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O “piloto-automático” foi inventado por um cego há 78 anos

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Hoje os carros estão repletos de funções que há alguns anos não seriam sequer sonhadas. Alguns tem recursos tão avançados que surpreendem, enquanto outros já são comuns, que até passam despercebidos. O controle de velocidade de cruzeiro (também chamado apenas de controle de velocidade, piloto automático ou cruise control ) é uma daquelas funções que já são normais em carros minimamente decentes, e sua aplicação tem quase 80 anos.

por Ricardo Caruso

Como todos sabemos, o cruise control permite que o carro mantenha uma velocidade constante, sem ser necessário pressionar o acelerador. Por meio de atuadores elétricos, sensores e softwares de computador, o carro pode identificar quanta aceleração precisa para manter sua velocidade em aclives, declives ou superfícies planas, uma função muito útil em viagens longas, em estradas boas e com os demais motoristas respeitando as regras de trânsito. Essa combinação, no Brasil, nem sempre é possível.

Ralph Teetor patenteou o “speedostat”, o primeiro regulador de velocidade da história automotiva. O dispositivo calculava a velocidade do carro a partir do cabo de aço giratório do velocímetrom e usou um motor elétrico para acionar um parafuso bidirecional para ajustar o acelerador. O primeiro modelo a usar o sistema foi o Chrysler Imperial de 1958.

Este genial recurso é invenção de Ralph Teetor (1890-1982), um engenheiro e inventor americano que nasceu em uma família próxima da indústria automotiva, pois eles eram donos da Teetor-Hartley Motor Company.

Teetor desde criança demonstrou interesse pelo mundo da mecânica, porém, aos cinco anos de idade sofreu um acidente, em que machucou um olho com uma faca. Isso, com o passar do tempo, causou oftalmia simpática, condição que causa cegueira em ambos os olhos. Apesar disso, o gosto pela mecânica nunca parou. Continuou sua vida acadêmica até se formar em engenharia mecânica pela Universidade da Pensilvânia em 1912. E nos anos 1930 fez mestrado.

Nesse meio tempo, ele se juntou à empresa da família, a Perfect Circle Corporation, como engenheiro-chefe. Uma posição a partir da qual ele ajudou a melhorar os projetos da empresa, com sua sensibilidade de toque logo se tornando lendária em toda a fábrica. Sua filha uma vez lembrou como o pai sentiu uma diferença de cerca de 0,05 mm em alguns novos moldes. As peças foram conferidas e descobriu-se que Teetor estava certo. Nessa fase, patenteou várias invenções para as indústrias naval e automotiva.

CC

Sua ideia mais bem-sucedida foi a do cruise control, que surgiu de sua aversão ao mode de dirigir de seu advogado, Harry Lindsay, que ao iniciar qualquer conversa enquanto dirigia, inconscientemente soltava o acelerador, sem perceber quanta velocidade o carro perdia. Então, quando percebia, acelerava fundo de repente. Isso incomodava Teetor e foi o que o levou a pensar em um sistema que mantivesse constantemente a velocidade de um carro.

Em 1945, ele patenteou seu sistema. Após testes, medições e correções -e muitos nomes como Controlomatic, Touchomatic, Pressomatic, Speedostat…- a Chrysler decidiu adquirir e equipar seus carros, em seu antológico Chrysler Imperial. O Speedostat, como o controle de velocidade de cruzeiro acabou sendo chamado, foi patenteado com esse nome e formato definitivo em 1950. Mas ele só começou sua carreira comercial em 1958 em alguns modelos da Chrysler, começando com a Imperial, como um opcional batizado de “Auto Pilot”, por US$ 86. Mais tarde, o mesmo sistema foi usado pela Cadillac 1959, com o nome de “Cruise Control” (abaixo), que foi generalizado. O funcionamento era controlado com o pedal do acelerador, um botão e um controle com o qual a velocidade em que você queria viajar era selecionada. Para desativá-lo bastava acelerar um pouco mais ou frear, por isso era fácil e rápido de operar.

Hoje a maioria dos carros traz essa tecnologia, embora, é claro, com melhorias tanto no hardware quanto em softwares mais avançados, que com a evolução da eletrônica e ajuda de câmeras e sensores podem até mesmo regular a velocidade de acordo com a distância que temos com o carro à nossa frente.


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