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MORREU MARCUS ZAMPONI, MORREU PARTE DO NOSSO AUTOMOBILISMO

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Era um dia qualquer de 1983, 30 anos atrás. Eu, devorador de revistas de automóveis e ainda dando os primeiros passos no jornalismo, recebi um convite para um evento qualquer, e o anfitrião era um dos meus ídolos da máquina de escrever: Marcus Zamponi. Adorava seus textos sobre automobilismo, repletos de humor, informação e absolutamente impecáveis gramaticalmente.

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Conversamos muito, e em momento algum ele se mostrou arrogante ou dono da verdade, comum aos jornalistas mais velhos da época. Mais uma semana e veio o convite dele para eu cobrir uma corrida da Stock em Goiânia. Estava me testando. E na semana seguinte, eu já era seu “foca” na então excepcional revista Autoesporte, que realmente se dedicava ao automobilismo. Trabalhamos juntos uns três anos, numa equipe que tinha o Raul Machado, Roberto Marks e Márcio Fonseca. Estes foram meus professores no jornalismo, e o Zampa foi o mestre. Essa amizade durou até ontem, quando o Gordo nos deixou. Vai continuar de outra forma.

Impossível contar todas as histórias ouvidas ou vividas com ele. Odiava saber, por exemplo, que meu irmão (“Viado”, segundo ele), sabia de seu passado como coroinha no Rio de Janeiro. Tudo valia uma história e muitas risadas. Falamos recentemente, ele afastado do meio que tanto gostava por motivos de saúde. Mandou para mim os textos -fantásticos- de um livro que queria publicar. Mais adiante, soube que estava com problemas financeiros. Rapidamente reuni alguns amigos, e lembro que um ex-piloto de Fórmula 1 simplesmente me disse: “passe a conta dele”. Tentei, mas foi o suficiente para ele pegar o telefone e destilar todo seu repertório de palavrões em cima de mim. Finalizou dizendo: “só quero trabalhar, se a coisa ficar mais preta, te aviso, seu filho da p….”.

Se você é apaixonado por automobilismo, com certeza foi leitor de Marcus Zamponi, jornalista único e que deve servir de referência aos escribas atuais. O Zampa ajudou a formar muitos dos jornalistas do setor e fotógrafos hoje em atividade.

Chegou ao jornalismo por que, segundo ele mesmo era “tarado por automobilismo”, categoria que, ainda segundo ele, era mais importante que a de “filósofos de beira de guard rail”. Chegou a trabalhar na March nos anos 1970, e dessa sua passagem pela Europa ficaram histórias que não devem ser contadas. Depois veio sua passagem pela Autoesporte, assessoria de imprensa da Yamaha, assessoria a mais importantes marcas e muitas outras atividades. Cansei de chegar à redação e encontrar pilotos esperando por ele, para pedir uma “canja” na revista: Piquet, Senna, Moreno….

Essa genialidade se foi, mas deixou uma longa e invejável produção jornalística e, se Deus ajudar, o livro para perpetuar seu trabalho. Para finalizar, numa história típica do Zampa. Estávamos andando por Interlagos, quando ele apontou um veterano e famoso ex-piloto. Fomos falar com ele. O Zampa foi recebido com festa, e me apresentou: “Esse é o Caruso, dono da revista AUTO&TÉCNICA. Conhece a revista?”. O ex-piloto disse que não, e o Zampa desferiu. “Ele também não te conhece, você era uma merda de piloto”…

Amigo, irmão, brother (como ele dizia). Vou sentir falta de sua amizade. Até um dia, e não apronta muito aí em cima. Essa brincadeira não teve a menor graça.

Ricardo Caruso


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