Um supercampeão chamado Michael Schumacher
O piloto alemão Michael Schumacher fez 53 anos no dia 3 de janeiro, e isso não pode ser comemorado como ele merecia. Para nós, é uma oportunidade para homenagear um campeão “fora da curva”, incomum. Se colocarmos em discussão Lewis Hamilton, Ayrton Senna e Michael Schumacher, não será possível chegar a alguma conclusão sobre quem merece o título de maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. Vamos recordar aqui algumas corridas que ajudam a explicar os sete campeonatos de Fórmula 1 de Schumacher.
por Ricardo Caruso
GP da Bélgica (1992)
Nada mais justo do que começar pela primeira vitória, no GP da Bélgica, disputado em Spa-Francorchamps, na mesma prova onde no ano anterior tinha começado a sua carreira na Fórmula 1. Em terceira posição na largada, Schumacher largou mal e foi ultrapassado por Riccardo Patrese e Jean Alesi. A chuva começou e a corrida se decidiu pela escolha, acertada ou não, dos pneus. Ayrton Senna, que seguia na frente, manteve os pneus slick, apostando numa rápida melhoria das condições. Mas a chuva não parou e Senna foi ultrapassado pelas Williams de Nigel Mansell, Patrese e por Schumacher, todos com pneus de chuva. A 15 voltas do fim, o alemão saiu da pista, o que exigiu a troca dos pneus para “slick”, fazendo assim a mesma aposta que Senna fez antes, já que a meteorologia dava sinais de melhora, mas desta vez a apósta foi no tempo certo. A pista ficou mais seca, e quando a Williams pediu aos seus pilotos para irem ao box trocar de pneus, já era tarde: Michael Schumacher seguiu para a primeira das suas 91 vitórias!
GP da Bélgica (1995)
Em 1995, a história de 1992 não se repetiu, mas quase. O palco era a Spa-Francorchamps, a chuva modificou novamente a corrida e Schumacher acabou vencendo de novo! Mas desta vez a vitória foi ainda mais improvável. Largou na 16ª posição, com pneus “slick” enquanto os demais pilotos apostaram nos pneus de chuva. Schumacher foi ganhando posições, até chegar ao primeiro lugar! E mesmo quando as ameaças de chuva se concretizaram, o Benetton-Renault permaneceu com pneus lisos, obrigando Schumacher a defender a sua posição até o limite, diante dos ataques incansáveis de Damon Hill, com pneus de chuva. Mas, no final, ganhou Schumacher!
GP da Europa (1995)
Na mesma época, no circuito de Nürburgring. Jean Alesi, com a Ferrari número 27, fez uma escolha de pneus acertada, permitindo ao francês o comando da corrida. Alesi fez apenas uma parada no box, e Schumacher três, a última das quais na 40a. volta, quando também trocou de pneus. Enquanto Alesi continuava na pista com os mesmos pneus, já desgastados, Schumacher regressou à pista com pneus novos, 22.3 segundos atrás da Ferrari, faltando 15 voltas para o final. Impossível? Estamos falando de Michael Schumacher! Volta após volta, tirando mais de dois segundos a cada passagem, o Benetton-Renault do alemão conseguiu alcançar a Ferrari do francês e, a três voltas do fim, Schumacher ultrapassou Alesi na chicane antes da reta de chegada.
GP da Espanha (1996)
Esta foi considerada uma das melhores corridas da carreira de Michael Schumacher: o GP da Espanha de 1996, disputado debaixo de chuva. A corrida começou mal para Schumacher, caindo da terceira posição obtida nos ytreinos de classificação, para a sexta posição no fim da primeira volta. Jacques Villeneuve liderava, seguido de Alesi que, na quarta volta, faz o melhor tempo, 1m51.673s. Mas na volta seguinte, Schumacher, em quarto, respondeu com um recorde de 1:50.568, um segundo mais rápido que Alesi na volta anterior e dois segundos mais rápido que o líder da corrida! Na 6ª volta, bateu um novo recorde: 1:49.045! Schumacher estava definitivamente em outro nível, chegando logicamente à liderança da corrida, sendo mais rápido de 3 a 4 segundos que a Williams-Renault, carro bem mais competitivo, de Villeneuve. Na sua primeira vitória com a Ferrari, “Schumi” tornou-se claramente um mito.
GP de Mônaco (1997)
Se em 1996 Schumacher tinha abandonado a prova nas ruas do principado, em 1997 a história foi outra. A chuva no domingo embaralhou as contas; na largada, alguns pilotos escolheram pneus de chuva e, outros, pneus “slick”. Schumacher, acreditando que iria contar com a chuva, sua melhor aliada, optou pelos pneus de chuva. Qualificado na segunda posição, ao lado do “velho amigo” dos tempos da Fórmula 3 e da Mercedes, Heinz-Harald Frentzen, que conquistara a sua primeira pole, Schumacher tirou partido da sua escolha de pneus e largou melhor que seu compatriota, passando a liderar a corrida. Mas foi o domínio da corrida que faz com que esta seja uma das melhores corridas de Schumacher. Conclui a primeira volta já com mais de seis segundos de vantagem sobre Fisichella então segundo. Na terceira volta, a vantagem superava os 15 segundos! O alemão venceu com mais de 53 segundos de vantagem sobre Barrichello. A primeira vitória de uma Ferrari nas ruas do Mônaco desde 1981 (então com Gilles Villeneuve).
