criado para o modelo 1800S de 1969, o B20B. Como o nome sugere, este era um motor de 2 litros, que aumentava a potência para 118 cv. Embora o novo motor fosse uma significativa melhoria, ele ainda estava muito longe de um esportivo marcante. 

Volvo 1800E

O “E” era uma adição popular aos nomes de carros por volta da década de 1970, e o Volvo 1800E de 1970 não foi exceção. Significa “Einspritzung” ou “injeção de combustível” (esse era o “E” que aparecia em muitas Mercedes…). O 1800E apresentava um novo sistema de injeção de combustível D-Jetronic desenvolvido pela Bosch em seu também novo motor B20E. Esta unidade podia gerar até 130 cv sem perder nada em termos de economia de combustível em relação ao modelo B20 anterior. O 1800E também foi conhecido por abandonar os freios a tambor traseiros em favor dos freios a disco nas quatro rodas.

Volvo 1800ES 

Em 1972, o mundo conheceu um tipo bastante diferente de carro esportivo, com o desenho da station wagon 1800 ES de duas portas. Ele ganhou um motor menos potente, de 125 cv, mas não perdeu nenhuma das características únicas de visual e inspiração de carro esportivo italiano. A história desse modelo no mercado americano foi infeliz (era muito pequena para aquele mercado), e a Volvo não conseguiu encontrar nenhuma justificativa razoável para investir mais na modificação dos seus modelos para se adequarem às regulamentações de segurança em meados da década de 1970. A wagon 1800ES teve produção curta, entregando apenas 8.000 unidades em dois anos. No mercado internacional, este o modelo mais barato da linha P1800, mas ainda é mais valioso do que outros carros clássicos acessíveis, em especial na Europa. 

Para o último ano, 1973, apenas a wagon ES foi fabricada. A produção total da linha 1800 de 1961 a 1973 foi de 47.492 unidades e o carro deixou a linha de montagem pela última vez em 27 de junho de 1973.