TESTE Fiat Pulse Abarth Turbo 270
AUTO&TÉCNICA testou o Pulse Abarth, e isso foi realmente muito divertido. Tão divertido a ponto de programarmos que este modelo em breve estará alegrando nossa garagem. Só falta conseguir os R$ 150 mil pedidos por ele, mas isso é um detalhe. Com 75 anos, a Abarth -criada pelo italo-austríaco Carlo Abarth e Guido Scagliarini e Armando Scagliarini se tornou uma espécie de AMG da Fiat. Há dois anos a Abarth, impulsionada pela Stellantis, foi apresentada aqui por meio de um reality show, algo que não faz jus à sua história, mas por outro lado também chegou fornecendo motores para a Fórmula 4.
por Ricardo Caruso
Trata-se do primeiro SUV que leva a assinatura Abarth; o segundo é o Fastback. Foi desenvolvido e é produzido em Betim,MG. As primeiras lembranças da Abarth no Brasil vem dos anos 1960, com os Simca Abarth que correram por aqui; depois em 2002, como a versão mais potente do Fiat Stilo e, em 2014, com algumas unidades importadas do 500 Abarth. A história da marca é alimentada pela incontrolável paixão de Carlo Abarth pelas corridas, que tinha muito talento para transformar carros comuns em modelos avassaladores. Claro que Carlo não teve participação direta na preparação dos Pulse e nem dos Fastback, nem dos Stilo e 500 que citamos e que ostentam seu sobrenome, pois faleceu em 1979. Mas nenhum deles faz feio. No caso dos Pulse e Fastback nacionais, muito pelo contrário: são carros entusiasmantes.
A Stellantis trata a Abarth como uma marca independente, mas a ligação com a Fiat é indiscutível. A rede de concessionárias Abarth está planejada para ter 60 pontos de vendas dentro de revendas Fiat, afinal é um produto de nicho, e não de volume. Cada uma dessas concessionárias tem uma área exclusiva , com toda a identidade visual da marca e equipes exclusivas treinadas para as vendas do modelo. São reconhecidas pelo emblema Abarth. Cada ponto desses uma tem um emblema Abarth na fachada e decoração externa. Vendem também acessórios e produtos Abarth Wear, a grife da marca.
O entusiasmo pelo Pulse Abarth, modelo sem opcionais, começa na forma sedutora com que o carro é apresentado. Equipado com o motor Turbo 270, traz mimos como escapamento (felizmente ruidoso) esportivo duplo, central multimídia com tela de 10,1 polegadas, paddle shifters junto ao volante para trocas de marchas, sistema de frenagem automática de emergência, freio de mão elétrico com Auto Hold, carregador sem fio para o smartphone, comutação automática de faróis e alerta de mudança de faixa, entre muitos outros recursos. Também estão disponíveis o ar-condicionado automático, faróis em LEDs, alerta de colisão, alerta de saída de faixa, chave presencial com partida remota e partida por botão. As pedaleiras em alumínio são bonitas e completam o jeitão esportivo do carro.
A receita da Fiat na decoração de seu mais interessante esportivo atual foi ousada. Apesar de parecer simples, existe uma dificuldade natural em pegar um SUV compacto familiar e transformá-lo em um pequeno e valente esportivo. O Abarth traz detalhes em vermelho, cor característica de carros esportivos e esportivados no Brasil, sem que se saiba bem o porquê. Tem ainda rodas Racing de 17 polegadas, exclusivas da série, com pintura preta e acabamento diamantado, menor peso, maior largura (sete polegadas) e calotinhas Abarth (tecnicamente chamadas de center caps…) e interior escurecido.
Há grandes adesivos nas laterais; nos carros não vermelhos há um friso nessa cor no para-choque dianteiro (no vermelho o friso é em preto brilhante); os emblemas do escorpião da Abarth não podem faltar e estão na grade (que exibe também a bandeirinha da Itália estilizada, chamada de “Fiat Flag”) e para-lamas dianteiros, mais o letreiro ABARTH na traseira. O símbolo do escorpião está presente em 13 pontos do carros, e além dos oito já citados (frente, traseira, para-lamas e calotinhas), aparece nos encostos dos bancos dianteiros, centro do volante, plaqueta no painel e em uma etiqueta na coifa da alavanca de câmbio.
Na dianteira do SUV há ainda um aplique superior com textura de fibra de carbono e grade em preto brilhante com abertura de ar de maior eficiência. Também traz elementos para melhorar a aerodinâmica, como o para-choque frontal mais baixo e largo, com air curtains (tomadas de ar com função aerodinâmica) nas extremidades. No teto, atrás, traz a antena tipo shark, e o para-choque traseiro tem defletor de ar com escapamento com ponteira dupla de três polegadas e ronco mais estridente, característico da marca.
Os bancos são revestidos de material sintético preto que imita couro (não existe couro ecológico, ou é couro ou não é), com apoio de braço entre eles, e tanto os bancos como o volante revestido trazem pespontos vermelhos, assim como a coifa do câmbio. Evidenciando o acabamento esportivo do SUV, há um friso vermelho no painel e a letra “E” do logo Pulse na traseira também é nessa cor. Para completar, o console tem bons espaços com porta-objetos.
Já os instrumentos, com cluster digital, é personalizável, traz os grafismos esportivos característicos Abarth e informações como pressão do turbo, força G e potência na tela principal. O modelo está disponível nas cores Branco Banchisa, Cinza Strato, Vermelho Montecarlo (a avaliada) e Preto Volcano, com detalhes externos em vermelho; no Vermelho Montecarlo esses detalhes são em preto ou cinza. A central multimídia é de 10,1 polegadas, com o “Connect Me”, que é uma plataforma de serviços conectados com mais de 30 funcionalidades. O motorista pode acessas informações do seu veículo, como diagnósticos ou a localização do carro pelo smartphone, smartwatch ou assistentes pessoais, como Alexa ou Google Assistant.