GP do Japão (2000)
Pouco tempo antes do trágico acidente de ski, questionado sobre qual foi a corrida que mais o marcou, Schumacher respondeu que foi o GP do Japão em 2000. A corrida em que conquistou o seu terceiro título, o primeiro com a Ferrari, que não via um piloto seu sagrar-se campeão do mundo desde Jody Scheckter em 1979! Mas as coisas não tinham começado bem. Schumacher precisava fazer dois pontos a mais do que Mika Hakkinen, se quisesse ser campeão. Mas a McLaren do finlandês seguiu num ritmo elevado, e Schumacher não vislumbrava sequer a possibilidade de ultrapassagem, até que a chuva surgiu. Enquanto Hakkinen foi para o box, Schumacher acelerou em ritmo de treino e, quando chegou a sua vez de trocar de pneus, saiu à frente do finlandês. Schumacher conquista o primeiro lugar da corrida, o título e o coração de milhões de italianos.
GP da França (2004)
“É sempre o mesmo que ganha!”, ouvia-se em 2004, tal era o domínio da dupla Ferrari/Schumacher nos últimos anos. Mas mesmo essa época não deixa de ter motivos de interesse, como o GP da França. Fernando Alonso largou na pole position, nas terras da Renault, seguido por Schumacher, que não conseguiu ultrapassar o piloto espanhol. A Ferrari mudou então a estratégia de três paradas, tal como a Renault, para quatro paradas, estratégia nunca vista! A aposta: enquanto Alonso desgastava os Michelin ao máximo entre paradas, Schumacher aproveitou as características dos Bridgestone. Assim, o piloto alemão parou logo na 11ª volta, cedo demais para alguns. Alonso esperou mais um pouco. Quando ambos fizeram as três paradas, Schumacher já estava na frente, mas tinha que parar uma quarta vez. Schumacher, acelerando num ritmo infernal, conseguiu abrir espaço suficiente para sair do box pela quarta vez, ainda à frente de Alonso, e ganhou a corrida!
GP da China (2006)
O GP da China foi fundamental para Schumacher manter as suas chances do título de 2006. Mas o GP começou mal para o alemão, que largou na sexta posição. No momento da largada, numa pista úmida, Alonso segurou a primeira posição obtida nas qualificações. Por seu lado, Schumacher manteve o sexto lugar mas quando tudo parece perdido, o alemão não se entregou e lutou até o fim. Conseguiu chegar atrás dos dois Renault, de Alonso e Fisichella. Com a pista mais seca, o carro do espanhol já não conseguia seguir o ritmo forte e foi ultrapassado pelo seu colega de equipe e por Schumacher pouco depois. Só faltava ultrapassar então Fisichella para o alemão ganhar a corrida e pontos importantes para o campeonato. E assim foi: ultrapassou o piloto da Renault e ganhouy a corrida. Foi a 91ª e última vitória de Michael Schumacher na Fórmula 1.
GP do Brasil (2006)
O GP do Brasil de 2006 era, supostamente, o último de Michael Schumacher. Mas ele não podia se despedir da categoria que dominou por tanto tempo sem mostrar uma última vez o seu talento e determinação. Largando da 10a. posição, Schumacher começa a recuperar alguns lugares mas, na sua luta com Fisichella para o quinto posto, sofreu um furo de pneu que o obrigou a uma parada imprevista na 9a. volta. Regressou à pista na 20a. posição, a mais de 70 segundos do seu companheiro de equipe, Felipe Massa, que liderava a corrida. A partir daí, Schumacher realizou uma prova de recuperação que só estava ao alcance dos gênios, realizando ainda a volta mais rápida. Conclui a sua última corrida na quarta posição. Massa ganhou a prova, em casa. Alonso foi bi-campeão. Mas as atenções estavam todas voltadas para Schumacher!
GP da Bélgica (2011)
No GP da Bélgica de 2011, 20 anos depois da sua estreia, o agora veterano Michael Schumacher relembrou a todos o seu imenso talento. Depois de largar na última posição, consequência de um acidente nos treinos provocado pela perda duma roda, o heptacampeão do mundo foi ganhando posições, indo do 24º ao quinto lugar. Não ganhou, mas recuperou 19 posições, aos 42 anos e ao volante de uma Mercedes que ainda estava longe do nível das temporadas mais recentes, foi uma façanha absolutamente notável!
Foram 91 vitórias, sete títulos de campeão do mundo. Muitas corridas podiam ainda ser relembradas, muitas conquistas, muitas proezas. Por isso celebramos um inesquecível campeão, que enfrentou vários desafios e que foi capaz de vencer quando ninguém acreditava. Inclusive segue lutando até hoje pela sua vida, a vitória que todos querem comemorar um dia.