TESTE: Fiat Fastback Abarth
A Abarth é uma clássica e legendária fabricante italiana de carros de rua, carros de corrida e de preparação, fundada pelo engenheiro ítalo-austríaco Carlo Abarth, Guido Scagliarini, piloto italiano, e Armando Scagliarini, em 1949. Hoje a marca pertencente a Stellantis e seu logotipo é um famoso escorpião estilizado num fundo amarelo e vermelho.
por Ricardo Caruso

Nascida como uma equipe de corrida, com foco na produção de automóveis esportivos equipados com pequenos motores, fez sucesso também com sistemas de escapamento, produzidos para a preparação de diversos modelos e marcas de automóveis, como a Fiat, Alfa Romeo, Lancia, Simca, Autobianchi e Porsche.

Depois de passar a ser assumida pelo grupo Fiat Chrysler Automobiles, a empresa hoje é 100% controlada pelo grupo Stellantis. Relançada a partir de 2007, a empresa dedica-se à produção e comercialização de versões esportivas de automóveis Fiat com a marca Abarth, inclusive elétricos.

Em março de 2022 a Stellantis anunciou a decisão de introduzir a marca Abarth no mercado brasileiro tendo como base o Pulse, primeiro SUV nacional da Fiat, lançado em outubro de 2021. O visual deste novo Abarth foi revelado durante um reality show e, em agosto do mesmo ano, surgiu como carro-madrinha da Fórmula 4 em Interlagos.

Todo desenvolvido no Brasil, em novembro de 2022 foi oficialmente lançado, com o nome Pulse Abarth, anunciado como “o primeiro SUV da marca Abarth no mundo”. Usa a mesma carroceria do Pulse, mas com para-choques especiais, faixas decorativas, novo motor com potência máxima de 185 cv, o logotipo da Abarth em vários pontos e outras modificações.

Mas na memória dos brasileiros, a marca Abarth é mais antiga, e não ligada à Fiat. Quando a Simca francesa nos anos 1960 decidiu criar uma versão mais rápida do modesto modelo 1000, a marca não pensou duas vezes e recorreu aos serviços de Carlo Abarth. O acordo ditava que a Abarth faria alguns protótipos baseados no Simca 1000, e o resultado no final foi algo bem diferente do carro original: o Abarth Simca 1300, produzido entre 1962 e 1965.

Com nova carroceria muito mais aerodinâmica (e de visual mais esportivo), novo motor —o pequeno 900 cm3 de 35 cv deu lugar a um 1.3 de 125 cv— sendo que do 1000 sobrou pouco mais que o chassi, suspensão e direção, uma vez que os freios passaram a ter disco nas quatro rodas, acabou surpreendendo. O resultado foi um pequeno esportivo com apenas 600 kg (menos 200 kg do que o Simca 1000) capaz de atingir impressionantes 230 km/h. A este seguiram-se ainda os 1600 GT e 2000 GT sendo que o último contava com motor 2.0 de 202 cv, que permitia atingir os 270 km/h.




Foram trazidos para o Brasil três desses carros, os chassis nºs 136/0080, 136/0085 e 136/0090, na condição de “carros de teste”, ou seja, deveriam permanecer no País por um determinado tempo e depois disso retornarem à origem. Chegaram em 1964, venceram muitas provas e retornaram para a Europa em 1965.

De volta para os dias atuais, a Abarth aumentou sua linha de esportivos no Brasil com a estreia do novo Fiat Fastback Abarth 2024, que passa a ser o segundo SUV das marcas Fiat e Abarth. O preço é competitivo, de R$ 160 mil. O novo Fastback Abarth fica posicionado no topo da linha do SUV cupê, com visual dignamente esportivo e diversos detalhes interessantes para se afastar do Fastback Limited Edition Powered by Abarth apresentado no lançamento do modelo. O Limited Edition ficou mais barato com a chegada do Abarth.





Podemos dizer que o Abarth é um carro literalmente “envenenado”, um Fastback picado pelo escorpião. Tem estilo diferentão e mais moderno, motor 1.3 turbo dos demais Fastback, o T270. Os números são os mesmos, com 180 cv (gasolina)/185 cv (etanol) a 5.750 rpm e 27,5 mkgf a 1.750 rpm, excelentes e surpreendentes nesse motor, com variador de fase no escapamento e sistema MultiAir (variador de fase e abertura) na admissão e injeção direta. O câmbio automático de seis marchas também não muda, com as mesmas relações já usadas no Fastback T270.

O Fastback Abarth tem visual mais discreto que o Pulse Abarth, saída de escapamento dupla (uma ponteira em cada lado), ronco animador e rodas de 18 polegadas, que são opcionais no Pulse. A receita de preparação é a mesma para ambos, com ajustes na direção, suspensão e outros detalhes para justificar a assinatura Abarth, e não apenas o sobrenome “by Abarth”, ainda em produção.