O Pulse Abarth possui câmbio automático de seis velocidades convencional, não CVT, de funcionamento silencioso e com engates precisos e rápidos. O motor Turbo 270 tem potência máxima (com etanol) de 185 cv e torque máximo de 270 Nm (27,5 mkgf); o “270” do sobrenome do carro é referente ao torque. A calibragem do motor busca o melhor desempenho (claro que colocaríamos mais 15 cv, modificando o turbo, escapamento, filtro de ar e mapeamento, para arredondar o número para 200 cv). Mas com 185 cv, já é o SUV compacto mais rápido do Brasil, acelerando de zero a 100 km/h em 7,6 segundos e com velocidade máxima de 215 km/h (abastecido com etanol). A relação peso/potência é boa, de 6,9 kg/cv; o carro pesa 1281 kg. A diversão é garantida em qualquer situação, e o motorista fica entupido de adrenalina com facilidade.
O consumo pouco importa num esportivo. Mesmo assim os números estão dentro da normalidade, levando em conta as calibragens que o carro recebeu. Com etanol, fizemos 6,6 km/litro (cidade) e 9,2 km/l (estrada), e com gasolina, marcamos 10,6 km/l (cidade) e 12,8 km/l (estrada).
Este Abarth é equipado com rodas mais largas (sete polegadas, contra seis polegadas do Pulse normal) calçadas com pneus 215/17 (205 nos demais), para ajudar a ter mais estabilidade e aderência. Não adiantaria nada aumentar a potência sem otimizar a estabilidade, ainda mais com o modo “Poison” disponível, como veremos mais adiante. Um esportivo que só ande bem em retas não é um esportivo. Para contornar curvas com mais rapidez e segurança, molas e amortecedores foram recalibrados e são 13% mais firmes que os de um Pulse normal; a barra estabilizadora é mais grossa, com 20 mm, o que inibe um pouco a rolagem da carroceria; a altura para o solo é de 217 mm (no Pulse não-Abarth é de 224 mm) e o eixo traseiro é 15% mais rígido, exclusivo do Abarth.
A direção, com assistência elétrica, foi recalibrada e é mais rápida e precisa, mas caberia um pouco mais de peso acima dos 140 km/h. O sistema de freio também foi ligeiramente modificado, e continua com tambores na traseira, adequados à proposta do carro; freios a disco na traseira teriam custo mais alto e apenas melhorariam um pouco a dissipação de calor.
O SUV tem na prática três modos de condução disponíveis: Normal, Manual e “Poison” (veneno -no caso alusão ao escorpião-, em inglês, acionada pela teclinha vermelha junto ao volante), exclusivo da marca, que traz respostas rápidas e mais diversão ao dirigir. Enquanto nos demais 1.3 turbo o câmbio é programado para aproveitar o torque em baixas rotações, no Pulse Abarth ele insiste em atuar sempre em marchas mais baixas, mesmo apenas resvalando no acelerador. Com isso deixa a sensação de que está sempre animado, pronto para encher seu motorista de orgulho. O acelerador oferece programação também mais direta e rápida. Na situação “Poison”, o mapeamento do acelerador permite atingir a mesma velocidade em apenas 60% do tempo quando comparado com o modo Normal. Nas soleiras das portas há um adesivo com a inscrição “Pick your poison” (“Escolha seu Veneno”, em inglês).
O modo Poison surpreende, com a cor da instrumentação mudando para vermelho e alterando a carga da direção, com progressão mais acentuada em velocidades mais elevadas. Também há uma alteração na distribuição do torque que chega às rodas em curvas, deixando o veículo mais agressivo nessas manobras. Ainda permite comportamento mais esportivo do câmbio, com trocas mais rápidas e redução automática das marchas em frenagem, o que auxilia como freio-motor e antecipa o engate da marcha mais apropriada nas retomadas. Os controles de tração e estabilidade atuam menos, permitindo uma condução ainda mais esportiva do carro.
Em termos de segurança e tecnologia, o “pacote” deste Pulse Abarth é bom. Traz diversos itens de série, que em outros modelos da sua categoria são oferecidos apenas como opcionais, e conta com quatro airbags na dianteira, frontais e laterais, para motorista e passageiros de série. O comprimento é de 4115 mm, o entre-eixos de 2532 mm, a largura de 1777 mm e a altura de 1544 mm;o porta-malas tem capacidade de 370 litros.
CONCLUSÃO
O Pulse Abarth traz um projeto bastante interessante. Nada de esportivos apenas de emblemas ou faixinhas decorativas. Esse modelo tem comportamento de esportivo raiz. Ao mesmo tempo em que você tem um carro divertido de usar e acelerar no dia a dia, sem passar vergonha, ele traz as as vantagens de um SUV, como bom espaço interno e capacidade de enfrentar lombadas e valetas sem deixar spoiler, saias e defletores pelo caminho. É o melhor de dois mundos. Para a geração de “enzos”, faltam os freios a disco na traseira; para quem busca mais sofisticação, um sistema de áudio de melhor qualidade. De resto, tudo certo com o Pulse Abarth.
Enfim, o Pulse Abarth só não foi uma surpresa absoluta porque recentemente havíamos avaliado o Fastback Abarth, também muito bom. Ninguém acredita na sua capacidade esportiva, até acelerar um. É o típico caso de “comprou um esportivo, levou um esportivo”. O mercado brasileiro carece de esportivos assim, e não apenas esportivos que trocaram os emblemas para iludir os compradores… Como nos bons tempos de Passat TS, Dodge Charger R/T, Maverick GT, Opala SS, Gol GT e tantos outros que fizeram história.