Estafette: a “Kombi” da Renault

Lançada em 1959, o Estafette foi um marco da Renault em matéria de veículos comerciais, tendo engrossado a frota de serviço de inúmeras empresas e comerciantes durante cerca de 20 anos, até 1980, quando saiu de linha. E foi um veículo notavelmente inovador, uma espécie de “Kombi” da marca francesa.

por Marcos Cesar Silva

Tudo começou em 1953, quando a Régie Nationale des Usines Renault lançou o projeto, na mesma época em que trabalhava também no nosso velho conhecido Dauphine (modelo que sucedeu ao Renault 4CV e que foi produzido na França de 1956 a 1967). Nesse sentido, embora este pequeno sedã de motor traseiro tivesse sido a base tecnológica do Estafette, com ele compartilhando inúmeros elementos técnicos, este furgão promoveu uma radical alteração técnica. Até então, a Renault nunca havia oferecido um veículo com motor dianteiro, nem mesmo para os seus modelos de passageiros.

O engenheiro Guy Grosset-Grange, encarregado do projeto, decidiu posicionar o motor Ventoux na dianteira pois, na sua perspectiva, essa era a opção mais racional para permitir liberar a parte traseira do veículo de todos os itens mecânicos, algo que possibilitaria baixar a altura do piso de carga, tornando o esforço de carregar e descarregar objetos mais fácil, o que atendia a uma aspiração dos clientes. Também para facilitar as cargas e descargas, a porta lateral era deslizante.

Além de ser o primeiro Renault com motor à frente, o Estafette foi concebido para competir com o Citroën Type H (1948) e o Peugeot D3A (1950), que tinham motor e transmissão posicionados na dianteira.

O motor inicial era do Dauphine, de 845 cm3 e 32 cv (motor Ventoux, e que teria no Estafette até então a maior cilindrada com que foi feito). Em maio de 1962, o modelo foi também o primeiro a receber o novo motor Renault “Sierra” (mais tarde apelidado de “Cléon-Fonte”, devido ao local onde era fabricado, e que foi desenvolvido por René Vuaillat), de quatro cilindros e 1.108 cm3 (45 cv a 4.500 rpm); depois este motor apareceu num carro de passageiros em junho de 1962, no Renault 8.

Em setembro de 1968, o furgão passou a usar motor de1.289 cm3, com um pouco menos de potência, 43 cv. Uma versão a diesel chegou a ser pensada, mas a ideia nunca avançou.

O Estafette atendeu todo o tipo de público, desde vendedores de sorvete a campistas, já que sua atrativa polivalência de uso derivava das versões em que era oferecido, incluindo uma com até 500 kg de capacidade. Atendia pelo nome de “Zone Bleue”, devido a uma especificidade francesa proveniente de uma lei de estacionamento que proibia a presença de veículos comerciais de mais de 500 quilos de carga útil nas cidades).

Outra versão era para 600 kg, com teto mais alto (com 2,21 metros de altura em vez de 1,93 metros), uma picape e o Microcar de nove lugares (este um micro-ônibus, com configuração 2+4+2+1). Em 1961, chegou a envidraçada versão Alouette, que se tornaria popular, por ser uma derivação do minibus com bancos removíveis, que se transformava facilmente num veículo de campismo.

Originalmente, o Estafette saía de fábrica apenas em quatro cores de carroceria, cinza, azul, amarelo e laranja.O fim da fabricação aconteceu na França em 1980, depois da Renault ter produzido 533.209 exemplares, sendo sucedida pela Trafic. Foi produzida também na Algeria (1965–1969), Romênia (1975-1978) e México (1964–1986).