As mudanças feitas para o Fastback ser um Abarth são as mesmas feitas no Pulse. Não há uma mudança estrutural na plataforma MLA da Stellantis usada em ambos, mas todo o conjunto de suspensão é específico, com molas e amortecedores até 20% mais rígidos, barra estabilizadora mais grossa, eixo traseiro específico, altura 5 mm mais baixa e caixa de direção mais direta. A geometria e alinhamento da suspensão dianteira também foram retrabalhados.

O Fastback Abarth não seguiu a receita exagerada do visual do irmão menor, e isso acabou dando um bom resultado. Nada de faixas laterais e grandes escorpiões pela carroceria. O SUV cupê é mais discreto na roupagem Abarth, por ser um carro que por si só chama atenção pelo estilo e porte. Discretos detalhes em vermelho (frisos nas rodas, painel e grade, e pespontos nos revestimentos internos), e elegantes logos na grade, para-lamas dianteiros e tampa traseira, mais alguns no interior.

Como o Fastback já usava o motor 1.3 turbo desde o lançamento, não foi preciso fazer nenhum ajuste no sistema de freios, que continua com discos ventilados de 305 mm na dianteira e tambores na traseira, tudo suficiente para a proposta do carro. As rodas de são de liga-leve aro 18, pretas com a borda vermelha e 7,5 polegadas de largura, calçadas com pneus, 215/45.

Por dentro, o ambiente é bastante semelhante ao Pulse Abarth, com os bancos em material que imita couro preto com costuras vermelha, uma placa de identificação no painel e revestimento do painel em tecido imitando fibra de carbono. O grupo de instrumentos é uma tela digital de sete polegadas com grafismos exclusivos Abarth e indicadores de acelerômetro e pressão do turbo. Ao centro do painel, mais uma tela central, desta vez do multimídia e controles diversos, de 10,1 polegadas.

O que muda na calibragem geral do carro é o acerto eletrônico, em especial do câmbio. Mesmo usando o Abarth no modo normal, é fácil perceber a programação mais rápida de atuação do câmbio automático, bem mais esperto. Tudo programado para manter o Fastback “aceso” por mais tempo, em especial para quem gosta de acelerar.

Mesmo sendo um carro esportivo, tem dupla personalidade e pode ser usado tranquilamente no dia a dia. Não é desconfortável, apesar da assinatura esportiva sugerir isso; o Fastback Abarth não é desconfortável e nem duro, e mesmo sendo ligeiramente mais baixo, mantém boa altura em relação ao solo. O câmbio de ações rápidas e o ruído grave do escapamento em nada incomodam O consumo fica dentro do esperado, ainda mais para um esportivo: marcamos 8,8 km/litro (etanol) na cidade, e 12,4 km/litro na estrada. Se abusar do acelerador, claro que esses n´meros despencam.
O Fastback tem 4.427 mm de comprimento, maior que o Jeep Compass por exemplo, que tem 4.404 mm, mas está longe de ser um SUV grande. Tem a mesma largura do Pulse (1.774 mm), o mesmo entre-eixos (2.533 mm) e, sem o rack no teto chega a ser mais baixo (1.545 mm). O porta-malas tem bons 516 litros de capacidade.

O Fastback oferece boas experiências ao volante. A direção precisa, o powertrain bem ajustado e a suspensão mais firme fazem a diferença. Mas há um extra: o modo Poison, “veneno” em inglês, acionado por uma teclinha vermelha no volante. Como mágica, o acelerador fica mais sensível e o câmbio, que já era esperto, se torna ainda mais velhaco. E as trocas de marchas são acompanhadas de “pipocadas” no escapamento e o controle de estabilidade fica mais atuante.

Ele acelera de zero a 100 km/h em 7,8 segundos, marca muito boa, chega aos 100 km/h e não para por aí, pois segue firme e forte até os 220 km/h. Lembre-se: estamos falando de um motor 1.3…

CONCLUSÂO
Vale a pena pagar R$ 160 mil (não tem opcionais) por ele? A resposta é sim, vale. É um autêntico esportivo, bem diferenciado do restante da linha, entra e sai bem de curvas, tem suspensão mais firme e menos rolling (inclinação da carroceria em curvas), e o motorista se sente a vontade para colher boas doses de emoção ao volante.

O Fastback Abarth é um carro que não esconde ter sido picado pelo escorpião e que se deu muito bem com o veneno da Abarth, divisão que estava quase esquecida há alguns anos e que a Fiat e a Stellantis acertaram em grazer para o Brasil. Os dois Abarth disponíveis são excelentes, chamam atenção e entregam o que sugerem visualmente. Uma boa maneira de ter um esportivo diferente dos “esportivos de shopping center” que de vez em quando aparecem no mercado. Não é exatamente barato, como nenhum carro no Brasil o é, mas não decepciona no investimento.